Acordo sobre comércio deve reflectir consenso sobre fome
Relator da ONU pede aos países membros da OMC para procurarem uma maior coordenação com os esforços multilaterais para erradicar o flagelo; ele disse que seria ingénuo pensar que a solução reside apenas na promoção de leis mais liberais.
Carlos Araújo, da Rádio ONU em Nova Iorque.
O relator especial da ONU para o direito à comida, Olivier De Schutter, disse que as negociações sobre o comércio mundial devem reflectir o novo consenso global sobre a fome.
Num comunicado divulgado esta quarta-feira em Genebra, o especialista das Nações Unidas pediu aos países membros da Organização Mundial do Comércio, OMC, para dedicarem os próximos seis meses à procura de uma maior coordenação com os esforços multilaterais para erradicar o flagelo.
Segurança Alimentar
De Schutter apelou à OMC para assegurar que as regras internacionais sobre comércio não venham a afectar políticas nacionais de reforço da segurança alimentar.
Ele afirmou que o actual sistema de comércio multilateral deve ser melhorado. O relator da ONU indicou, contudo, que seria ingénuo pensar que a solução reside apenas na promoção de leis mais liberais.
Olivier De Schutter destaca no comunicado que o mundo precisa de um acordo comercial mais equilibrado que tome em consideração as necessidades dos que passam fome.
Para o especialista da ONU a situação de segurança alimentar no mundo é completamente diferente da prevalecente em 2001 quando teve início a ronda de conversações de Doha.
Preços de Cereais
De Schutter expressou preocupação sobre o impacto que um eventual acordo em Doha poderá vir a ter sobre a segurança alimentar no mundo, notando que relatórios do Banco Mundial e outras instituições económicas internacionais prevêm que possa vir a aumentar os preços dos cereais em detrimento de países mais pobres.
Relembrando que o número de famintos no mundo ultrapassou este ano a marca de 1 mil milhão, o relator das Nações Unidas afirma que um bom acordo é aquele que prioriza os interesses dos países mais pobres e vulneráveis.