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Alto comissário compara situação no Sudão do Sul a um “barril de pólvora”

Refugiados sul-sudaneses. Foto: Irin/Binyam Tamene

Alto comissário compara situação no Sudão do Sul a um “barril de pólvora”

Zeid Al Hussein, chefe de direitos humanos da ONU, lamenta que civis continuam a ser alvo de assassinatos e a passar por condições de vida desesperadoras; em um ano de conflito, país gerou 1,4 milhão de deslocados.

Leda Letra, da Rádio ONU em Nova Iorque.

O alto comissário da ONU para os direitos humanos divulgou um comunicado esta segunda-feira a marcar um ano de conflito no Sudão do Sul. Zeid Al Hussein considera “terrível” a situação dos civis, que segundo ele, são “vítimas de assassinatos, pilhagens, violência e estão a sobreviver em condições de vida desesperadoras”.

Segundo o alto comissário, há “fortes indícios” de que os confrontos poderão se intensificar com o início da temporada de secas no país mais novo do mundo. Por isso, Zeid pede a todos os lados que se envolvam num diálogo significativo e trabalhem para restaurar a calma.

Deslocados

O chefe de direitos humanos da ONU comparou a situação no Sudão do Sul a um “barril de pólvora” e disse que “as emoções estão em alta, há um fluxo abundante de armas, com os dois lados em conflito a recrutar combatentes e muitas vezes, a forçar crianças a lutar”.

Zeid citou dados recentes da ONU, que calcula em 1,4 milhão o total de civis que deixaram suas casas e agora estão deslocados dentro do país. Outros 500 mil buscaram refúgio em nações vizinhas. E as bases da Missão das Nações Unidas no Sudão do Sul, Unmiss, continuam a abrigar 97 mil pessoas.

Abusos

A violência no Sudão do Sul iniciou a 15 de dezembro do passado ano com um conflito político entre o presidente Salva Kiir e seu ex-vice, Riek Machar. A violência eclodiu para além da capital Juba e um ano depois, “os civis continuam a ser vítimas de assassinatos caso pertençam a um grupo diferente do grupo armado em controlo”, advertiu Zeid.

O alto comissário denunciou os abusos dos direitos humanos e citou a falta de esperança entre os civis a viver nos campos para deslocados, “sem liberdade de movimento, a viver com pavor”, com as crianças sem ir à escola há um ano.

Recuperação

Zeid alertou que mesmo com o fim do conflito, pode levar meses ou até anos para que essas famílias sul-sudanesas voltem a levar uma vida normal, já que tiveram suas casas destruídas, foram vítimas de violência e perderam a época de plantio, de onde muitos obtêm seu sustento.

O alto comissário para os direitos humanos destacou que são esperadas conversações para esta semana e neste sentido, apelou aos lados em conflito para restaurar a calma e evitar outra catástrofe humanitária no país.

Zeid pede ainda aos líderes políticos para que declarem publicamente ser proibido manter os civis como alvo dos confrontos, o que não deve ser tolerado, nas palavras dele. Responsabilizar os autores das violações de direitos humanos e conseguir justiça são essenciais para qualquer plano de paz no Sudão do Sul, defendeu o alto comissário.