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Gaza: Ajuda humanitária é suspensa em Rafah com intensificação de atividade militar

Crianças dormem ao relento em al-Mawasi, no sul da Faixa de Gaza.
© UNICEF/Media Clinic
Crianças dormem ao relento em al-Mawasi, no sul da Faixa de Gaza.

Gaza: Ajuda humanitária é suspensa em Rafah com intensificação de atividade militar

Paz e segurança

Agência da ONU para Refugiados Palestinos aponta que operações colocam em risco o trabalho humanitário; rotas estão fechadas e centros de distribuição ficaram inacessíveis; entrada de suprimentos segue insuficiente e escassa no enclave.

A distribuição de alimentos foi suspensa em Rafah, sul de Gaza, com a intensificação da operação militar israelense na região. Segundo a Agência da ONU para Refugiados Palestinos, Unrwa, além de arriscar o trabalho das equipes, as principais rotas de entrada para os comboios de ajuda humanitária permanecem fechadas.

A porta-voz da agência, Louise Wateridge, afirma que não há acesso aos centros de distribuição de alimentos na área ou segurança para seguir com as entregas. Ela explicou à ONU News que a situação em Rafah vem se deteriorando desde que as ordens iniciais de evacuação foram emitidas em 6 de maio. 

Abertura de passagens de fronteira

Nesta segunda-feira, o coordenador especial da ONU para o Processo de Paz no Oriente Médio, Tor Wennesland, expressou sua preocupação durante sessão do Conselho de Segurança com a trajetória do conflito. 

Ele alertou que possibilidade de uma operação em maior escala prejudicaria ainda mais os esforços para aumentar a entrada de produtos humanitários e sua distribuição segura para civis. 

As pessoas continuam a deixar Rafah após uma ordem de evacuação das autoridades israelenses.
OMS
As pessoas continuam a deixar Rafah após uma ordem de evacuação das autoridades israelenses.

Embora tenha elogiado a abertura da passagem Erez West/Zikim no norte de Gaza, Wennesland enfatizou que as necessidades atuais precisam de uma escala de ajuda muito maior. Segundo ele, não há substituto para a operação completa e ampliada das passagens terrestres existentes.

O enviado acrescentou que salvar vidas e atender às necessidades críticas em Rafah e Gaza de forma mais ampla deve continuar sendo a prioridade imediata. Por isso, ele reforçou ao Conselho de Segurança o apelo do secretário-geral por um cessar-fogo humanitário.

O coordenador especial da ONU para o Processo de Paz no Oriente Médio também destacou os riscos de uma "repercussão mais ampla" regionalmente do conflito enquanto ele não for resolvido.

Ajuda vital sob ameaça

Em 18 de maio, o Escritório de Assuntos Humanitários da ONU, Ocha, informou que apenas 10 padarias estavam funcionando, de um total de 16 apoiadas pelos parceiros da agência da ONU. Segundo o Ocha, as padarias podem ficar sem estoque e combustível dentro de alguns dias se não forem recebidos suprimentos adicionais. 

As seis padarias restantes, todas no sul de Gaza, fecharam devido à escassez de combustível ou por causa das hostilidades em andamento.

De acordo com o rastreamento da Unrwa, nenhum caminhão entrou nas principais passagens para o enclave via Rafah e Kerem Shalom, no sul, desde sábado, quando 27 veículos conseguiram passar. 

Os trabalhadores humanitários alertam que são necessários pelo menos 500 caminhões de ajuda todos os dias para manter a saúde dos habitantes de Gaza. Assim, eles reforçam que os suprimentos precisam chegar ao enclave para mitigar a nova crise causada pela incursão militar israelense em Rafah no dia 6 de maio.

Menos caminhões atravessando

Os dados do Unrwa revelam que quase 7 mil caminhões de ajuda humanitária entraram em Gaza em abril por essas passagens. No entanto, apenas cerca de 1,3 mil chegaram até agora neste mês.

A agência da ONU também observou que seus centros de saúde não receberam nenhum suprimento médico nos últimos 10 dias. No entanto, a equipe de saúde continua a oferecer milhares de consultas médicas todos os dias nos centros de saúde que ainda estão em funcionamento.

Após mais de sete meses de bombardeios israelenses em resposta aos ataques terroristas liderados pelo Hamas ao sul de Israel, quase um em cada dois habitantes de Gaza, de cerca de 1,1 milhão de pessoas, enfrenta níveis de fome catastróficos. 

Os dados mais recentes sobre vítimas, fornecidos pela Ocha por meio das autoridades de saúde de Gaza, indicam que mais de 35 mil pessoas já foram mortas na violência e mais de 79 mil ficaram feridas. Cerca de 17 mil crianças estão desacompanhadas ou permanecem separadas de suas famílias. 

Na sessão sobre Gaza no Conselho de Segurança no início desta semana, os Estados-membros acompanharam uma atualização do Ocha que observou o anúncio militar israelense na semana passada de que havia recuperado os corpos de quatro reféns israelenses de Gaza. 

O escritório da ONU estima que que 128 cidadãos israelenses e estrangeiros permaneçam em cativeiro em Gaza, incluindo vítimas fatais cujos corpos foram retidos.