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Conselho de Segurança realiza reunião a pedido da Rússia e da Ucrânia

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ONU/Manuel Elias
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Conselho de Segurança realiza reunião a pedido da Rússia e da Ucrânia

Paz e segurança

Sessão debateu perseguições a membros da Igreja Ortodoxa e ataques à cidade de Odessa, com destruição de portos e patrimônio cultural; Brasil e Moçambique levantam preocupações com gerações futuras e guerra comercial e incentivam tolerância e reconciliação.

O Conselho de Segurança das Nações Unidas debateu, nesta quarta-feira, dois temas relacionados à guerra na Ucrânia. O primeiro, solicitado pela Rússia, foi a “perseguição de seguidores da Igreja Ortodoxa canônica” e o segundo, a pedido da Ucrânia, tratou do “bombardeio de Odessa”, que destruiu a catedral da cidade no domingo.

Ambos os temas foram tratados no item “Ameaças à paz e segurança internacionais” da agenda do órgão. 

“Politização da religião”

A diretora da Aliança das Civilizações das Nações Unidas, Nihal Saad, disse que “a politização da religião na Guerra da Ucrânia impulsiona tensões entre comunidades, estimula o medo e desencadeia a violência.”

Os dados mais recentes da Missão de Monitoramento dos Direitos Humanos na Ucrânia apontam que incidentes de violência contra membros e apoiadores da Igreja Ortodoxa Ucraniana aumentaram entre fevereiro e abril deste ano. 

Saad citou que autoridades ucranianas colocaram clérigos em prisão domiciliar, que diversas cidades baniram as atividades da igreja e que foi observado um “aumento preocupante do discurso de ódio”. 

Ela também mencionou que nos territórios ocupados pela Rússia foram reportados casos de desaparecimento, detenção, tortura e deportação de clérigos da Igreja Católica Grega Ucraniana e das comunidades Evangélicas Cristãs. 

A diretora concluiu sua fala ao Conselho pedindo que ambas as partes respeitem e defendam os direitos humanos fundamentais, incluindo a liberdade de religião ou crença e o “direito de manifestar e praticar a própria religião livremente e com segurança.”      

A Catedral da Transfiguração em Odesa sofre os efeitos do bombardeio
Ocha/Saviano Abreu
A Catedral da Transfiguração em Odesa sofre os efeitos do bombardeio

               

Ataques inaceitáveis

Em referência aos recentes bombardeios russos na cidade ucraniana de Odessa, o assistente do secretário-geral para Oriente Médio, Ásia e Pacífico, Khaled Khiari, disse que os ataques a infraestruturas civis são “inaceitáveis e devem parar imediatamente.”

Ele citou relatos de novas ofensivas russas contra portos ucranianos, inclusive unidades de armazenamento de grãos em Reni e Izmail, no rio Danúbio. 

Além disso, Khiari afirmou que a Organização das Nações Unidas para Educação, Ciência e Cultura, Unesco, já identificou danos em 274 áreas culturais, incluindo 117 centros religiosos. 

Ele apelou à Rússia que “interrompa imediatamente os ataques contra patrimônios culturais protegidos por instrumentos normativos internacionais amplamente ratificados.” 

Brasil e Moçambique

No primeiro debate, o embaixador do Brasil na ONU, Sérgio Danese, lamentou “o fato de o conflito ter contaminado também os laços entre as comunidades ortodoxas na Rússia e na Ucrânia.” 

Ele encorajou iniciativas para promover “um ambiente de tolerância e respeito pela diversidade religiosa” e disse que “sob nenhuma circunstância”, as práticas religiosas devem ser “usadas para fomentar tensões.”

Já o embaixador Domingos Fernandes, vice-chefe da Missão de Moçambique junto à ONU, disse que o país está “profundamente preocupado com a escalada do conflito.” Ele disse que a experiência de Moçambique atesta a importância da fé e da espiritualidade como “pilares essenciais para promover a reconciliação dentro e entre comunidades”.

Sobre o segundo debate, o Brasil lamentou os ataques recentes em Odessa e apoiou o potencial envio de uma missão da Unesco para “verificar a extensão da destruição.” E que o nível de dano à infraestrutura civil pode “comprometer o futuro de gerações.” 

Para o embaixador Fernandes, esses ataques “podem levar a uma guerra comercial e uma extensão não-intencional do conflito para águas internacionais”. Ele citou o temor de que “navios neutros de outras nações, passando por essa rota naval crucial, se tornem alvos.”

Brasil e Moçambique ocupam assentos rotativos no Conselho de Segurança.