Albinos vendidos por até US$ 75 mil para uso em rituais em África
Moçambique é um dos países que serviu de base para o primeiro estudo da relatora dos direitos humanos das pessoas com albinismo; áreas rurais registam maioria dos casos das práticas secretas.
Eleutério Guevane, da Rádio ONU em Nova Iorque.*
Um relatório publicado esta terça-feira nas Nações Unidas indica que surgiu um "mercado lucrativo e macabro das partes do corpo de pessoas com albinismo vendidas para o uso em rituais de feitiçaria, poções ou amuletos".
Os preços cobrados variam entre US$ 2 mil por um membro e US$ 75 mil para o que o documento chama de "conjunto completo" ou cadáver.
Corpos
O primeiro estudo da relatora sobre os direitos humanos das pessoas com albinismo destaca vítimas "caçadas para rituais de feitiçaria, partes dos seus corpos mutiladas com facões e até mesmo os seus túmulos profanados".
Ikponwosa Ero revela que a maioria dos casos foi reportada em nações africanas no relatório que menciona Moçambique. Pelo menos 40 pessoas foram atacadas em sete países desde que a perita iniciou o seu mandato no ano passado.
Familiares
Ela declarou que o número é apenas uma fração do total, porque a maioria dos casos ocorre em rituais secretos em áreas rurais que nunca são reportados. Alguns envolvem os próprios familiares das vítimas como cúmplices.
O documento inclui ainda relatos de pessoas que sofreram amputações "ainda em vida ou tiveram dedos, braços, pernas, olhos, genitais, pele, ossos, cabeça ou cabelo cortados".
A crença dos vários envolvidos nesses tipos de crimes é que as partes do corpo a serem usadas para as poções seriam mais “eficazes quanto mais houver gritos da vítima".
Crianças
O estudo revela que uma grande parte dos alvos é composta por crianças por se acreditar que "quanto mais inocente for a vítima mais potentes serão as partes do corpo" para as preparações.
O documento cita milhares de pessoas com albinismo que sofrem estigma e discriminação no mundo, cujas violações são atendidas de forma passiva e indiferente.
Ameaças
Os atos variam de bullying nas escolas a manifestações mais extremas como infanticídio, ameaças e ataques físicos.
O relatório revela que mulheres albinas são alvos de agressões sexuais devido ao mito de que "a prática de sexo com elas poderia curar o HIV/ Sida".
Há também casos de mães afastadas ou discriminadas por darem à luz a crianças com albinismo por ser considerado maldição, mau presságio ou sinal de infidelidade.
Vulnerabilidade ao Cancro
O documento menciona implicações graves para a saúde dos albinos como a vulnerabilidade ao cancro da pele. Em África, há relatos da morte da maioria das pessoas com albinismo entre 30 e 40 anos.
Num plano para abordar as causas profundas dos ataques, a especialista revela que é preciso compreender bem, definir e delinear a prática da feitiçaria, as suas formas e os efeitos sobre as pessoas com albinismo.
Investigação Imediata
Ero acredita que medidas eficazes para acabar com os ataques incluem acelerar a investigação imediata das alegações e a acusação dos supostos autores.
As outras ações incluem soluções nas áreas legal, social, psicológica e médica além de compensar as vítimas, ações para prevenir o tráfico de partes do corpo e medidas de reintegração segura dos deslocados com albinismo.
*Apresentação: Michelle Alves de Lima.