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Ensino de matemática a meninas é negligenciado por discriminação e estereótipos BR

Ensino de matemática a meninas é negligenciado por discriminação e estereótipos
Unicef/Raphael Pouget
Ensino de matemática a meninas é negligenciado por discriminação e estereótipos

Ensino de matemática a meninas é negligenciado por discriminação e estereótipos

Cultura e educação

Relatório do Unicef revela que meninos tem 1,3 mais chances de terem boas habilidades matemáticas; disparidade é baseada em normas de gênero, que devem ser vencidas, de acordo com o fundo da ONU para infância; renda e efeitos da pandemia também atrasam ensino da matéria.

Um novo relatório publicado na quarta-feira pelo Fundo das Nações Unidas para a Infância, Unicef, revelou uma crescente disparidade mundial nas habilidades matemáticas entre meninas e meninos. O documento alerta sobre como questões de sexismo e estereótipos de gênero negligenciam o potencial das meninas na sala de aula.

O levantamento apresenta novas análises de dados que abrangem mais de 100 países e territórios, que revelam que os meninos têm até 1,3 vezes mais chances de obter as habilidades matemáticas necessárias em comparação com as meninas.

 Meninas em uma escola no Senegal. Novos dados confirmam que a diferença na taxa de meninas e meninos fora da escola diminuiu em todo o mundo
© UNICEF/Vincent Tremeau
Meninas em uma escola no Senegal. Novos dados confirmam que a diferença na taxa de meninas e meninos fora da escola diminuiu em todo o mundo

Estereótipos de gênero

Segundo as análises, normas e estereótipos de gênero negativos, muitas vezes mantidos por professores, pais e colegas em relação à incapacidade das meninas de entender matemática, estão contribuindo para essa disparidade.

Esses estereótipos são projetados em meninas e muitas vezes diminuem sua autoconfiança e as fazem fracassar, avalia o Unicef.

O relatório reconhece ainda os efeitos de longo prazo das disparidades de gênero, notando como os meninos são mais propensos a intensificar e se candidatar a empregos em matemática. A descoberta representa uma grande diferença de gênero, privando o mundo de talentos nas áreas de ciência, tecnologia, engenharia e matemática.

Oportunidades perdidas

Segundo a diretora executiva do Unicef, Catherine Russell, as meninas têm a mesma capacidade de aprender matemática que os meninos, mas não há oportunidades iguais para adquirir essas habilidades críticas.

Ela adiciona que é necessário dissipar os estereótipos e normas de gênero que bloqueiam as meninas e fazer mais para ajudar todas as crianças a aprender as matérias fundamentais e que precisam para ter sucesso na escola e na vida.

O relatório observa que aprender matemática enquanto criança fortalece a memória, a compreensão e a análise, melhorando a capacidade criativa das crianças. O Unicef ainda alerta que as crianças que não dominam matemática básica e outras aprendizagens fundamentais podem ter dificuldades para realizar tarefas críticas no futuro.

Os números que contam uma história

Uma análise de dados de 34 países de baixa e média renda apresentados no relatório mostra que, embora as meninas fiquem atrás dos meninos, três quartos das crianças em idade escolar na 4ª série do ensino fundamental não adquirem habilidades básicas em matemática.

Dados de 79 países de renda média e alta mostram que mais de um terço dos jovens de 15 anos ainda não atingiram proficiência mínima na matéria. Essas estatísticas revelam a profundidade das questões educacionais que afetam todos os gêneros.

A riqueza das famílias também é um fator determinante. O relatório observa que as crianças em idade escolar de famílias mais ricas têm 1,8 vezes mais chances de adquirir habilidades numéricas quando chegam à quarta série do que as crianças das famílias mais pobres.

Já as crianças que frequentam programas de educação e cuidados na primeira infância têm até 2,8 vezes mais chances de alcançar proficiência mínima em matemática aos 15 anos.

Unicef considera a decisão das autoridades de adiar o regresso à escola das alunas até o 12º ano de grande revés para as meninas
Unicef/Azizzullah Karimi
Unicef considera a decisão das autoridades de adiar o regresso à escola das alunas até o 12º ano de grande revés para as meninas

Efeitos do Covid-19

O relatório também observa o impacto que a pandemia de Covid-19 teve em disparidades de gênero ainda mais enraizadas. Da mesma forma, as interrupções em massa nos sistemas educacionais em todo o mundo atrasaram o progresso de todos os alunos.

Em países onde as meninas são mais propensas a não frequentar a escola, as disparidades gerais na proficiência em matemática vêm crescendo desde o início da crise de saúde

Virando a página

O Unicef está pedindo aos governos que se comprometam a alcançar todas as crianças com educação de qualidade e defendendo esforços e investimentos para reinscrever e manter todas as crianças na escola.

O fundo também recomenda o aumento do acesso à aprendizagem corretiva e de recuperação, além do apoio aos professores e a disponibilidade das ferramentas que necessitam. As escolas devem ser um ambiente seguro e de apoio para que todas as crianças estejam prontas para aprender.

Em seus comentários, Russell afirmou que com o aprendizado de uma geração inteira de crianças em risco, não é hora de promessas vazias. Segundo ela, para transformar a educação para todas as crianças, precisamos de ação imediata.