Perspectiva Global Reportagens Humanas

Sem mudanças significativas, mais da metade das espécies marinhas podem ser extintas até 2100 BR

Pescadores de mergulho livre em Madagascar.
Pnud/Garth Cripps
Pescadores de mergulho livre em Madagascar.

Sem mudanças significativas, mais da metade das espécies marinhas podem ser extintas até 2100

Clima e Meio Ambiente

Programa da ONU para o Meio Ambiente diz que uma catástrofe ecológica e financeira está se desenvolvendo lentamente; pesca fornece empregos para 260 milhões de pessoas, quase metade delas mulheres.

Os oceanos sempre inspiraram e alimentaram a humanidade. Graças a eles, surgiram os marinheiros, os navegadores, os exploradores e os cientistas. O Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente, Pnuma, destaca também que partes dos oceanos foram menos visitadas do que o espaço.

Um exemplo é a Fossa das Marianas, que fica no Oceano Pacífico. Com 11.035 metros de profundidade, ela é tão inóspita que apenas três pessoas já estiveram lá. O Pnuma aponta ainda que a superfície de Marte é mapeada com muito mais detalhes do que a maioria dos oceanos.

Nos tempos medievais, os criadores de mapas não sabiam o que vivia nas profundezas, e por isso, eles desenhavam monstros nos mapas para ilustrar estas regiões desconhecidas.

Uma tartaruga nada por um recife de coral nas Maldivas
Uma tartaruga nada por um recife de coral nas Maldivas, by Coral Reef Image Bank/Jayne Jenk

Atualidade

Mas, a agência da ONU alerta que a realidade atual é muito mais aterrorizante. Se mudanças significativas não forem feitas, até 2100 mais da metade das espécies marinhas podem ser extintas.

A sobreexploração comercial é tão severa que 90% dos recursos pesqueiros já foram totalmente explorados, sobreexplorados ou tiveram um colapso completo.

Segundo o Pnuma, esta é uma catástrofe ecológica e financeira que está se desenvolvendo lentamente. A pesca fornece empregos para 260 milhões de pessoas, quase metade delas mulheres.

Desperdício

Cerca de 15% das proteínas animais consumidos pelos humanos vêm dos oceanos, mas ao mesmo tempo, um desperdício surpreendente ainda persiste na pesca comercial.

Dados da agência indicam que um em cada três peixes pescados nunca chega aos pratos. Todos os anos, o setor pesqueiro desperdiça cerca de 10 milhões de toneladas do produto, o suficiente para encher 4.500 piscinas de tamanho olímpico.

O tráfico também representa uma séria ameaça à vida nos ocenos. O Fundo Mundial para Natureza, WWF, estima que 100 milhões de toneladas de peixes exóticos sejam capturados a cada ano.

Tubarão baleia no sul da Tailândia
Pnud Tailândia
Tubarão baleia no sul da Tailândia

Plástico

Em relação ao plástico, o Pnuma estima que de 5 a 12 milhões de toneladas métricas do produto entrem nos oceanos todos os anos. Até mesmo no ponto mais profundo e remoto da Terra, os plásticos estão afetando a vida marinha.

A Grande Ilha de Lixo do Pacífico, como é conhecida, é três vezes maior do que a França. Ela é apenas um dos cinco depósitos de lixo flutuantes em cada um dos principais giros oceânicos.

Esta ilha de lixo teria 1,8 trilhão de peças de plástico e pesaria cerca de 80 mil toneladas. Cerca de metade dessa quantidade são redes de pesca e a outra metade é de plástico de uso único.

Mais da metade das espécies marinhas podem ser extintas até 2100

Zonas Mortas

Fora isso, o esgoto e o escoamento agrícola estão sobrecarregando os ecossistemas costeiros com nitrogênio, causando enormes florações de plâncton que criam zonas mortas com baixo oxigênio, onde a maioria da vida marinha não pode sobreviver. Segundo o Pnuma, existem cerca de 500 zonas mortas cobrindo mais de 245.000 km², aproximadamente o tamanho do Reino Unido.

A agência destaca ainda que o oceano é um campeão de combate aos gases do efeito estufa e absorve cerca de um terço do CO2 produzido pelo homem a cada ano.
Manguezais saudáveis ​​e pântanos de água salgada conseguem armazenar carbono até 50 vezes mais do que as florestas tropicais. Mas 20% dos mangues do mundo já foram perdidos, assim como 29% dos pântanos salgados.

Antes e depois do branqueamento de corais na Grande Barreira de Corais
The Ocean Agency/WL Catlin Seavi
Antes e depois do branqueamento de corais na Grande Barreira de Corais

Acidificação

Sem essa barreira de segurança vital, aumenta o rítmo da acidificação. Quando o CO2 se dissolve na água do mar, ele se torna ácido, corroendo as conchas e esqueletos de animais marinhos, particularmente o plâncton na base da cadeia alimentar marinha. A acidificação também reduz a respiração, a alimentação e a reprodução de peixes e outras formas de vida marinha.

O Pnuma aponta que esta tendência iniciou durante a Revolução Industrial e desde então, a acidificação dos oceanos aumentou em 30%. Este processo químico estaria matando aos poucos os recifes de corais, que são essenciais para a vida marinha.

Até o momento, 20% desses ecossistemas já foram perdidos e outros 20% enfrentam problemas sérios. Para a agência da ONU, a implementação dos compromissos do Acordo de Paris de 2015 são mais vitais do que nunca. 

World Wildlife Day 2019 - Life below water: for people and planet

Programas

O Programa de Governança de Água e Oceano do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento, Pnud, trabalha com agências da ONU, organizações internacionais e 100 países em todos os níveis de governança. A referência é o Objetivo de Desenvolvimento Sustentável número 14, para garantir que os animais marinhos sobrevivam e prosperem.

O Pnuma destaca que uma parte vital deste processo é a preservação da subsistência associada com os oceanos. Quando se leva em consideração o turismo, a pesca e atividades offshores de petróleo e gás, os oceanos contribuem com cerca de US$ 3 trilhões para a economia global, aproximadamente 5% do PIB.

Na Costa Rica, por exemplo, graças ao apoio do Pnud, foi lançado o primeiro Plano de Ação Nacional do mundo para a pesca sustentável de grandes espécies pelágicas, como arenques, sardinhas e tubarões.

Quase metade dos recursos de atum mundial estão sendo conservados graças a uma parceria entre 14 países das ilhas do Pacífico, o Fundo para o Meio Ambiente Mundial, GEF, e agências das pescas do Fórum.

Ainda com o apoio do Pnud e do GEF e quase US$ 3 bilhões em investimentos, os 17 países no Mar Negro conseguiram eliminar sua enorme zona morta, permitindo a recuperação do ecossistema, do turismo e da pesca.

Qual é o próximo passo?

Como aponta o Pnuma, é possível que os humanos nunca conheçam realmente a vasta expansão do oceano. Mas, o que se sabe é o que precisa ser feito para proteger o maior sistema de apoio à vida e de todos, já que mais de 3 bilhões de pessoas dependem da biodiversidade marinha e costeira para sobreviver.   

A agência da ONU destaca que é preciso se comprometer totalmente com a conservação dos incríveis recursos dos oceanos para o crescimento econômico e o desenvolvimento sustentável. Para os governos, isso significa cumprir os compromissos sob uma ampla gama de acordos da ONU e outros relacionados ao oceano.

Para os doadores, isso representa aumentar o financiamento para o ODS 14, a fim de atender o alto custo de redução da poluição costeira e oceânica.

O Pnuma defende que para os humanos, isso quer dizer estar ciente de como as decisões cotidianas afetam os oceanos, desde a escolha pelo transporte público até a compra de frutos do mar ou peixes de origem sustentável ou ainda parar de usar  plástico não reciclável.