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Gestão de resultados eleitorais na Venezuela não cumpriu padrões para ser credível, diz painel da ONU

Assembleia Nacional da Venezuela em Caracas
ONU News
Assembleia Nacional da Venezuela em Caracas

Gestão de resultados eleitorais na Venezuela não cumpriu padrões para ser credível, diz painel da ONU

Legislação e prevenção de crimes

Grupo de especialistas declara que processo não seguiu os padrões necessários de transparência e integridade; relatório preliminar indica que Conselho Nacional Eleitoral não publicou quaisquer resultados que apoiassem anúncios feitos oralmente, violando assim as normas eleitorais.

O processo de gestão de resultados por parte do Conselho Nacional Eleitoral, CNE, da Venezuela não cumpriu as medidas básicas de transparência e integridade que são essenciais para a realização de eleições credíveis.

A observação está presente no relatório preliminar do Painel de Peritos da ONU destacado no país durante as eleições.

“Restrições ao espaço cívico e político”

No documento divulgado esta quarta-feira, os quatro peritos eleitorais que compõem o painel apresentaram as suas primeiras observações do processo durante a sua estadia na Venezuela, do final de junho a 2 de agosto de 2024.

Segundo os especialistas, as eleições, dominadas pelas campanhas do presidente, Nicolás Maduro, e do principal candidato da oposição, Edmundo González Urrutia, da Plataforma Democrática Unitária, foram caracterizadas por “restrições ao espaço cívico e político”.

O levantamento aponta ainda que a campanha governamental dominou os meios de comunicação estatais, aos quais a oposição teve acesso “muito limitado”.

Apesar desta desigualdade, os observadores relataram um período pré-eleitoral pacífico e entusiasmado por parte do eleitorado.

Dia da votação

O relatório afirma que dia das eleições, 28 de julho, foi igualmente pacífico, com organização logística e sistema de votação eletrônica bem estabelecidos e confiáveis. Foi registrado um comparecimento de 59,97% dos eleitores cadastrados.

O relatório observa que embora a transmissão eletrônica dos resultados tenha funcionado bem no início, foi interrompida abruptamente nas horas seguintes ao encerramento das urnas, sem que qualquer explicação fosse dada aos candidatos.

O presidente do Conselho Nacional Eleitoral indicou posteriormente que a emissão foi afetada por um ataque cibernético que atrasou o processo de contagem. No entanto, ele posteriormente adiou e cancelou três auditorias importantes que poderiam ter revelado os detalhes do ataque externo.

Caracas, Venezuela
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Anúncio do vencedor

Um dia depois da votação, com 80% das unidades de votação apuradas, o CNE anunciou a vitória do presidente Nicolás Maduro com 51,2% dos votos. Edmundo González obteve 44,2%. No dia 2 de agosto, o CNE confirmou essa vitória, com 51,95%.

O painel destaca, no entanto, que o Conselho ainda não publicou quaisquer resultados que apoiassem estes anúncios feitos oralmente, violando assim as normas eleitorais.

De acordo com o relatório, além de não cumprir os padrões de transparência e integridade, o CNE não seguiu as disposições legais e regulamentares nacionais e não cumpriu os prazos estabelecidos.

Resultados sem detalhes

O documento elaborado pelos peritos afirma que “o anúncio do resultado de uma eleição sem a publicação dos seus detalhes ou a divulgação dos resultados tabulados aos candidatos não tem precedentes nas eleições democráticas contemporâneas”.

O painel argumentou que isto “teve um impacto negativo na confiança no resultado anunciado pelo CNE entre grande parte do eleitorado venezuelano”,

Os especialistas mencionaram ainda o recurso eleitoral contencioso apresentado pelo presidente Nicolás Maduro, que busca rever o processo e verificar os resultados. Por enquanto não há informações detalhadas sobre como será feita a avaliação.

Próximos passos

Quanto às informações sobre o número de vítimas dos protestos pós-eleitorais, os especialistas tomam nota e esclarecem que não estão aptos a verificá-las.

O painel, que contou com a cooperação das autoridades venezuelanas, apresentará posteriormente ao secretário-geral da ONU, António Guterres, um relatório completo.

O documento abordará o marco jurídico das eleições, as atas eleitorais, o registo dos candidatos, o contexto da campanha, a administração eleitoral e a participação política das mulheres.