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Líderes da ONU alertam para efeitos da falta de apoio alimentar no Sudão do Sul

Uma mulher comprando comida no mercado em Bor (estado de Jonglei), onde o PMA fornece dinheiro que as pessoas podem usar para comprar comida em várias lojas do mercado. Sudão do Sul, Bor, estado de Jonglei, 23 de março de 2022
WFP
Uma mulher comprando comida no mercado em Bor (estado de Jonglei), onde o PMA fornece dinheiro que as pessoas podem usar para comprar comida em várias lojas do mercado. Sudão do Sul, Bor, estado de Jonglei, 23 de março de 2022

Líderes da ONU alertam para efeitos da falta de apoio alimentar no Sudão do Sul

Desenvolvimento econômico

Após visita ao país, chefes da FAO, Ifad e PMA apontam que crises de alimentos, clima e insegurança causarão perda de vidas e meios de subsistência para milhões de pessoas; entidades enfatizam necessidade de transformar sistemas agroalimentares e capacitar comunidades.

O custo da falta de ação em lidar com as complexas crises de alimentos, clima e insegurança do Sudão do Sul será sentido na perda de vidas, meios de subsistência e futuros para milhões de pessoas em todo o jovem país.

A avaliação é dos líderes de três agências das Nações Unidas, a Organização para Alimentação e Agricultura, FAO, o Fundo Internacional para o Desenvolvimento Agrícola, Ifad, e o Programa Mundial de Alimentos, PMA.

Crianças refugiadas do Sudão do Sul caminham juntas para casa depois da escola no assentamento de refugiados de Nyumanzi, em Uganda. (arquivo)
© UNICEF/Jiro Ose
Crianças refugiadas do Sudão do Sul caminham juntas para casa depois da escola no assentamento de refugiados de Nyumanzi, em Uganda. (arquivo)

Visita ao país

Eles fizeram o alerta após uma visita de três dias ao país. O diretor-geral da FAO. Qu Dongyu, o presidente do Ifad, Alvaro Lario, e a diretora-executiva do PMA, Cindy McCain, visitaram comunidades que lutam contra os efeitos de eventos climáticos severos.

Com a falta de infraestrutura, a situação humanitária no país fica ainda mais grave, afetando campos agrícolas e meios de subsistência agropastoris e desalojando comunidades.

A visita ocorre depois que o relatório da ONU sobre o segurança alimentar e nutrição constatou que mais 122 milhões de pessoas sofrem de desnutrição crônica desde 2019. 

Segundo Qu Dongyu, a visita ao Sudão do Sul destacou que com ajuda humanitária, centro de desenvolvimento e suporte tecnológico seria possível transformar os sistemas agroalimentares. 

Terras improdutivas

Já na avaliação do presidente do Ifad, o Sudão do Sul tem um grande potencial, com terras, água e uma população jovem. No entanto, apenas 4% das regiões estão sendo cultivadas. 

Alvaro Lario avalia que a agricultura de subsistência pode ser transformada em pequena escala e ser produtiva, melhorando a nutrição da população.

A diretora-executiva do PMA acrescenta que apenas distribuir alimentos não é a resposta. Cindy McCain defende que as comunidades sejam capacitadas para plantar sementes de esperança, oportunidade e desenvolvimento econômico.

A emergência humanitária no Sudão do Sul é causada por uma combinação de conflito, clima e preços crescentes de alimentos e combustíveis. 

A situação é agravada pelos combates no vizinho Sudão, que levaram mais de 190 mil pessoas a fugir pela fronteira para o Sudão do Sul, sobrecarregando ainda mais os já escassos recursos. 

Ao mesmo tempo, sete em cada 10 pessoas no Sudão do Sul têm entre 18 e 35 anos e as taxas de desemprego juvenil estão em 50%, exacerbadas por baixos níveis de educação, habilidades limitadas e uma economia fraca.

Uma família se posiciona no ponto de fronteira de Joda em Renk, no Sudão do Sul, onde dezenas de milhares de repatriados sul-sudaneses cruzaram depois de fugir da violência no Sudão
Acnur/Charlotte Hallqvist
Uma família se posiciona no ponto de fronteira de Joda em Renk, no Sudão do Sul, onde dezenas de milhares de repatriados sul-sudaneses cruzaram depois de fugir da violência no Sudão

Futuro

Durante a visita, os líderes das agências da ONU viajaram para Aweil, no norte de Bahr el Ghazal, onde conheceram membros da comunidade que foram impactados por eventos climáticos, incluindo enchentes e secas prolongadas. Os habitantes beneficiam de projetos da ONU para fortalecer a resiliência, mitigar os impactos dos eventos climáticos e aumentar a produção de alimentos. 

Os chefes das agências também se reuniram com o presidente do Sudão do Sul, Salva Kiir, para discutir a colaboração contínua.

Um novo acordo de parceria de cinco anos também foi assinado para renovar a cooperação interagências, que permitirá aprofundar a colaboração e coordenação nos níveis global, regional e nacional para apoiar a conquista do Objetivo de Desenvolvimento Sustentável 2, que busca acabar com a fome.

Juntas, as agências cobrem um espectro de trabalho que vai desde respostas humanitárias a emergências e choques, até atividades de resiliência e desenvolvimento. 

Sob o acordo, as três agências com sede em Roma trabalharão na transformação dos sistemas agroalimentares, nutrição, igualdade de gênero e empoderamento das mulheres, construção de resiliência, juventude e mudança climática.