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Meninas brasileiras pedem mais igualdade, segurança e apoio no esporte

A final dos 400m femininos do atletismo nos 19º Jogos Asiáticos em Hangzhou, em 30 de setembro de 2023
ONU/Yun Zhao
A final dos 400m femininos do atletismo nos 19º Jogos Asiáticos em Hangzhou, em 30 de setembro de 2023

Meninas brasileiras pedem mais igualdade, segurança e apoio no esporte

Mulheres

Projeto apoiado pela ONU mulheres envolveu 15 jovens do Brasil em capacitação, reforçando combate ao preconceito e sexismo; atletas ressaltaram falta de patrocínio e de espaços seguros para treinos; as participantes da iniciativa se reuniram com figuras de alto nível do ecossistema esportivo para propor soluções. 

Pela primeira vez na história, as Olimpíadas verão um número igual de atletas masculinos e femininos competindo. Segundo a ONU Mulheres, os jogos em Paris fazem parte de um momento de atenção crescente ao esporte feminino.

A agência afirma que sete em cada 10 pessoas agora assistem esportes femininos, mas a modalidade ainda detém uma participação média baixa na cobertura da mídia esportiva, que chegou a apenas 16% da em 2022.

Luta diária contra preconceito e sexismo

Para lidar com esta realidade, um programa da ONU Mulheres e do Comitê Olímpico Brasileiro, COI, envolvendo o Brasil e a Argentina capacitou meninas atletas para identificar barreiras e propor soluções.

Rebeca Cristina Cassiano dos Anjos, do Rio de Janeiro, no Brasil, foi uma das participantes da atividade. Ela começou a nadar aos quatro anos de idade. No entanto, a jovem considera que permanecer no esporte representa “uma luta diária contra o preconceito, o sexismo, a falta de patrocínio e incentivo".

Agora com 19 anos, Rebeca afirmou que "as desigualdades começam desde a infância". Segundo ela, as meninas “recebem bonecas e utensílios de cozinha e espera-se que aprendam a se dedicar à casa e à família, enquanto os meninos recebem bolas de futebol e se matriculam em programas esportivos".

A atleta aponta para a "falta de espaços seguros para a prática de esportes e o cuidado e trabalho doméstico que ocupam uma quantidade significativa de tempo para meninas e mulheres”.

Para a jovem brasileira, devido a visões sexistas, as atletas femininas têm menos apoio e investimento para entrar ou permanecer no mundo esportivo.

Paula Pareto durante torneio de judô nos Jogos Olímpicos Rio 2016
PrensaCOA
Paula Pareto durante torneio de judô nos Jogos Olímpicos Rio 2016

Incentivo à incidência política

A ONU Mulheres menciona que 80% das CEOs femininas do ranking “Fortune 500” praticaram esportes em seus anos de formação. No entanto, aos 14 anos, as meninas abandonam o esporte duas vezes mais do que os meninos.

Rebeca esteve no grupo de 15 jovens do Brasil e outras 30 da Argentina que concluíram recentemente o programa patrocinado pela ONU Mulheres e pelo COI. Sob a iniciativa "OWLA Participate", elas expandiram habilidades de comunicação e incidência política.

As participantes também se reuniram com vários tomadores de decisão de alto nível no ecossistema esportivo para abordar os principais desafios e propor estratégias para expandir o acesso de meninas e mulheres ao esporte.

As jovens atletas identificaram três desafios principais, que são a baixa representação de mulheres em cargos de gestão esportiva, falta de espaços seguros para meninas e mulheres no esporte e racismo.

Espaços seguros

As participantes do projeto enfatizaram a importância de criar espaços física e emocionalmente seguros para as meninas acessarem e permanecerem no esporte nas Vilas Olímpicas e outras instalações públicas.

Em uma reunião com funcionários do Ministério da Mulher do Brasil, as jovens líderes do “OWLA Participate” apresentaram e discutiram suas propostas com funcionários do governo, incluindo ações de combate ao racismo no esporte.

A representante interina da ONU Mulheres no Brasil, Ana Carolina Querino, disse que “é hora de finalmente quebrar o padrão de desigualdade de gênero e exigir investimento, igualdade de oportunidades, mais visibilidade para os esportes femininos e o fim do assédio e abuso".

O projeto da agência teve duração de dois meses e contou com o apoio da ONG local Empodera.