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O jeito brasileiro de mudar o mundo

O jeito brasileiro de mudar o mundo

O Programa de Voluntários das Nações Unidas, UNV, lançou em Salvador, na Bahia, o livro “50 jeitos brasileiros de mudar o mundo”. A obra reúne 50 experiências de sucesso na área social desenvolvidas por ONGs, governos e empresas de todo o país.

“Nós chamamos de ‘50 jeitos', também, para tirar o termo do negativo. Porque, no Brasil, existe essa palavra ‘jeito’, que significa possibilidades, nem sempre legais para se resolver um problema. Mas, nós queremos tirar esse termo do negativo e mostrar projetos exemplares e inovadores para alcançar os objetivos do milênio”, disse.

A Associação de Desenvolvimento Sustentável e Solidário da Região Sisaleira, Apaeb, é uma das iniciativas incluídas no livro. Diretor-executivo da Associação, Ismael Ferreira e Oliveira, falou sobre o trabalho que existe faz 27 anos.

“É todo um programa voltado para a convivência com o semi-árido, voltado para que as pessoas possam continuar vivendo no sertão com dignidade. Também para acabar com a ilusão do passado, de que tem que se mudar para os grandes centros urbanos onde, de fato, os problemas são muito maiores”, afirmou.

Hoje, a Apaeb está envolvida diretamente com 15 municípios. Segundo o diretor executivo da associação, cerca de cinco mil famílias integram o projeto.

“A associação procura desenvolver uma série de atividades na área produtiva, na área educativa, na área cultural, na área de políticas públicas onde o principal foco é encontrar caminhos para aumentar a renda da família, através da venda de produtos, do beneficiamento, da industrialização da sua produção e agregar valor através desse processo, tirando um processo de intermediação e, com isso, fazendo com que ele tenha um renda melhorada e possa continuar vivendo aqui com dignidade”, ressaltou.

Também selecionada pelo livro do UNV, a Associação Vaga Lume (na foto), desenvolve, há 5 anos, um trabalho com as comunidades rurais da Amazônia brasileira. Para uma das fundadoras e atual presidente da associação, Sylvia Guimarães, o projeto nasceu do sonho de conhecer melhor o interior do Brasil.

“A Amazônia legal brasileira é uma região extensa, que abrange 60% do território nacional, abrange os Estados da floresta amazônica, mais os estados do Mato Grosso, Tocantins e Maranhão. A Vaga Lume vai até comunidades rurais, vai até os municípios, faz parcerias com secretarias municipais de educação e, a partir dessas parcerias, a Vaga Lume vai até áreas remotas, áreas rurais dentro dos municípios que já são distantes, vai até essas comunidades que são bastante reduzidas, às vezes de 20 famílias ou até 500 famílias. Chegando nessas comunidades se trabalha, implantando bibliotecas, trabalha com o acesso à cultura, o acesso à educação, à formação de mediadores de leitura naquela comunidade”, disse.

A Associação já conseguiu implementar bibliotecas comunitárias em cerca de 100 comunidades rurais da Amazônia. De acordo com Sylvia Guimarães, mais de mil pessoas já foram capacitadas como mediadoras de leitura para atuar nessas comunidades, em 9 estados brasileiros.

“A Vaga Lume trabalha com histórias de livros e com histórias orais: as pessoas no interior de Brasil têm muitas histórias boas para contar e a gente trabalha capacitando os comunitários e professores a coletar essas histórias e transformá-las em livros. Então, é um serviço básico de acesso à leitura, de acesso à cultura e de valorização dessa cultura que existe e que pulsa no interior do Brasil”, destacou.

Para o coordenador do UNV no Brasil, Dirk Hegmanns, a idéia é, justamente, que essas experiências descritas no livro sirvam de inspiração e estimulem o surgimento de iniciativas semelhantes, tanto no Brasil, como em outros países.

“Eu diria que o Brasil é um dos países que tem, pelo menos, boas chances de alcançar a maioria das metas do milênio. Mas, isso também depende do conjunto dos atores. Isso depende muito se o Brasil e a sociedade civil conseguem juntar os diferentes atores, como as comunidades, as empresas privadas, as universidades, não somente para fazer um trabalho de conscientização, mas também, para investir no desenvolvimento”, colocou.

De acordo com a presidente da Associação Vaga Lume, Sylvia Guimarães, o “jeito brasileiro” é um importante aliado nessa tarefa.

“Eu acho que muitos projetos no Brasil fazem isso, muitas pessoas que não têm projetos, mas como indivíduos, fazem isso. Acolhem o vizinho, acolhem o filho da amiga, avós que pegam os netos pra criar... Eu acho que o jeito brasileiro de mudar o mundo é dando muito colo para as pessoas, acolhendo muito as pessoas, olhando muito para os seres humanos que habitam esse mundo e que são capazes de mudá-lo para pior ou para melhor”, concluiu.

Os exemplares do livro “50 jeitos brasileiros de mudar o mundo” serão distribuídos para parceiros da ONU, ONGs e governos. Ainda está prevista uma versão para ser publicada na internet.

Nações Unidas em Ação:

Apresentação e Reportagem: Camilla Menezes.

Produção: Sandra Guy e Kacy Lin

Técnica:Carlos Macias, Peter Kurisko e Zach Prewitt.