Relator alerta sobre iminência de grande crise alimentar no Iémen
Especialista avisa que 1,2 milhão de crianças devem sofrer de desnutrição aguda nas próximas semanas; presidente da Cruz Vermelha disse ter ficado consternado pelo sofrimento que viveu ao visitar o país.
Eleutério Guevane, da Rádio ONU em Nova Iorque.
O relator especial das Nações Unidas sobre o direito à alimentação alertou esta terça-feira para a iminência de uma "grande crise alimentar" no Iémen.
Em nota, Hilal Elver disse que à medida que o conflito aumenta, mais de 12,9 milhões de pessoas sobrevivem sem acesso adequado a alimentos básicos. Cerca de 6 milhões enfrentam insegurança alimentar grave.
Crianças
A grande preocupação do perito é com o que considera uma "situação humanitária calamitosa". Se o conflito continuar no nível atual, "1,2 milhão de crianças devem sofrer de desnutrição aguda nas próximas semanas". O problema já afeta 850 mil menores.
O cerco a províncias como Áden, Al Dhali, Lahj e Taiz impede que alimentos básicos como trigo cheguem à população civil. O relator cita ataques aéreos que "alegadamente atingiram mercados locais e camiões carregados de alimentos".
O especialista pediu uma nova pausa humanitária, na nota que também adverte que a fome deliberada de civis tanto em conflitos armados internos como internacionais pode constituir um crime de guerra.
Crime contra a Humanidade
Elver destacou que medida pode também ser considerada um crime contra a humanidade, "se houver recusa deliberada e privação de fontes de alimentos".
Entretanto, o presidente da Cruz Vermelha terminou a sua visita ao Iémen, onde revelou ter ficado consternado pelo sofrimento que testemunhou. Em três dias, Peter Maurer esteve nas cidades iemenitas de Sanaa e Áden.
Para ele, a situação não é "nada menos que catastrófica". Maurer disse que cada família foi afetada pelo conflito e que "as imensas dificuldades pioram a cada dia".
O representante sublinhou que o mundo precisa despertar para o que acontece no Iémen. Os efeitos agravados dos combates intensos e das restrições de importação "têm impacto dramático na saúde".
Assistência
Ele descreveu instituições de saúde atacadas de forma massiva e que sofrem danos colaterais. Com a falta de medicamentos, a "assistência ao paciente está em queda".
Sem combustível, os equipamentos não funcionam e nem podem ser feitas campanhas de vacinação com a insegurança. Ele disse que os combates transformam a ida ao hospital num risco perigoso, no que considera "espiral descendente que coloca milhares de vidas em risco".
A Cruz Vermelha estima que, desde março, cerca de 4 mil pessoas morreram e mais de 19 mil ficaram feridas no conflito iemenita. Pelo menos 1,3 milhões de iemenitas foram obrigados a fugir das suas casas.
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