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Bela Gil propõe democratização da alimentação saudável e apoio à agroecologia

Na estreia da nova temporada do Podcast ONU News, a chef Bela Gil aborda a questão do trabalho doméstico e de cuidado, um tema central de seu livro “Quem vai fazer essa comida?”, lançado no ano passado.

Se sabemos que a comida de panela pode prevenir muitas doenças, como podemos fornecer isso para todos? Quem vai fazer essa comida? Vai cair novamente no colo das mulheres, especialmente as mais pobres e pretas?

UN News
Na estreia da nova temporada do Podcast ONU News, a chef Bela Gil aborda a questão do trabalho doméstico e de cuidado, um tema central de seu livro “Quem vai fazer essa comida?”, lançado no ano passado.

Bela Gil propõe democratização da alimentação saudável e apoio à agroecologia

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Na estreia da nova temporada do Podcast ONU News, a chefe de cozinha Bela Gil discute a importância de democratizar a alimentação saudável, destacando cinco passos essenciais: acesso ao conhecimento, alimentos, recursos financeiros, ferramentas e tempo para cozinhar. Ela também enfatiza a necessidade de políticas públicas para apoiar a agroecologia e a reforma agrária.

No primeiro episódio do Podcast ONU News desta temporada, a chefe de cozinha, escritora e ativista Bela Gil, compartilha sua visão sobre o futuro da alimentação. Em uma conversa com Felipe de Carvalho e Mayra Lopes, Bela Gil aborda a democratização da alimentação saudável, destacando a importância do acesso ao conhecimento, recursos e políticas públicas que promovam a agroecologia e a reforma agrária.

A entrevista também explora como mudanças simples podem impactar positivamente a vida das pessoas, garantindo uma alimentação digna e saudável para todos. Ela ainda conta sobre seu novo livro e futuros projetos. Confira a entrevista na íntegra:

Bela Gil no Podcast ONU News: Alimentação Saudável, Agroecologia e Valorização do Trabalho Doméstico

ONU News (ON): Olá! Nesse episódio do Podcast ONU News nós temos o prazer de receber a chefe de cozinha, escritora, ativista e apresentadora de TV Bela Gil. Seja muito bem-vinda ao nosso estúdio e obrigado por aceitar o nosso convite.

Bela Gil (BG): Muito obrigada!

ON: E nós estamos aqui hoje para conversar sobre algo que é comum a todos nós, seres humanos e a todas as espécies do planeta: o futuro. Esse vai ser o tema principal da reunião de líderes mundiais que acontece aqui na ONU em setembro de 2024, e os temas que vão ser debatidos na Cúpula do Futuro, na verdade, não precisam ser debatidos só pelos líderes, mas por todos nós. É por isso que a gente convidou a Bela aqui, para falar do futuro da alimentação. Esse é um tema que ela tem uma ampla experiência e tem um trabalho amplamente reconhecido também por várias agências da ONU. Então, queria convidar minha colega Mayra Lopes para começar essa conversa.

ON: Vamos começar falando sobre a democratização da alimentação saudável. A alimentação digna, ela esteja contemplada tanto na Declaração dos Direitos Humanos como muitas constituições nacionais, ela tem uma lacuna de acesso. Tem alguns dados que falam que até 3 bilhões de pessoas não tem condições de ter uma dieta adequada. Eu queria que a gente falasse um pouco sobre isso. Como pequenas mudanças poderiam trazer grandes impactos para as pessoas conseguirem ter uma alimentação mais adequada?

BG: Esse tema realmente é muito relevante na minha vida e ele é muito amplo. Eu talvez comece respondendo que eu acho que é muito importante as pessoas entenderem que a alimentação saudável é um direito, a gente clamar por isso, a gente exigir isso é muito importante, assim como o acesso à educação e à saúde. Isso eu estou falando no Brasil, o acesso à saúde, educação, moradia, alimentação também é um direito. Então, e obviamente, ainda existem muitos desafios.

Comer bem não é uma escolha para muita gente. Então é muito complicado a gente culpabilizar o indivíduo por um problema que é social, por um problema que é coletivo. Então, eu acho que como que a gente pode democratizar a alimentação saudável? Como a gente pode democratizar o direito a essa alimentação?

Bela Gil, autora de quatro livros de receitas, esteve na sede da FAO para participar de painel sobre o futuro da alimentação.
André Bittencourt
Bela Gil, autora de quatro livros de receitas, esteve na sede da FAO para participar de painel sobre o futuro da alimentação.

Eu vou trazer aqui cinco passos, cinco acessos que eu acho fundamentais para a gente pensar como coletivo, como sociedade. O primeiro deles é o acesso ao conhecimento. A gente precisa de informação, então tem que saber que a alimentação saudável é um direito. Já é uma questão entender por que a gente deve preferir ou priorizar uma alimentação mais saudável também é uma forma da gente buscar essa alimentação, o conhecimento, então, a informação é muito importante.

O segundo é o acesso físico ao alimento. A gente precisa achar esse alimento. No Brasil, muita gente mora em desertos alimentares ou pântanos alimentares que a gente diz na academia, que são lugares onde você não consegue achar, você tem que andar quilômetros de distância para achar um produto natural, uma banana, uma fruta, uma alface e tem uma oferta muito grande de produtos ultraprocessados.

O terceiro passo é você ter o acesso financeiro, porque você pode até achar, mas se você não tem dinheiro para comprar, a gente não consegue. Então, é muito importante lembrar também que a fome, principalmente no Brasil, é uma questão de pobreza, está muito relacionada à questão financeira, ao acesso financeiro.

E o quarto são as ferramentas. A gente precisa de água, a gente precisa de eletricidade, a gente precisa de saneamento básico, a gente precisa de gás, A gente precisa dessa panela, colher, a gente precisa disso para poder cozinhar. E muita gente ainda não tem esses acessos.

E por último, a gente precisa de tempo, A gente precisa cozinhar e é uma atividade que requer tempo, porque você pode ter todos esses pré-requisitos, esses acessos que eu comentei aqui. Mas se a gente não tem tempo para cozinhar e eu não estou dizendo que todo mundo deveria, a gente vive em sociedade, então não tem problema se outras pessoas cozinharem para gente. Mas eu acho que no sentido coletivo, por exemplo, restaurantes populares. Uma boa alimentação oferecida nas escolas, a merenda, a comida escolar, a merenda escolar, sendo uma alimentação boa, saudável, feita por merendeiras que são valorizadas, isso é muito importante. Então, esse coletivo criar acessos coletivos para alimentação saudável acho que é o fator principal, porque se a gente colocar só no âmbito individual, ainda fica difícil, né?

Eu acho que a gente tem que começar a pensar na alimentação como um uma atividade como uma ação coletiva para que isso se torne uma realidade no Brasil. Porque para a gente fica fácil discutir mudanças individuais, quando tem o básico, mas a pessoa que não tem água.

Eu acho que a gente tem que começar a pensar na alimentação como um uma atividade como uma ação coletiva para que isso se torne uma realidade no Brasil. Porque para a gente fica fácil discutir mudanças individuais, quando tem o básico, mas a pessoa que não tem água.

Eu tenho um testemunho de uma mulher maravilhosa, que é uma beneficiária do projeto 1 Milhão de Cisternas, que foram implantadas na região do semiárido, no Brasil. E depois disso, ela conseguiu não só plantar o feijão, mas cozinhar o feijão com a água que é coletada das cisternas. São pequenas ideias que têm um impacto muito grande. Sim, pequenas ideias que que têm um impacto gigantesco na sociedade e na vida das pessoas. Então, é por esse viés que eu enxergo mais a democratização.

E aí, só para terminar, porque não dá para a gente falar de uma distribuição mais equânime, igualitária, de direitos e de acessos de alimentação saudável sem falar na democratização do acesso à terra. Se a gente quiser democratizar a alimentação, a gente tem que democratizar o acesso à terra, à distribuição de terra. Então, a reforma agrária, eu acho que é uma das lutas fundamentais para a gente começar a pensar esse futuro mais acessível da boa alimentação.

Chef de cozinha brasileira e apresentadora de TV, Bela Gil, falou de sua participação em painel sobre o papel dos chefs na transformação dos sistemas alimentares.
Daryan Dornelles
Chef de cozinha brasileira e apresentadora de TV, Bela Gil, falou de sua participação em painel sobre o papel dos chefs na transformação dos sistemas alimentares.

ON: A Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura, FAO, tem defendido cada vez mais que a humanidade precisa explorar milhares de outras plantas que podem talvez até responder às necessidades alimentares no futuro, de uma forma mais nutritiva, mais sustentável e inclusive em culturas que sejam mais resistentes às mudanças climáticas. O milho, por exemplo, em muitos lugares, já não se consegue cultivar por conta das mudanças climáticas. Você que é uma exploradora de alimentos não convencionais nessa sua jornada, o que você recomenda para as pessoas que querem ampliar a cesta básica, não só pensando na nutrição, mas pensando também no cuidado com o planeta, pensando na valorização dos povos tradicionais.  Quais são os alimentos do futuro?

BG: Você colocou essa questão da sustentabilidade, mas eu acho que também pode ser uma alimentação mais barata quando a gente diversifica. Bom, alimentos do futuro, eu acho que a jaca é um deles. Dá para fazer tanta coisa com a jaca. Ela é muito maravilhosa, não? Mas assim, eu acho que. Trazendo uma reflexão para sua pergunta. A gente tem já 30 mil espécies catalogadas de plantas que a gente poderia explorar, que a gente poderia consumir, que são comestíveis. Eu não sei se vocês sabem quantas espécies a humanidade consome na sua totalidade. Duzentas. Isso é menos de 1% do que a gente poderia estar usufruindo, consumindo e explorando.

É muito engraçado que quando a gente muda a alimentação, por exemplo, eu sou vegetariana e as pessoas perguntam: mas o que você come? Tirando o foco da carne, as pessoas ficam meio perdidas. O que eu acho interessante que as pessoas podem fazer para aumentar a diversidade alimentar é, ir à feira, por exemplo e tendo acesso ao feirante, ao produtor, pergunta: da próxima vez você pode trazer a cenoura com a rama? Da próxima vez, você pode trazer a beterraba com a folha? Da próxima vez, você pode trazer os brócolis, a couve-flor com as folhas? São alimentos e são muito nutritivos. Mas a gente teve por causa do mercado, gente teve que padronizar a alimentação, o produto em si, porque, enfim, senão não seria tão lucrativo e não seria tão fácil a logística, né? Então, para facilitar, foi tudo padronizado, a gente padronizou demais.

Acho que quando a gente fala de uma alimentação não convencional, que a gente sai um pouco desse padrão. Dá para a gente usar a rama da cenoura para fazer um pesto maravilhoso, por exemplo. Mas as pessoas estão esquecendo porque eu não sei nem se as pessoas sabem ou conseguem enxergar que a cenoura nasce com a rama, né? Porque a gente vai no supermercado e só tem ali a cenoura já, porque esse foi o padrão estabelecido. Fora o desperdício que isso traz, porque isso é uma comida que está sendo jogada fora, algo que poderia alimentar as pessoas.

Então, se a gente se empodera desse conhecimento, entende que dá para a gente consumir tudo isso, que normalmente a gente aprendeu que não é comestível, que tem que se jogar fora, a gente consegue melhorar a alimentação, a gente consegue diminuir o desperdício de comida, de alimento, diversificar a nossa alimentação tanto de plantas assim quanto nutricionalmente. De cultivos na terra, que é importante uma diversidade maior, mas nutricionalmente. Esses alimentos que eu estou falando aqui são alimentos novos que todo mundo já conhece. Por exemplo, a melancia. Todo mundo conhece a melancia. Mas sabe que dá para fazer um refogadinho com a casca da melancia? Todo mundo conhece o melão, mas sabe que dá para fazer um refogadinho com a casca do melão? A semente do mamão todo mundo conhece. Mas será que as pessoas sabem que dá para secar e fazer eu colocar uma pimenteira e fazer uma pimentinha do reino? É tanta coisa que dá para fazer que o importante é o conhecimento.

Tenho um livro especificamente falando disso, mostrando receitas com partes não convencionais dos ingredientes. Não só comidas, o alimento em si não convencional, como as plantas alimentícias não convencionais, o caruru do brejo, almeirão, dente de leão, o coração da bananeira. Coisas que não estão muito no dia a dia de muitas pessoas. Já esteve, mas foi se perdendo, como também as partes que a gente poderia aproveitar. É o livro Bela Cozinha - da raiz à flor. Eu sei que eu só falei da jaca, mas no livro você pode encontrar muitos alimentos no futuro.

11 de junho de 2019, Roma, Itália - Simpósio sobre o futuro dos alimentos com Bela Gil
@FAO/Pier Paolo Cito
11 de junho de 2019, Roma, Itália - Simpósio sobre o futuro dos alimentos com Bela Gil

ON: Vamos falar sobre "Quem faz essa comida?". Você falou dessa questão logo no comecinho que é complicado a gente individualizar a responsabilidade. Ela já é individualizada? Queria que você comentasse sobre seu trabalho novo e sobre a questão dos cuidados invisíveis, que acaba caindo no público feminino.

BG: Eu acho que é individualizada, porque é muito mais fácil para o sistema funcionar colocando a culpa no indivíduo. Você não come bem porque você não quer. Você está doente porque você não se cuidou, porque você não quis. É muito mais fácil a gente colocar a culpa no indivíduo do que absorver essa responsabilidade para o para o coletivo e, principalmente, para o Estado, que é a função do Estado prover saúde, educação. Mas a gente sabe quem lucra com tudo isso. Então, deixar invisível essa responsabilidade coletiva é um projeto, um projeto de corporações, certos políticos...

Mas em relação ao trabalho do cuidado, o que acontece é que o cozinhar, fazer comida é trabalhoso. Você precisa planejar o que você vai comprar, tem que lavar, tem que cortar, que tem que cozinhar, tem que lavar depois tudo de novo e começa tudo de novo. A gente sabe como é. Isso faz parte do que se chama o trabalho doméstico não remunerado, que é o cozinhar, lavar, tomar conta dos filhos, dar banho, educar, levar para a escola etc. e tal. Esse trabalho, os economistas já valorizaram, já contabilizaram, na verdade, e 13% do PIB mundial vem do trabalho doméstico não remunerado. E isso dá em média US$ 11 trilhões por ano que a gente, eu digo a gente porque é majoritariamente feito por mulheres, que gera para o para a riqueza global. E eu acredito que essa, esse valor, esse dinheiro, isso precisa ser bem distribuído, porque só uma parcela está acumulando esse dinheiro e isso é completamente injusto. Uma das maneiras também da gente tornar a alimentação saudável mais acessível e tirando da invisibilidade esse trabalho, não é reconhecendo o trabalho doméstico não remunerado, reduzindo, redistribuindo e remunerando. São quatro passos que a gente pode fazer para melhorar o acesso à alimentação saudável.

E por que eu digo isso? Porque estudos já mostram que uma comida de panela, a tal comida de verdade, comida que é feita em casa, que não necessariamente precisa ser só feita em casa, mas nos restaurantes populares, nas escolas, nos presídios, nos hospitais, nessa comida de panela, é uma forma de prevenir muitas doenças. Saiu um estudo no final de 2019, se eu não me engano, e mostrando que 57 mil pessoas no Brasil morrem por ano devido ao consumo de produtos ultraprocessados. E agora, recentemente, saiu um outro estudo mostrando que a relação entre o consumo de produtos ultraprocessados e 32 doenças. Se a gente sabe que, no Brasil, 70% das mortes são decorrentes de doenças crônicas não transmissíveis, ou seja, diabetes, câncer, obesidade, doenças do coração etc.

Porque estudos já mostram que uma comida de panela, a tal comida de verdade, comida que é feita em casa, que não necessariamente precisa ser só feita em casa, mas nos restaurantes populares, nas escolas, nos presídios, nos hospitais, nessa comida de panela, é uma forma de prevenir muitas doenças. Saiu um estudo no final de 2019, se eu não me engano, e mostrando que 57 mil pessoas no Brasil morrem por ano devido ao consumo de produtos ultraprocessados.

Se a gente sabe que a comida de panela pode prevenir - junto com um estilo de vida saudável - pode prevenir essas doenças, a gente consegue evitar muita morte. São 70% das mortes são decorrentes dessas doenças que tem, que são decorrentes não só, mas também, de estilos de estilo de vida não saudável, que a alimentação está incluída. Então é uma forma que a gente tem de melhorar. Só que aí a minha pergunta: se a comida de panela é a mais saudável para o planeta, para a saúde, para, enfim, é a melhor? Como que a gente faz para fornecer isso para todo mundo? Quem é que vai fazer essa comida? Vai cair de novo no colo da mulher? Ou vai cair, no Brasil, principalmente em mãos de mulheres pretas da periferia, mulheres pobres e pretas? É por isso que eu falo que quando a gente começar a reconhecer, redistribuir, reduzir e remunerar esse trabalho, é a melhor maneira que eu enxergo hoje da gente atingir a justiça de classe, de raça e de gênero. Porque a gente aonde que pesa esse trabalho.

ON: O Escritório de Direitos Humanos da ONU, por exemplo, defende que cada vez mais os sistemas alimentares têm que valorizar a agroecologia e a agricultura regenerativa. Na sua avaliação, as políticas públicas no Brasil estão indo na direção certa em relação a todas essas mudanças que precisam acontecer?

BG: Bom, eu acho que a gente está se organizando, mas eu acredito numa visão governamental progressista nesse lugar. Eu acho que eu acho que sim. Mas o lobby é muito forte, é muito grande assim. A gente sabe que, por exemplo, a agricultura, o modo como a gente produz comida, é responsável por 45% das emissões de gases de efeito estufa. E a gente poderia mitigar isso produzindo alimento da maneira mais correta, com uma maneira mais sustentável. Que maneira essa? Agroecologia. As agroflorestas que além de prevenir a emissão de carbono, sequestram carbono. Então, se eu falar, "a agricultura é responsável 45% dos gases de efeito estufa", as pessoas vão dizer: "a gente vai parar de plantar, a gente vai parar de comer?" Não. A gente muda, a gente muda por um sistema mais saudável. Qual esse sistema? Agroecologia, as agroflorestas. Mas não dá para fazer isso com latifúndio. A gente precisa de uma distribuição de terra melhor para poder fazer isso acontecer. Então começa aí.

Uma outra informação que eu acho relevante em relação a isso para as pessoas entenderem, muita gente não entende por que a alimentação saudável é mais cara do que a alimentação de ultraprocessados e tal. E a gente precisa entender o que o Estado, o que o governo, o que ele entende como prioridade. Por exemplo, no Brasil a gente enxerga o setor de agrotóxicos, o uso de pesticidas e fertilizantes químicos, como fundamental para a economia. E isso faz com que esse setor tenha isenção fiscal. Eles pagam só 5%. Todo o resto da indústria tem que pagar 35% de taxa. Eles pagam 5% e a gente deixa de arrecadar R$ 10 bilhões por ano para os cofres públicos.

Por exemplo, no Brasil a gente enxerga o setor de agrotóxicos, o uso de pesticidas e fertilizantes químicos, como fundamental para a economia. E isso faz com que esse setor tenha isenção fiscal. Eles pagam só 5%. Todo o resto da indústria tem que pagar 35% de taxa. Eles pagam 5% e a gente deixa de arrecadar R$ 10 bilhões por ano para os cofres públicos.

O que isso quer dizer? Se você tem uma plantação, um cultivo convencional, uma monocultura, você já sai em vantagem nesse lugar. De uma certa maneira, o governo subsidia essa produção. E essa produção produz que tipo de comida? Ou ração animal ou produtos ultra processados. Você vai no mercado, você lê, a maior parte dos produtos ultraprocessados tem como ingrediente majoritário soja, milho, trigo ou açúcar. São as grandes monoculturas que o Brasil tem. Então como é que a gente faz pra mudar isso? Os valores precisam mudar, né? A gente precisa melhorar o acesso à alimentação saudável através de muitas coisas. Pode ser taxando os produtos ultraprocessados, limitando o acesso a esses produtos, incentivando fiscalmente e tecnologicamente e tecnicamente a implementação de cultivo agroecológico, transitando. Ajudando os agricultores a transitar de uma agricultura convencional para uma para a agroecologia. Mas existem muitas barreiras para isso acontecer. 

 

ON: Bela, muito obrigada. Para encerrar, eu queria saber, além desse livro novo que você lançou há pouco, tem mais alguma coisa no forno?

BG: Estou com um embriãozinho de livro que eu estou querendo escrever, mas esse ano eu estou lançando uma linha de produtos saudáveis que é a Refazenda e eu estou muito animada. Vou estrear no Saia Justa de novo agora e vou abrir um restaurante novo também em São Paulo. Então esses são os projetinhos desse ano.

ON: Obrigada!

BG: Até breve e boa sorte. Sucesso no programa.