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Ano Internacional dos Idiomas

Ano Internacional dos Idiomas

Julia Assef, da Rádio ONU em Nova York.

A Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura, Unesco, marca em 21 de fevereiro, o Dia Internacional da Língua Materna.

Neste mesmo dia, a organização inaugura o Ano Internacional dos Idiomas, proclamado pela Assembléia Geral da ONU.

A estimativa da Unesco é de que metade das mais de 6 mil línguas oficiais pode desaparecer. Segundo a organização, a cada duas semanas, uma delas deixa de ser praticada.

A coordenadora de cultura da Unesco no Brasil, Jurema Machado, falou à Rádio ONU, de Brasília, sobre formas de preservar estas línguas.

"Estimular o ensino em mais uma língua, estimular a presença da diversidade lingüística nos meios de comunicação, especialmente na Internet. Promover a publicação nas diversas línguas, enfim valorizar da língua em quaisquer ambientes e criar condições para isso", disse.

A língua portuguesa é falada por mais de 200 milhões de pessoas, distribuídas em oito países. Entre eles, Portugal, Brasil, Angola, Cabo Verde e Timor-Leste.

Variações

No entanto, cada país apresenta variações.

O professor de língua portuguesa da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Pedro Garcez, disse à Rádio ONU, de Porto Alegre, que o idioma falado no Brasil é resultado de uma mistura de influências.

"Durante toda a história de ocupação do território brasileiro, na formação daquilo que é hoje o Brasil, e portanto na disseminação da língua portuguesa no Brasil, nós tivemos sempre um contato lingüístico muito forte. Ou seja, o português esteve sempre em contato com outras línguas e foi sendo adquirido e disseminado", disse.

Crioulo

No caso das ex-colônias portuguesas na África e na Ásia, o português é a língua oficial, mas não a língua materna.

O embaixador de Cabo Verde nas Nações Unidas, António Monteiro Lima, falou à Rádio ONU, sobre a relação entre o crioulo de Cabo Verde e o português.

"O léxico é muito português, mas a estrutura gramatical da língua tem muito a ver com as línguas africanas. Então há aí um processo histórico, lento, lingüístico que faz com que o português misturando-se com estas várias línguas dá o crioulo", disse.

Com aproximadamente 12 milhões de habitantes, Angola fala mais de 20 línguas.

Vantagens do português

No entanto, muitas vezes, é a língua portuguesa que serve de veículo de comunicação entre os cidadãos. Como disse à Rádio ONU o adido de imprensa da Missão do país nas Nações Unidas, Xavier Rosa.

"Devido mesmo à inexistência de uma língua mais abrangente em todo o território, comunicamos em português quando temos que tratar determinados assuntos oficiais. Agora nos círculos mais restritos, com pessoas da mesma origem, podemos eventualmente falar num dialecto", disse.

Já no Timor-Leste, as línguas oficiais são o português e o tétum. No entanto, a língua portuguesa vem perdendo espaço. O país asiático foi anexado pela Indonésia na década de 1970. O embaixador do Timor nas Nações Unidas, Nelson Santos, contou à Rádio ONU, que os indonésios consideravam o português o idioma da resistência.

"Os indonésios consideravam o português como uma língua de resistência. Por isso, a geração que cresceu sob o regime indonésio foi forçada a não falar a língua portuguesa e isso teve um impacto enorme porque a maioria vivia nas cidades e nas vilas. Na resistência manteve-se o uso da língua portuguesa que era utilizada entre os guerrilheiros", disse.

Lusofonia

Apesar das diferenças de sotaques, os países que falam português são unificados na cultura. É com esse propósito que o músico brasileiro Martinho da Vila trabalha, há mais de 30 anos, na integração da música e da cultura desses países. Martinho falou à Rádio ONU, do Rio de Janeiro, sobre a importância desse intercâmbio cultural.

"O conhecimento é que leva ao desenvolvimento, ao entendimento, a essas coisas todas. E aqui no Brasil, quando eu comecei a fazer essas coisas, quase não tinha informação sobre países africanos. Aí, eu comecei a fazer isso que é muito importante", disse.

A última flor do Lácio, que o poeta brasileiro Olavo Bilac chamou de inculta e bela, é para Martinho da Vila a semente do fruto da razão e do amor. No trabalho Lusofonia, onde interpreta músicas de países colonizados por Portugal, o poeta transforma a língua portuguesa na ponte entre as nações irmãs.

"A expressão do olhar traduz o sentimento / mas é primordial uma linguagem comum / importante fator para o entendimento / semente do fruto da razão e do amor / eu sonho em ver o dia a música e a poesia sobreporem-se as armas na luta por um ideal / e preconizar a lusofonia na diplomacia universal", disse.