Perspectiva Global Reportagens Humanas

Equidade de gênero permanece distante para 99% das mulheres e meninas

Uma menina empurra duas crianças menores em um carrinho de mão que também carrega vários galões em Sanaa, capital do Iêmen
Unicef/Mohamed Yasin
Uma menina empurra duas crianças menores em um carrinho de mão que também carrega vários galões em Sanaa, capital do Iêmen

Equidade de gênero permanece distante para 99% das mulheres e meninas

Mulheres

Estudo de agências da ONU revela que menos de 1% da população feminina vive em países com alto índice de empoderamento feminino e alta performance em paridade de gênero; em média, mulheres atingem apenas 60% do seu potencial e alcançam 28% menos que homens em desenvolvimento humano.

Dois novos índices foram criados para mensurar as lacunas que mulheres e meninas enfrentam para se desenvolver. A iniciativa é do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento, Pnud, e da ONU Mulheres. 

A nova abordagem revelou que menos de 1% da população feminina vive em países com alto nível de autonomia de mulheres e meninas e com baixa disparidade entre os gêneros. 

Liberdade de escolha e status

A pesquisa envolve 114 países e analisa fatores como saúde, educação, trabalho, inclusão financeira, poder de decisão e violência. 

O Índice de Empoderamento das Mulheres, WEI na sigla em inglês, avalia o poder e a liberdade de fazer escolhas e aproveitar oportunidades na vida. Já o Índice Global de Paridade de Gênero, Ggpi, leva em conta o status da mulher em relação ao homem em quatro dimensões essenciais do desenvolvimento humano. 

Os dados indicam que 3,1 bilhão de mulheres e meninas, mais de 90% da população feminina mundial, vivem em países com baixa ou média performance de empoderamento e baixo ou médio desempenho em paridade de gênero.

Dentre estes países, 47 tem alto Índice de Desenvolvimento Humano, IDH, mas ainda assim, estão distantes das metas de equidade entre homens e mulheres.

Uma mulher tece em Maheshwar, Madhya Pradesh, Índia
Unsplash/Nishant Jadhav
Uma mulher tece em Maheshwar, Madhya Pradesh, Índia

Cinco reformas necessárias

Com base nestes resultados, o Pnud e a ONU mulheres recomendam a tomada de ações urgentes em cinco áreas de intervenção. 

Em primeiro lugar, as políticas de saúde devem reconhecer as diferentes necessidades de mulheres e homens durante o ciclo de vida. Segundo as agências, o acesso universal à saúde sexual e reprodutiva precisa ser integrado a estratégias de desenvolvimento nacional, com ênfase em planejamento familiar. 

O estudo também recomenda maior equidade no acesso à educação e mais investimentos para empoderar mulheres e meninas na era digital. A equidade de salários, os arranjos flexíveis de trabalho para mães e pais e acesso a creches também são considerados essenciais. 

Por fim, as agências da ONU enfatizam a necessidade de eliminar leis, políticas e regulações que discriminam as mulheres e de apoiar a participação delas em todas as esferas da vida pública. Além disso, a análise afirma que o enfrentamento da violência de gênero e o suporte a vítimas é um passo essencial. 

Uma mulher trabalha em uma fábrica de eletrônicos em Cikarang, Indonésia
OIT/Asrian Mirza
Uma mulher trabalha em uma fábrica de eletrônicos em Cikarang, Indonésia

Apenas 60% do potencial

Com base no índice WEI, o Pnud e a ONU mulheres concluíram que em média, as mulheres estão empoderadas para atingir apenas 60% do seu potencial. E com base no Ggpi, a conclusão é de que as mulheres alcançam, em média, 28% menos que os homens em todas as dimensões do desenvolvimento humano analisadas. 

Os dados também sugerem que maior paridade de gênero não se traduz automaticamente em alto empoderamento feminino. 

Cerca de 8% das mulheres e meninas vivem em países com ambiente favorável à equidade, mas ainda assim não gozam de amplo poder e liberdade de escolha. 

Os novos índices detalham os complexos desafios enfrentados por mulheres e servem de referência para formulação de políticas e para comparação de progressos entre países.