Sistema de saúde do Iémen em colapso gradual, alerta OMS
Funcionários do setor estão sem salários há mais de cinco meses; conflito afetou pelo menos 274 instalações; especialistas e outros profissionais deixaram o país; valor para apoiar necessidades do setor chega a US$ 322 milhões.
Eleutério Guevane, da ONU News em Nova Iorque.
A Organização Mundial da Saúde, OMS, alertou esta quinta-feira para o colapso progressivo do sistema de saúde do Iémen tido como “a outra vítima do conflito” que agravou-se em março de 2015.
As instalações de saúde de todo o país registaram mais de 7,6 mil mortes e cerca de 42 mil feridos desde o início dos combates.
Medicamentos
A agência cita o exemplo do Hospital Al-Tharwa, da cidade de Al-Hudaydah, a terceira maior do país. Mais de 1,2 mil funcionários não recebem os seus salários há cinco meses.
O diretor da instalação, Khaled Suhail, disse haver uma grave falta de medicamentos essenciais e de combustível para garantir que haja eletricidade.
Mais de 1,5 mil pessoas procuram os cuidados no hospital por dia. O número é cinco vezes maior que as camas disponíveis e dos pacientes atendidos diariamente em 2012. O fluxo é provocado pelos deslocados do conflito e pelo encerramento de outras unidades de saúde na área.
Pagamento
Todo o país é afetado pelo corte drástico do orçamento pelas autoridades de saúde, o que deixou os serviços sem fundos para operar e pagar os trabalhadores desde setembro passado.
O setor precisa de US$ 322 milhões, segundo agências das Nações Unidas e organizações não-governamentais. Somente a OMS solicita US$ 126 milhões desse valor.
O representante interino da agência no Iémen, Nevio Zagaria, indica que mais de 14,8 milhões de pessoas não têm acesso a cuidados básicos de saúde. A atual falta de fundos faz prever uma situação “muito pior”.
Abandono
A agência destaca o abandono do país de grande parte do pessoal médico especializado em áreas como terapia intensiva, psiquiatria ou até enfermeiros estrangeiros.
Cerca de 45% das unidades de saúde no Iémen funcionam e são acessíveis, enquanto 38% operam parcialmente.
Pelo menos 274 instalações sanitárias foram danificadas ou destruídas durante o atual conflito.
Desnutrição
O país carece de serviços para tratar ou prevenir a desnutrição que afeta quase 4,5 milhões de pessoas, incluindo 2 milhões de crianças. O número indica um aumento de 150% desde o fim de 2014.
A maior preocupação da OMS é com as cerca de 462 mil crianças com desnutrição aguda grave e com o risco de ter complicações que podem ser fatais, como infeções respiratórias ou a falência de órgãos.
Em 2016, a agência recebeu menos de metade dos US$ 124 milhões que precisava para cobrir as lacunas criadas pelas instituições de saúde em colapso.