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Meninos lusófonos recebem prata e menção honrosa em concurso mundial de cartas 

Funcionário separa cartas.
Foto: UPU
Funcionário separa cartas.

Meninos lusófonos recebem prata e menção honrosa em concurso mundial de cartas 

Assuntos da ONU

Português de 10 anos conquista segundo lugar em competição com 1,2 milhão de jovens entre os 9 e os 15 anos; brasileira recebeu menção honrosa na iniciativa para marcar o Dia Mundial dos Correios, neste 9 de outubro.

O português José Duarte, de 10 anos, venceu a medalha de prata do 47º Concurso Internacional de Redação de Cartas para Jovens da União Postal Universal, UPU.

O Dia Mundial dos Correios é marcado esta terça-feira, 9 de outubro. O tema deste ano é “O Correio: entregando o bem para o mundo”.

Concurso

Os vencedores foram escolhidos numa competição global, que envolveu cerca de 60 países e mais de 1,2 milhão de crianças entre os 9 e os 15 anos.

O tema da competição deste ano foi “Imagine que é uma carta viajando no tempo. Que mensagem deseja transmitir aos seus leitores?”

A carta vencedora foi escrita por Chara Phoka, de 13 anos, do Chipre, e conta a história da viagem de uma carta do sul da Ásia para a Europa. O terceiro lugar ficou para Nguyen Thi Bach Duong, de 14 anos, do Vietname. 

A brasileira Clarice Rilyane Oliveira da Silva, de 15 anos, foi uma das cinco jovens que recebeu uma menção honrosa.

A cerimónia de entrega dos prémios acontece esta terça-feira na sede da UPU em Berna, na Suíça.

“Entregar o Bem”

Em nota publicada para marcar o dia, o secretário-geral da ONU, António Guterres, disse que os correios são “um centro vital de vida comunitária em todos os lugares”.

Em todo o mundo, existem 600 mil postos de correio. Para o chefe da ONU, a data “destaca a importância do setor não apenas para entregar correio, mas para entregar o bem”.

Segundo ele, o sistema oferece apoio durante desastres naturais, presta serviços financeiros para centenas de milhões de pessoas e leva informações essenciais em tempos de crise.

Guterres acredita que esta rede, através dos seus tratados internacionais, “é uma voz constante para o multilateralismo e uma força para a Agenda 2030 para o Desenvolvimento Sustentável”. Segundo ele, “também promove alfabetização e educação para crianças.”

Importância

Em nota, o diretor-geral da UPU, Bishar Hussein, disse que “todos os dias, em todo o mundo, os serviços postais fazem a diferença na vida das pessoas e das comunidades”.

Hussein acredita que “prestando serviços de comunicação acessíveis e de confiança, o correio tem trazido o bem para o mundo”.

Segundo ele, os correios promovem a inclusão social, combatem a exclusão financeira e, para muitas pessoas, são a única forma de receber informação crucial sobre educação, saúde e segurança.

Para concorrer, as cartas tinham que estar escritas em inglês ou francês. Leia aqui, na integra, a carta escrita por José Duarte traduzida pela ONU News:

Nome completo: José Duarte

Idade: 10 anos
País: PORTUGAL
Terra da Esperança, 1 de janeiro de 2020

Meu querido amigo
Olá! Eu sou a Ângela, uma carta muito viajada.
Decidi contar-te a minha aventura.
Tudo começou há muitos anos, quando dois colegas e amigos terminaram o 4º ano.
O Marco ia com a sua família para um novo país, longe, cheio de montanhas cobertas de neve.
O Miguel ficaria na mesma aldeia, na mesma casa com os pais e avós.
Ao dizerem adeus, o Miguel disse:
- Assim que chegares na tua nova casa, não te esqueças de escrever!
- Prometido!, respondeu o Marco, sorrindo, beijando seu cão já no carro cheio de malas.
Passaram-se dois meses e a escola começou. Tudo era novo para o Marco. O país, a casa, a escola, a língua e os colegas. Então ele pensou em escrever para o seu amigo Miguel.
E foi assim que eu nasci. Uma linda carta para o Miguel.
Fui colocado num envelope com um selo muito bom: uma imagem de um campo com vacas malhadas e uma montanha coberta de neve no fundo.
Viajei de avião e senti-me importante.
Depois de uma semana, o carteiro deixou-me na caixa de correio do Miguel. No entanto, naquele dia, ninguém veio me buscar. Os dias passaram e outras coisas caíram em mim. Fiquei triste.

Finalmente, alguém abriu a caixa e retirou-nos a todos, colocando-nos numa mesa. As outras cartas foram escolhidas uma por uma.
Eu fiquei sozinho e esquecido, debaixo da mesa. E assim, fiquei por anos, vendo a luz através das fendas das janelas, ouvindo os pássaros lá fora.
Um dia acordei cedo com grande comoção na casa. Quando ouvi crianças, pensei que era finalmente o Miguel e que a carta chegaria ao destinatário ...
- Mãe, há uma carta velha aqui na mesa. Coloco na caixa? -, perguntou a menina. 
- Deixe aquela, Ana, está cheia de poeira. Vá para a cozinha e termine de comer o bolo. - respondeu a mãe.
Mas a menina, curiosa, pegou em mim com os dedos cobertos com bolo de chocolate e me afastou dos seus livros. Hmm ... Foi assim que aprendi que o chocolate é tão bom e que os livros cheiram bem ...
Fiquei em um livro por muitos anos até que um dia a Ana, já mulher, decidiu oferecer todos os livros dos seus filhos para uma associação perto da sua universidade.
E aqui estou eu, toda feliz viajando de comboio. Nunca viajei assim.
Chegando à cidade estudantil, ainda em um livro escrito por um tal de Júlio Verne, entrei em uma caixa cheia de outros livros, construindo cenários e estatuetas.
E fiquei até que a Fátima me veio buscar. Essa menina era como Marco; também estava com a sua família em um país estranho, em uma escola estranha e sem saber falar a língua. Ela gostou da capa do livro: um balão de ar quente grande e colorido.
Ela decidiu trazer o livro para a escola, com a ajuda da professora, para aprender um pouco mais e sonhar com um futuro feliz, longe dos conflitos do seu país de nascimento.
Ela colocou o livro na mochila e no dia seguinte fomos à escola de bicicleta. Foi ótimo, nunca tinha andado de bicicleta!
Quando Fátima estava na escola folheando o livro, eu caí. Ela me pegou com cuidado e admirou o meu lindo selo postal com as vacas malhadas e duas estampas de chocolate.

Não sabendo o que fazer comigo, ela decidiu mostrar-me para a professora, que ficou muito curiosa.

Meu amigo leitor, não vai acreditar! A professora ficou tão curiosa que me levou para casa.
- Miguel, olha o que estava em um livro - ela disse ao marido.
- Mas esta carta é para mim, Miguel Mala-Posta sou eu. E o endereço é o da antiga casa dos meus avós na aldeia - respondeu o marido com entusiasmo ...
Miguel? Ele seria o Miguel que eu estava procurando há 30 anos? Bem ... Mala-Posta é um sobrenome especial. Como isso é possível? Essas coisas acontecem na vida ...
De repente, Miguel leu a carta de seu amigo Marco e escreveu uma resposta. Felizmente, Marco ainda morava na mesma casa, naquele país com neve, e o encontro ficou marcada.
Os dois amigos finalmente se reuniram novamente.
Quanto a mim ... agora estou emoldurada e colocada com destaque numa parede da sala de estar.
Sempre tive a esperança de chegar ao destino.
Nunca parei de sonhar.
Não pare também, meu amigo.
Grandes beijos.

Ângela