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“Cantos grotescos” sobre estupro revelam “campanha de terror” no Burundi

“Cantos grotescos” sobre estupro revelam “campanha de terror” no Burundi

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Alerta é do alto comissário da ONU para Direitos Humanos, Zeid Al Hussein, sobre manifestações onde homens da milícia Imbonerakure fazem chamadas para engravidar ou matar oponentes.

Laura Gelbert Delgado, da ONU News em Nova Iorque.

O alto comissário da ONU para direitos humanos, Zeid Al Hussein, expressou esta terça-feira estar profundamente alarmado com um aparente padrão de comícios em diversas províncias no Burundi onde jovens homens da milícia Imbonerakure cantam um chamado para engravidar ou matar oponentes.

Para Zeid, a natureza organizada das marchas, junto com relatos de graves violações de direitos humanos em curso, revelam a “campanha de terror” sendo travada no Burundi.

Vídeo

O Escritório da ONU para Direitos Humanos alerta para um vídeo a circular nas redes sociais que mostra mais de 100 integrantes da Imbonerakure, a ala jovem do partido CNDD-FDD, que está no poder, a repetir dezenas de vezes seu chamado para “engravidar oponentes para que dêem à luz a Imbonerakure”.

Outro grupo repete um canto em que a frase “ele ou ela deve morrer” é escutada cerca de 19 vezes. A manifestação decorreu na comunidade de Ntega, província de Kirundo, no nordeste do país.

Após a divulgação do vídeo, a cinco de abril, o partido CNDD-FDD publicou uma declaração a condenar os cantos e afirmando que investigação preliminar concluiu que havia “influência fora do partido”. No entanto, relatos recentes indicam que comícios semelhantes e maiores foram organizados no país por autoridades do governo e do partido do Presidente.

“Cantos grotescos”

Para o alto comissário, os “cantos grotescos” sobre estupro pronunciados por homens jovens do grupo Imbonerakure em diversas províncias em várias partes do Burundi é “profundamente alarmante”.

Segundo Zeid, as ações confirmam o que o Escritório tem ouvido de pessoas a fugir do país sobre uma campanha de “medo e terror” feita por essa “milícia organizada”.

Ele afirmou que embora elogie “o comunicado do partido CNDD-FDD a condenar os cantos em Ntega, relatos de autoridades presentes em outros comícios são muitos perturbadores”.

“Ponta do iceberg”

O alto comissário defendeu ser preciso reconhecer que a manifestação em Ntega não é um incidente isolado, mas “a ponta do iceberg, levado à luz apenas porque foi registado na câmera”.

Para Zeid, esta “condenação é sem sentido se, ao invés de parar esses eventos, altos funcionários do governo continuam participando de tais comícios”.

Incitamento

O representante afirmou que o incitamento para matar e estuprar é “particularmente inquietante” a ressaltar que relatos de violações graves de direitos humanos continuam a vir à tona.

Segundo cálculos da ONU, entre abril de 2015 e abril de 2017, mais de 401 mil pessoas fugiram do Burundi.

O alto comissário pediu ao governo que dê ao Escritório de Direitos Humanos da ONU acesso irrestrito para que possa monitorar a situação de direitos humanos no país e verificar de forma independente alegações de violações graves e apoiar as autoridades em levar os responsáveis à justiça.

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Photo Credit
Zeid Al-Hussein. Foto: ONU/Pierre Albouy