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Sudão enfrenta maior crise de deslocamento interno do mundo

Mães levam seus filhos para exames nutricionais em uma clínica móvel de saúde no estado de Kassala, no Sudão.
© UNICEF/Osman
Mães levam seus filhos para exames nutricionais em uma clínica móvel de saúde no estado de Kassala, no Sudão.

Sudão enfrenta maior crise de deslocamento interno do mundo

Migrantes e refugiados

Seis meses após início de conflito, o país tem mais de 7,1 milhões de pessoas deslocadas internamente; situação é agravada por violações dos direitos humanos, com quase 4 mil civis mortos e 8,4 mil feridos, muitos devido à sua etnia; crianças deslocadas são especialmente afetadas, com escolas fechadas, interrompendo o acesso à educação. 

Seis meses após o início do conflito, o Sudão abriga a maior crise de deslocamento interno do mundo, com mais de 7,1 milhões de pessoas deslocadas dentro do país.

Dessas, 4,5 milhões foram deslocadas desde o início da violência em meados de abril, de acordo com os dados mais recentes da Organização Internacional para as Migrações, OIM.

Refugiados do Sudão esperam para recolher itens de ajuda numa aldeia fronteiriça no Chade.
© Unicef/Donaig Le Du
Refugiados do Sudão esperam para recolher itens de ajuda numa aldeia fronteiriça no Chade.

Conflito e movimentos migratórios

Aproximadamente 3 milhões são originalmente de Cartum, a capital e epicentro do conflito. 

Além disso, mais de 1,2 milhão de pessoas fugiram para países vizinhos, com o Chade recebendo o maior número de refugiados, seguido por Egito, Sudão do Sul, Etiópia, República Centro-Africana e Líbia.

A diretora-geral da OIM, Amy Pope, afirma que a situação humanitária no Sudão é catastrófica, sem um fim à vista, com os civis sofrendo as consequências.

Ela pede que a comunidade internacional “não abandone o Sudão” e apoie urgentemente os esforços de socorro antes que a violência avance para uma tragédia humanitária “ainda mais profunda”.

Colapso social

A onda de pessoas recém-deslocadas em todo o Sudão sobrecarregou os serviços públicos e os recursos nas áreas de chegada, criando condições de vida terríveis para milhões de pessoas.

A situação é agravada pela significativa degradação da infraestrutura, pelo colapso dos serviços bancários e financeiros, pelas frequentes interrupções na internet, telecomunicações e fornecimento de eletricidade e pela destruição das instalações de saúde.

Uma vista da cidade de El Geneína, a capital de Darfur Ocidental, Sudão.
Unamid/Hamid Abdulsalam
Uma vista da cidade de El Geneína, a capital de Darfur Ocidental, Sudão.

Serviços de saúde

Quase 80% da população deslocada relatou que os serviços de saúde não estão disponíveis ou são inadequados e 86% das pessoas não tem eletricidade, de acordo com os dados da Matriz de Acompanhamento de Deslocamento da OIM.

A OIM está atuando na resposta desde o início do conflito, fornecendo assistência a mais de 444 mil pessoas no Sudão. A organização está expandindo suas operações, abrindo novos escritórios em cidades como Kosti, Wad Madani e Wadi Halfa.

Até o momento, apenas 28% do apelo da OIM para o Sudão e países vizinhos foi atendido. 

A OIM apela urgentemente à comunidade internacional por financiamento adicional e apoio na facilitação de acesso irrestrito e seguro para entregar ajuda crítica onde é mais necessária.

Violação dos direitos humanos

A agência da ONU para Refugiados, Acnur, alerta para o aumento de mortes e graves violações dos direitos humanos contra civis em Darfur, incluindo refugiados e pessoas deslocadas internamente nos últimos seis meses.

De acordo com o Acnur, quase 4 mil civis foram mortos e 8,4 mil ficaram feridos em Darfur, entre 15 de abril e o final de agosto. A agência estima que a maioria deles tenha sido alvo principalmente devido à sua etnia. 

Crianças deslocadas, incluindo refugiados, foram pegas no fogo cruzado, mortas ou mutiladas à medida que suas escolas foram atingidas por bombardeios. Aqueles que chegaram a locais seguros enfrentam angústia psicológica aguda.

A infraestrutura civil também foi alvo e pelo menos 29 cidades, vilas e aldeias foram destruídas em todo Darfur após saques e incêndios extensivos. 

Pontos de água comunitários, escolas, mercados e hospitais, foram destruídos, danificados, saqueados ou ocupados. Profissionais de saúde que tentam operar clínicas improvisadas em residências particulares foram deliberadamente alvejados.

Uma mãe leva seu filho doente a um centro de saúde apoiado pelo Unicef no norte de Darfur, durante o conflito no Sudão.
© Unicef/Mohamed Zakaria
Uma mãe leva seu filho doente a um centro de saúde apoiado pelo Unicef no norte de Darfur, durante o conflito no Sudão.

Crianças

As escolas em Darfur foram fechadas, interrompendo o acesso à educação e a espaços seguros para milhões de crianças, que ficam expostas a sérios riscos de violência sexual, trauma e separação de suas famílias. 

O número de crianças não acompanhadas e separadas das famílias está aumentando. 

Conforme o conflito destruiu meios de subsistência, menores refugiados permanecem em risco elevado de sequestro para trabalho forçado, recrutamento em grupos armados e tráfico de pessoas.

Civis que tentam deixar a região em busca de segurança relataram ter sido impedidos de fugir ou terem sido presos e detidos em postos de controle.

Financiamento

O Acnur e seus parceiros continuam monitorando a situação, incluindo através de redes de proteção comunitária em todos os estados de Darfur, alcançando mais de 90 mil pessoas com informações e serviços sempre que possível. 

A falta de financiamento também é um problema para o Acnur, deixando ainda mais difícil responder às necessidades das pessoas, tanto dentro do Sudão como nos países vizinhos.

 O Plano de Resposta Humanitária do Sudão, que visa atender 17 milhões de pessoas no interior do país, está apenas um terço financiado. 

Já o Plano Regional de Resposta a Refugiados do Sudão, que solicita US$ 1 bilhão para atender às necessidades de 1,8 milhão de pessoas no Chade, República Centro-Africana, Egito, Etiópia e Sudão do Sul, recebeu apenas 29% dos fundos necessários.