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Número de crianças mortas em Gaza supera estatísticas de quatro anos de conflitos globais

Menina em frente ao seu abrigo na cidade de Rafah, em Gaza
© UNICEF/Eyad El Baba
Menina em frente ao seu abrigo na cidade de Rafah, em Gaza

Número de crianças mortas em Gaza supera estatísticas de quatro anos de conflitos globais

Paz e segurança

Estimativas da ONU apontam que mais de 12,3 mil jovens morreram no enclave desde 7 de outubro; Unrwa alerta para uma "guerra contra as crianças"; apelos por cessar-fogo imediato são reiterados; ONU busca aliviar a crise, incluindo assistência alimentar e hospitalar.

Com relatos de novos ataques aéreos israelenses em Gaza durante a noite de quarta-feira, a Agência da ONU de Assistência aos Refugiados Palestinos, Unrwa, alerta que mais crianças foram mortas nos últimos meses do que em quatro anos de conflito em todo o mundo. 

O comissário-geral da Unrwa, Philippe Lazzarini, afirmou que o conflito é uma “guerra contra as crianças” e o futuro delas. Ele descreveu como "espantosos" os dados mais recentes da autoridade de saúde de Gaza, indicando que pelo menos 12,3 mil jovens morreram no enclave nos últimos quatro meses, em comparação com 12,1 mil em todo o mundo entre 2019 e 2022.

As crianças em Gaza estão expostas a traumas profundamente angustiantes
© Unrwa
As crianças em Gaza estão expostas a traumas profundamente angustiantes

Pedido de cessar-fogo

Em sua rede social, o chefe da Unrwa reiterou os apelos internacionais por um cessar-fogo imediato na área. Até o momento, mais de 31 mil palestinos foram mortos e pelo menos 72 mil ficaram feridos, de acordo com as autoridades de saúde locais. 

Nesta terça-feira, o exército israelense afirmou que 247 soldados israelenses foram mortos em Gaza e 1.475 ficaram feridos desde o início da operação terrestre.

Os trabalhadores humanitários da ONU seguem alertando sobre a situação na Faixa de Gaza, onde uma em cada quatro pessoas está em risco de fome, ou pelo menos 576 mil pessoas. 

Cerca de 25 pessoas já morreram de desnutrição aguda grave e desidratação no norte, de acordo com o Escritório da ONU para Assuntos Humanitários, Ocha, sendo que 21 delas são crianças.

O Fundo das Nações Unidas para a Infância, Unicef, alertou que os jovens estão entre os menos capazes de lidar com a fome e as doenças. Eles correspondem a 1 milhão dos deslocados pela guerra. Além disso, cerca de 17 mil crianças estão desacompanhadas ou separadas, o equivalente a 1% dos 1,7 milhão de habitantes deslocados de Gaza.

Algum alívio para o norte de Gaza 

Os esforços da ONU para ajudar a aliviar a situação em meio aos contínuos combates e bombardeios israelenses incluíram um comboio de ajuda do Programa Mundial de Alimentos, PMA, para a Cidade de Gaza na terça-feira. Foi a primeira missão bem-sucedida da agência ao norte desde 20 de fevereiro.

Na semana passada, 19 parceiros da ONU alcançaram uma média diária de 200 mil pessoas em Gaza com assistência alimentar, incluindo pacotes de alimentos e refeições quentes. Segundo o Ocha, mais de dois terços desse estão em Rafah e o restante em Deir al Balah, Khan Younis e outras áreas.

OMS liderou em 19 de novembro uma segunda missão da ONU ao Hospital Al-Shifa em Gaza. 31 bebês foram evacuados, juntamente com 6 profissionais de saúde e 10 familiares da equipe.
OMS
OMS liderou em 19 de novembro uma segunda missão da ONU ao Hospital Al-Shifa em Gaza. 31 bebês foram evacuados, juntamente com 6 profissionais de saúde e 10 familiares da equipe.

Ajuda hospitalar

Enquanto isso, a Organização Mundial da Saúde, OMS, e seus parceiros chegaram a mais dois hospitais no norte de Gaza na segunda-feira - Al Shifa e Al Helou. A agência da ONU também conseguiu entrar em outras instalações no fim de semana.

Alimentos e 24 mil litros de combustível foram entregues ao Al Shifa, juntamente com suprimentos médicos para 42 mil pacientes, incluindo medicamentos, drogas anestésicas e materiais cirúrgicos.

Em sua rede social, o diretor-geral da OMS, Tedros Ghebreyesus, disse que o Al Shifa estava funcionando apenas com o mínimo e precisava urgentemente de profissionais de saúde especializados. 

Segundo ele, as necessidades continuam extremas no hospital Al Helou, com serviços limitados em todos os departamentos, juntamente com a escassez de combustível, alimentos, equipamentos cirúrgicos e equipe médica.