Receitas de migrantes devem atingir o dobro da ajuda internacional a África
Previsão do secretário executivo da ECA é para os próximos três anos; Carlos Lopes disse faltar estratégia no continente para lidar com migração; por ano, 10% dos africanos que saem do continente seguem rota do Mediterrâneo.
Eleutério Guevane, da Rádio ONU em Nova Iorque.*
As tendências da migração de africanos levaram a Comissão Económica das Nações Unidas para África, ECA, a criar um grupo para estudar o fenómeno no continente.
Falando à Rádio ONU, de Adis Abeba, o secretário executivo Carlos Lopes disse que deve haver um maior debate dos governantes africanos sobre o tema.
Desenvolvimento
“Do ponto de vista de África, não existe uma estratégia para imigração. Não existe uma discussão séria sobre a questão. É evidente que nós já estamos a beneficiar do ponto de vista macroeconómico. As remessas de imigrantes estão a aumentar consideravelmente. Neste momento, já chegam a quase dois terços da ajuda internacional a África e podem chegar ao dobro da ajuda internacional a África nos próximos dois a três anos. É muito significativo.”
O chefe da ECA disse, entretanto, que o dinheiro que os migrantes mandam para casa não deve ter maior atenção dos governos.
Para o representante, há riscos que devem ser levados em conta apesar de os números da mobilidade no continente serem “relativamente pequenos em relação aos de outras regiões”.
Deserto e Mar
“Os países têm tendência a olhar para este aspeto e ignorar o resto, e aí temos, portanto, uma certa ignorância da liderança africana em relação às tragédias no deserto ou no mar, onde uma parte dessa migração é feita de forma clandestina, ilícita e com máfias a aproveitarem-se das dificuldades humanas.”
Lopes citou estimativas de que 200 mil africanos tentam passar para a Europa por ano pelo mar Mediterrâneo, de um total de 2 milhões de pessoas do continente que saem para o estrangeiro.
Em setembro, a Assembleia Geral realiza uma reunião de alto nível sobre os movimentos de migrantes e refugiados. Para Carlos Lopes, o nível da atenção mundial é muito alto e nesse encontro global deve haver uma maior concertação de políticas.
*Apresentação: Mônica Grayley.
Leia e Oiça:
Apesar de enfrentar ano mais difícil desde 2000, África revela crescimento
Investimento chinês em África pode subir mais de 250% nos próximos três anos