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“Os direitos humanos não falharam”, afirma alto comissário da ONU

O alto comissário da ONU para os Direitos Humanos, Volker Turk, informa os jornalistas numa conferência de imprensa antes do Dia dos Direitos Humanos
Ohchr
O alto comissário da ONU para os Direitos Humanos, Volker Turk, informa os jornalistas numa conferência de imprensa antes do Dia dos Direitos Humanos

“Os direitos humanos não falharam”, afirma alto comissário da ONU

Direitos humanos

Volker Turk ressaltou que é o desrespeito ao tema que está na origem de tantas crises e conflitos; ele condenou “incitamento a crimes de atrocidade” no conflito Israel-Palestina e disse que alegações de violência sexual por grupos armados palestinos precisam ser rigorosamente investigadas. 

A violação ou marginalização dos direitos humanos estão na origem de muitos conflitos. Essa foi o alerta feito pelo alto comissário de Direitos Humanos da ONU, Volker Turk, em conversa com jornalistas em Genebra nesta quarta-feira. 

Ele afirmou que “o desrespeito pelos direitos humanos resulta em instabilidade, em mais desigualdades e em crise econômica.”

“Desrespeito cínico”

Ao citar diversas interações ao redor do mundo em seu primeiro ano no cargo, Turk disse que muitas pessoas o perguntaram se os direitos humanos falharam, levando-se em conta os conflitos generalizados, os golpes de estado, as alterações climáticas e outras crises. 

Para o chefe da pasta, “os direitos humanos não falharam. Foi o desrespeito cínico pelos direitos humanos e a falta de respeito a fortes advertências sobre os direitos humanos que nos trouxeram até aqui”.

Ao se referir ao aumento e à intensificação de conflitos violentos em todo o mundo, ele ressaltou a crise Israel-Palestina, marcada por ataques a civis, captura de reféns, bombardeios, cerco, destruição e privação das necessidades humanas mais essenciais. 

Crimes de atrocidade

Turk afirmou que os palestinos em Gaza vivem um “horror total e cada vez mais profundo”. As operações militares, incluindo os bombardeios das forças israelenses, continuam no norte, centro e sul de Gaza, afetando pessoas que já foram deslocadas várias vezes, forçadas a fugir em busca de segurança. 

Neste momento, cerca de 1,9 milhões dos 2,2 milhões de palestinos foram deslocados e estão sendo empurrados para locais cada vez menores e extremamente superlotados no sul de Gaza, em condições insalubres.

O chefe de Direitos humanos lamentou que mais uma vez a ajuda humanitária está “praticamente interrompida” em meio a receios de doenças generalizadas e fome. Segundo ele, nestas condições, “existe risco aumentado de crimes de atrocidade”. 

Um homem leva seus filhos por terras bombardeadas na Faixa de Gaza durante a pausa humanitária temporária
Unrwa/Ashraf Amra
Um homem leva seus filhos por terras bombardeadas na Faixa de Gaza durante a pausa humanitária temporária

Violência sexual

Para Turk, as duas partes em conflito têm feito declarações em circunstâncias que podem ser consideradas “incitamento a crimes de atrocidade”.

Ele também afirmou que graves alegações de violência sexual perpetradas por membros de grupos armados palestinos, incluindo o Hamas, durante os ataques de 7 e 8 de outubro, requer investigações rigorosas para “garantir justiça às vítimas”.

O alto comissário da ONU pediu que a comunidade internacional insista “com uma só voz, num cessar-fogo imediato por razões humanitárias e de direitos humanos”.

Para ele, “a violência e a vingança só podem resultar em mais ódio e radicalização”.

Mudanças inconstitucionais e crises políticas

Turk também fez apelos por proteção e assistência a populações afetadas por conflitos em Mianmar, Sudão e Ucrânia.

Além disso, ele afirmou que “mudanças inconstitucionais no governo, incluindo golpes militares no Burkina Faso, no Chade, na Guiné, no Mali, no Níger, enfraqueceram significativamente a proteção dos direitos humanos e o Estado de direito nestes países”.

O alto comissário também se declarou preocupado com “a crise política em países como a Guatemala, o Peru e a Nicarágua e o seu impacto nos direitos humanos”.

Turk ressaltou que a Declaração Universal dos Direitos Humanos foi elaborada com lições tiradas de duas guerras globais e de situações trágicas como o Holocausto, a destruição atômica, a profunda devastação econômica e gerações de exploração colonial, opressão, injustiça e derramamento de sangue. O texto foi concebido como um roteiro para um mundo mais estável e mais justo, disse ele.