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Proibições do Talibã aumentam mortalidade materna e suicídios no Afeganistão

Proibições do Talibã aumentam mortalidade materna e suicídios no Afeganistão
© WFP/Mohammad Hasib Hazinyar
Proibições do Talibã aumentam mortalidade materna e suicídios no Afeganistão

Proibições do Talibã aumentam mortalidade materna e suicídios no Afeganistão

Mulheres

Alerta é da ONU Mulheres em relatório publicado com apoio da União Europeia; estudo revela alta de 50% na mortalidade materna no país asiático; exclusão de meninas e mulheres das escolas e universidades e isolamento social intensificam a opressão.

O primeiro Perfil de Gênero sobre o Afeganistão desde a tomada de poder pelos talibãs em agosto de 2021, elaborado pela ONU Mulheres com apoio financeiro da União Europeia, revela o impacto das proibições impostas pelo regime. 

O relatório destaca que a correlação entre o aumento do risco de mortalidade materna em pelo menos 50% por conta da exclusão de 1,1 milhão de meninas das escolas e de mais de 100 mil mulheres das universidades.

Resultados

Além disso, a análise destaca que as mulheres afegãs têm pouco ou nenhum espaço para influenciar as decisões que afetam suas vidas. Não há mulheres líderes na administração do Talibã e os dados da ONU Mulheres mostram que apenas 1% das mulheres sentem que têm influência em suas comunidades.

As afegãs também têm restrições para interagir regularmente com outras mulheres, com 18% relatando não ter se encontrado nenhuma vez com mulheres fora de sua família imediata nos três meses anteriores. 

Além disso, o isolamento social leva mulheres e meninas ao desespero. O estudo revelou que 8% dos entrevistados em uma pesquisa indicam conhecer pelo menos uma mulher ou menina que tentou suicídio desde agosto de 2021.

Igualdade de gênero

Segundo a ONU Mulheres, os direitos das mulheres no Afeganistão sempre foram uma questão de luta ao longo de regimes e gerações, mas a opressão que as mulheres e meninas afegãs estão sofrendo desde agosto de 2021 é inigualável em termos de escala e impacto geracional.

O perfil analisa a infraestrutura de igualdade de gênero no país nos últimos 40 anos e traça como décadas de progresso na igualdade de gênero foram apagadas por mais de 70 decretos, diretrizes, declarações e práticas sistematizadas introduzidas pelo Talibã em menos de três anos, visando os direitos, as vidas e os corpos das mulheres e meninas afegãs.

Segundo a ONU Mulheres, a privação dos direitos das mulheres teve impactos devastadores que terão consequências intergeracionais. 

Resiliência das afegãs

O Perfil de Gênero do País destaca que, embora a opressão baseada em gênero seja fundamental para a visão do Talibã da sociedade, as mulheres afegãs continuam a servir suas comunidades e a defender seus direitos. 

Quase três anos após a tomada do poder, a determinação das mulheres afegãs se fortalece à medida que seu status e situação continuam a se deteriorar.

O representante especial da ONU Mulheres no Afeganistão, Alison Davidian destaca que as mulheres afegãs demonstram uma resiliência extraordinária. Ele ressalta que diante dos desafios, elas continuam a administrar organizações e empresas e a prestar serviços. 

Por isso, ele pede apoio e afirma que o Afeganistão deve permanecer no topo da agenda internacional.

Recomendações

O Perfil de Gênero do País fornece recomendações para ações de apoio às mulheres e meninas afegãs como a alocação de financiamento flexível de longo prazo para fortalecer as organizações da sociedade civil das mulheres. Outra meta é garantir que pelo menos 30% de todo o financiamento para o Afeganistão seja dedicado a iniciativas que promovam a igualdade de gênero e dos direitos das mulheres.

As orientações incluem evitar a normalização de práticas discriminatórias e integrar os direitos humanos em todas as ações, com foco especial nos direitos das mulheres, como um aspecto fundamental em todas as atividades humanitárias e intervenções de necessidades humanas básicas.