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Ataques aéreos pioram no centro e sul de Gaza

Pessoas observam os danos após uma escola ser bombardeada no centro de Gaza.
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Pessoas observam os danos após uma escola ser bombardeada no centro de Gaza.

Ataques aéreos pioram no centro e sul de Gaza

Direitos humanos

Bombardeios israelenses que atingiram a Faixa de Gaza agravam crise humanitária; coordenador humanitário da ONU, Scott Anderson, descreveu situação nos hospitais como terrível, sem leitos ou equipamentos; falta de combustível e água potável está agravando as condições para 1,9 milhão de deslocados.

Novos ataques aéreos israelenses atingiram as áreas sul e central de Gaza nesta segunda-feira, enquanto trabalhadores humanitários e parceiros da ONU atendiam vítimas dos ataques em Al Mawasi, no sudoeste de Gaza. Os atos que aconteceram no sábado deixaram pelo menos 90 mortos e cerca de 300 feridos.

Em uma atualização do Complexo Médico Nasser em Khan Younis, onde as vítimas foram internadas, o coordenador humanitário adjunto nos territórios palestinos ocupados, Scott Anderson, relatou ter testemunhado "algumas das cenas mais horríveis" que ele vivenciou em seus nove meses em Gaza.

Deixado no chão do hospital

Ele afirmou que não há leitos ou equipamentos de higiene, muitos pacientes estão sendo atendidos no chão sem desinfetantes e os sistemas de ventilação foram desligados devido à falta de eletricidade e combustível.

Anderson afirmou que “o ar estava com cheiro de sangue" e que a instalação, já sobrecarregada, recebeu mais de 100 casos graves em um dia. Ele testemunhou bebês amputados, crianças paralisadas e incapazes de receber tratamento e outras separadas dos pais. O trabalhador humanitário acrescentou que muitas famílias haviam se mudado para a “chamada zona humanitária” de Al Mawasi, na esperança de que fosse seguro.

Em um comunicado, os militares israelenses disseram que tinham como alvo um comandante militar do Hamas em Al Mawasi, que fica a oeste da cidade de Khan Younis, na costa. A zona de areia abriga centenas de milhares de pessoas, incluindo muitas deslocadas à força de Rafah, no extremo sul de Gaza, no início de maio, antes de uma incursão das forças israelenses.

Os combates de segunda-feira em Rafah e no centro de Gaza foram seguidos de relatos da mídia sobre outro ataque a uma escola da Unrwa, que foi transformada em abrigo, neste domingo, no campo de refugiados de Nuseirat. Os relatos apontam que pelo menos 17 pessoas tenham morrido no ataque à escola Abu Oraiban, de acordo com as autoridades locais.

Três outras escolas da Unrwa foram atingidas na semana passada, com 190 instalações da agência da ONU atingidas desde o início da guerra.

Miséria em barracas

Na última quarta-feira, o Escritório da ONU de Assistência Humanitária, Ocha, liderou uma missão interagências em dois abrigos informais nos campos de refugiados de Al Bureij e Al Maghazi, em Deir al Balah, na região central de Gaza.

Em Al Bureij, o Ocha informou que 3,8 mil pessoas estavam compartilhando 388 barracas sem serviços de saúde nem itens básicos, incluindo água e produtos de higiene.

Em Al Maghazi, mais de 1 mil pessoas, incluindo sete pacientes com câncer, estavam aglomeradas em uma escola danificada da Unrwa, sem assistência médica, água ou alimentos.

Anderson disse, antes de repetir os apelos por um cessar-fogo imediato, que a libertação de todos os reféns israelenses restantes tomados durante os ataques terroristas liderados pelo Hamas em 7 de outubro é uma "oportunidade significativa" para o início da cura, enfatizando que os civis devem ser protegidos o tempo todo.

Atrasos na ajuda

Segundo Anderson, vários obstáculos continuam a impedir que um nível adequado de ajuda entre em Gaza, incluindo longos atrasos nos postos de controle e um colapso da lei e da ordem entre as pessoas desesperadas por comida. Mas os esforços para fornecer serviços de referência, tendas, camas, macas, produtos descartáveis e medicamentos estão em andamento.

Cerca de 1,9 milhão de pessoas deslocadas em Gaza enfrentam condições terríveis à medida que o conflito continua a aumentar, com milhares de pessoas sem água potável, saneamento e alimentos, de acordo com agências humanitárias. Em uma escola em Deir al Balah, onde 14 mil pessoas estão abrigadas, apenas 25 banheiros estão disponíveis, observou a Unrwa.

A contínua falta de fornecimento de combustível para o enclave também dificulta as operações de ajuda humanitária e o funcionamento de usinas de dessalinização, hospitais e outros serviços públicos. Apenas 25% do combustível diário necessário para as operações humanitárias entrou em Gaza até agora em julho, causando uma queda de 40% na distribuição pública de água.

Em meio aos temores de níveis crescentes de desnutrição entre os mais vulneráveis, a Organização Mundial da Saúde da ONU, OMS, alertou que a falta de acesso a alimentos, água, saneamento e serviços básicos de saúde estava deixando as pessoas mais vulneráveis a doenças.

Entre 8 e 11 de julho, 152 palestinos foram mortos e 392 ficaram feridos, de acordo com o Ministério da Saúde de Gaza. Desde 7 de outubro, pelo menos 38.345 palestinos foram mortos e 88.295 ficaram feridos, segundo as autoridades de saúde locais em Gaza.