Fome é usada como tática de guerra no conflito sudanês, alertam peritos
Grupo de especialistas independentes alerta sobre cumplicidade no conflito que causa fome, crimes de guerra e contra a humanidade; pedido à ONU e parceiros é que forneçam apoio adicional a organizações humanitárias que atuam localmente.
Mais de 25 milhões de civis que estão dentro ou fugindo do Sudão passam fome e precisam de assistência humanitária urgente devido à guerra entre as Forças Armadas Sudanesas, SAF, e as Forças de Apoio Rápido, RSF.
Em nota emitida esta terça-feira, em Genebra, cinco especialistas independentes das Nações Unidas* indicaram que a ajuda humanitária tem sido bloqueada em meio a uma época da colheita interrompida pelo conflito armado.
9 milhões de pessoas em fuga
A fome generalizada paira sobre o Sudão nos próximos meses, revela o grupo defendendo que nos 14 meses de confrontos “tanto a SAF quanto a RSF usam a comida como arma e matam civis de fome”.
![Dimensões da fome e do deslocamento observadas no Sudão não têm precedentes Dimensões da fome e do deslocamento observadas no Sudão não têm precedentes](https://global.unitednations.entermediadb.net/assets/mediadb/services/module/asset/downloads/preset/Libraries/Production%20Library/18-06-2024-UNICEF-Sudan.jpg/image1024x768.jpg)
Os combates iniciados na capital Cartum, em meados de abril de 2023, se alastraram rapidamente por todo o país. Mais de 9 milhões de pessoas fugiram de suas casas para dentro e fora do Sudão, a maioria mulheres e crianças.
Nos últimos dias, centenas de milhares de civis ficaram sitiados e têm passado “fome e sede severas” por causa da falta de comida e água na sequência do cerco sobre a área de El Fasher.
Para os peritos, as dimensões da fome e do deslocamento observadas no Sudão não têm precedentes.
Urgência por um acordo de cessar-fogo
Ao solicitarem que as partes em conflito deixem de bloquear, saquear e explorar o auxílio, os especialistas também pediram urgência por um acordo de cessar-fogo imediato.
Para os especialistas, o “direcionamento deliberado de trabalhadores humanitários e voluntários locais” em ataques prejudicou as operações de ajuda, colocando milhões de pessoas em maior risco de fome.
![Combates iniciados na capital Cartum, em meados de abril de 2023, se alastraram rapidamente por todo o país Combates iniciados na capital Cartum, em meados de abril de 2023, se alastraram rapidamente por todo o país](https://global.unitednations.entermediadb.net/assets/mediadb/services/module/asset/downloads/preset/Libraries/Production%20Library/05-05-2022-Sudan_Salah_Naser.png/image1024x768.jpg)
Os especialistas declaram que os trabalhadores que oferecem resposta em nível local estão arriscando sua saúde e suas vidas ao atuar em linhas de batalha.
A nota ressalta que em 2019, o povo do Sudão optou por um governo civil e pelo reconhecimento de seus direitos por meio de uma revolução pacífica. No entanto, essas esperanças abrandaram com um golpe e o “conflito atual alimentado por atores externos”.
Falta de fundos para o plano de resposta humanitária
A nota ressalta que governos estrangeiros que fornecem apoio financeiro e militar a ambas as partes neste conflito “são cúmplices da fome, crimes contra a humanidade e crimes de guerra.”
Mesmo com promessas interacionais, os fundos para o plano de resposta humanitária continuam baixos e insuficientes para atender às necessidades atuais.
O apelo aos doadores e governos, incluindo a ONU, é que reconheçam limitações do auxílio humanitário tradicional no contexto do Sudão e sejam “mais criativos dedicando mais apoio a organizações humanitárias que trabalham localmente”.
O grupo reconhece que apesar dos desafios estão operacionais algumas iniciativas de ajuda internacional de entrega de alimentos, particularmente na resposta a emergências, que servem milhões de refeições diariamente.
*Os relatores de direitos humanos são independentes das Nações Unidas e não recebem salário pelo seu trabalho.