ONU marca Dia Internacional da Língua Materna
Com aproximadamente 12 milhões de habitantes, Angola possui mais de 20 línguas maternas.
Julia Assef, da Rádio ONU em Nova York*.
A Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura, Unesco, marca neste 21 de Fevereiro, o Dia Internacional da Língua Materna.
Neste mesmo dia, a organização inaugura o Ano Internacional dos Idiomas, proclamado pela Assembleia Geral da ONU.
A língua portuguesa é falada por mais de 200 milhões de pessoas, distribuídas em oito países. Entre eles, Portugal, Brasil, Angola, Cabo Verde e Timor-Leste.
Língua oficial
No caso das ex-colônias portuguesas na África e na Ásia, o português é a língua oficial, mas não a língua materna. Em Cabo Verde, por exemplo, o crioulo é a língua mais usada.
O embaixador de Cabo Verde nas Nações Unidas, António Monteiro Lima, falou à Rádio ONU, sobre a relação entre o crioulo cabo-verdiano e o português.
“O léxico é muito português, mas a estrutura gramatical da língua tem muito a ver com as línguas africanas. Então há aí um processo histórico, lento, linguístico que faz com que o português misturando-se com estas várias línguas dá o crioulo", disse.
Comunicação
Com aproximadamente 12 milhões de habitantes, Angola possui mais de 20 línguas maternas. O adido de imprensa, Xavier Rosa, disse a Rádio ONU que, muitas vezes, é a língua portuguesa que serve de veículo de comunicação entre os cidadãos.
"Devido mesmo à inexistência de uma língua mais abrangente em todo o território, comunicamos em português quando temos que tratar determinados assuntos oficiais. Agora nos círculos mais restritos, com pessoas da mesma origem, podemos eventualmente falar num dialecto", disse.
Já no Timor-Leste, as línguas oficiais são o português e o tétum. No entanto, a língua portuguesa vem perdendo espaço. O país asiático foi anexado pela Indonésia na década de 1970. O embaixador do Timor nas Nações Unidas, Nelson Santos, contou à Rádio ONU, que os indonésios consideravam o português o idioma da resistência.
“Os indonésios consideravam o português como uma língua de resistência. Por isso, a geração que cresceu sob o regime indonésio foi forçada a não falar a língua portuguesa e isso teve um impacto enorme porque a maioria vivia nas cidades e nas vilas. Na resistência manteve-se o uso da língua portuguesa que era utilizada entre os guerrilheiros”, disse.
Integração da música
Apesar das diferenças de sotaques, os países que falam português são unificados na cultura. É com esse propósito que o músico brasileiro Martinho da Vila trabalha, há mais de 30 anos, na integração da música e da cultura desses países.
Martinho contou à Rádio ONU, do Rio de Janeiro, sobre a importância desse intercâmbio cultural.
"O conhecimento é que leva ao desenvolvimento, ao entendimento, a essas coisas todas. E aqui no Brasil, quando eu comecei a fazer essas coisas, quase não tinha informação sobre países africanos. Aí, eu comecei a fazer isso que é muito importante", disse.
A estimativa da Unesco é de que metade das cerca de 6,7 mil línguas oficiais pode desaparecer. Segundo a organização, a cada duas semanas, uma delas deixa de ser praticada.
*Apresentação: Helder Gomes