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Conflito no Sudão está escalando para violência étnica, diz enviado da ONU

Uma família se posiciona no ponto de fronteira de Joda em Renk, no Sudão do Sul, onde dezenas de milhares de repatriados sul-sudaneses cruzaram depois de fugir da violência no Sudão
Acnur/Charlotte Hallqvist
Uma família se posiciona no ponto de fronteira de Joda em Renk, no Sudão do Sul, onde dezenas de milhares de repatriados sul-sudaneses cruzaram depois de fugir da violência no Sudão

Conflito no Sudão está escalando para violência étnica, diz enviado da ONU

Paz e segurança

Representante especial do secretário-geral no país, Volker Perthes, alertou Conselho de Segurança sobre implicações para toda a região; ele condenou uso de hospitais como posições militares e violência sexual contra mulheres; 860 pessoas morreram, sendo 190 crianças.

O crescente tom étnico do conflito no Sudão pode mergulhar o país em uma guerra prolongada, com implicações para toda a região.

Esse foi o alerta do representante especial do secretário-geral da ONU para o Sudão, Volker Perthes, ao falar ao Conselho de Segurança, nesta segunda-feira.

Quatro prioridades

O enviado disse que na capital do país, Cartum, e na cidade de Darfur ambas as partes do conflito seguem desrespeitando as leis e regras da guerra.

Perthes destacou quatro prioridades centrais para reverter a situação da nação africana e disse que é necessário um “cessar-fogo estável, acompanhado de um mecanismo de monitoramento”.

O representante especial acredita que no longo prazo, o objetivo é reestabelecer um processo político marcado por “ampla participação de atores civis e políticos, inclusive mulheres”.

Segundo dados da ONU, 860 pessoas morreram, sendo 190 delas crianças. A quantidade de sudaneses que fugiram da violência ultrapassa um milhão. Existem 840 mil deslocados internos e mais de 250 mil pessoas que atravessaram a fronteira para outros países. Quase 8 mil deslocados são mulheres grávidas.

Representante especial do secretário-geral para o Sudão, Volker Perthes, informa os membros do Conselho de Segurança sobre a situação no país
ONU/Eskinder Debebe
Representante especial do secretário-geral para o Sudão, Volker Perthes, informa os membros do Conselho de Segurança sobre a situação no país

Fronteiras abertas

O representante especial disse estar “grato” aos países que estão recebendo os refugiados sudaneses. Para ele, “é vital que as fronteiras continuem abertas para aqueles que estão buscando segurança”.

Perthes comentou que em El Geneina, no oeste de Darfur, o confronto passou para violência étnica em 24 abril quando “milícias tribais passara a lutar e civis pegaram em armas para se defender”.

Casas, mercados e hospitais foram saqueados e queimados. As instalações da ONU também foram saqueadas. Cerca de 450 civis morreram neste episódio.

O enviado declarou ainda ser “inaceitável” o uso de hospitais para fins militares. Ele citou também relatos de violência sexual contra mulheres e meninas e disse que as Nações Unidas estão investigando os casos.

Refugiados do Sudão esperam para coletar itens essenciais não alimentícios durante a distribuição em Koufroun, um vilarejo chadiano perto da fronteira sudanesa
Unicef/Donaig Le Du
Refugiados do Sudão esperam para coletar itens essenciais não alimentícios durante a distribuição em Koufroun, um vilarejo chadiano perto da fronteira sudanesa

Violação de acordo

Os combates entre as Forças Armadas Sudanesas e as Forças de Apoio Rápido, RSF, iniciados em 15 de abril, continuam.

Em 11 de maio, ambas as partes adotaram uma Declaração de Compromisso para Proteger os Civis do Sudão. O texto ficou conhecido como acordo de Jedá, em referência à cidade da Arábia Saudita.

Pelo menos 11 ataques contra instalações humanitárias em Cartum e quatro ataques a instalações de saúde foram relatados desde a assinatura da Declaração.

Uma paisagem da cidade de El Geneina, capital de Darfur Ocidental, Sudão
Unamid/Hamid Abdulsalam
Uma paisagem da cidade de El Geneina, capital de Darfur Ocidental, Sudão

Aumento do conflito em El Geneina

Um novo acordo para um cessar-fogo de curto prazo e arranjos humanitários foi assinado pelas partes neste sábado e deve entrar em vigor após 48 horas.

O Escritório de Assistência Humanitária da ONU, Ocha, aponta que o conflito aumentou em El Geneina, deslocando pelo menos 85 mil pessoas e deixando civis sem acesso a cuidados de saúde, água e suprimentos básicos.

O Plano de Resposta Humanitária revisado para o Sudão pede US$ 2,6 bilhões para fornecer assistência vital a 18,1 milhões de pessoas no país.