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Auxílio essencial e agrícola chega a 10 milhões de vítimas do conflito no Sudão

Uma menina de 12 anos (à direita), que vive em um campo para deslocados no estado de Darfur do Norte, no Sudão, diz que foi estuprada por soldados do governo
Unicef/Ron Haviv
Uma menina de 12 anos (à direita), que vive em um campo para deslocados no estado de Darfur do Norte, no Sudão, diz que foi estuprada por soldados do governo

Auxílio essencial e agrícola chega a 10 milhões de vítimas do conflito no Sudão

Ajuda humanitária

Guerra iniciada há nove meses provocou mais de 7 milhões de deslocados internos; metade do número são crianças; país é maior crise de deslocamento infantil no mundo.

A ONU Mulheres e a Associação Sudanesa para o Desenvolvimento de Mulheres e Crianças, Wcda, prestam auxílio a deslocados das áreas afetadas pelo conflito que opõe as Forças Armadas do Sudão e as Forças de Apoio Rápido, RSF.

O auxílio essencial para centenas de mulheres em Jabait, leste do país, inclui kits de higiene, água, utensílios domésticos e outras formas de ajuda que contribuem para melhorar as condições de vida dos deslocados internos.

Kits de higiene 

Segundo as Nações Unidas, mais de 7,3 milhões de pessoas fugiram das suas casas, em nove meses de conflito. As crianças representam cerca de metade da cifra, no país com a maior crise de deslocamento infantil do mundo.

Um dos exemplos é o da jovem Yousif, de cerca de 20 anos de Nyala, em Darfur. Ela fugiu da cidade de origem com a mãe, a irmã e o filho recém-nascido devido aos combates ocasionados por um ataque dos paramilitares do RSF. 

Yousif explicou que o marido e os irmãos ficaram para trás, numa viagem de dois dias até à cidade de El Daein, no sul.

A jovem, que deu à luz por meio de uma cesariana, e a família permaneceram em El Daein durante cerca de três meses para se recuperar, mas à medida que a vida se tornou mais difícil, todos tiveram que mudar-se para Porto Sudão, no oriente e depois para Jabait.

Reunificação

Apesar da relativa segurança em Jabait, Yousif está preocupada com a irmã que regressou a Nyala, há dois meses, para convencer os irmãos a juntarem-se a eles. Enquanto espera pelas notícias da irmã e do marido, Yousif soube da morte de dois primos, cuja casa foi atingida por uma granada, e de uma vizinha que foi decepada.

Dados indicam que 163 parceiros humanitários locais prestaram assistência vital a cerca de 4,9 milhões de pessoas em todo o Sudão. Cerca de 5,7 milhões de de beneficiários tiveram apoio agrícola e de subsistência entre abril e novembro.

A ONU Mulheres atua com cinco organizações parceiras num plano humanitário de emergência no Sudão, em colaboração com grupos locais. O Serviço de Emergência do Estado do Mar Vermelho está envolvido na ajuda aos mais necessitados.

A advogada voluntária do grupo Women Awareness Raising, Samira Muhammad Suleiman, integra o Programa Emergency Room. Ela confirmou a entrega de mil kits de higiene às mulheres deslocadas no mês de dezembro. 

A funcionária destacou que elas “precisam urgentemente dos itens devido a sensibilidade e especificidade da situação”. 

Serviços humanitários

Outra vítima do conflito é Asmaa Hassan Ali, que também fugiu de Darfur. Ela chegou a Porto Sudão com alguns dos familiares, incluindo duas filhas, e está hospedada no campo de acolhimento Mohamed Shaybah.

No local onde a ONU Mulheres presta serviços humanitários, Hassan Aly lamenta que tenha sido obrigada a abandonar pessoas e o desafio de satisfazer as necessidades pessoais e básicas às filhas. 

Embora a ajuda tenha alcançado milhões, no terreno a situação permanece terrível, segundo a ONU. A prestação de assistência humanitária é afetada pela insegurança, saques, impedimentos burocráticos e fraca conetividade telefónica.

Outros desafios incluem a falta de dinheiro, pessoal técnico e humanitário e combustível que tem também afetado a circulação do pessoal e suprimentos humanitários.