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Autores de ataques contra albinos em Moçambique operam em “rede secreta”

Autores de ataques contra albinos em Moçambique operam em “rede secreta”

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Afirmação é da perita independente da ONU para os direitos humanos das pessoas com albinismo, que visitou o país; Ikponwosa Ero explica que redes transfronteiriças são similares aos esquemas de narcotráfico.

Leda Letra, da Rádio ONU em Nova Iorque.

A perita independente das Nações Unidas para os direitos humanos das pessoas com albinismo acaba de concluir sua visita a Moçambique. Nesta sexta-feira, Ikponwosa Ero declarou que a situação para os albinos “continua precária” no país, uma vez que as autoridades ainda não prenderam os responsáveis.

A relatora explicou que pessoas com albinismo em Moçambique são perseguidas e perdem partes de seus corpos, como dedos, cabelos, unhas e até a cabeça. Segundo ela, os membros são utilizados para rituais de feitiçaria.

Operações

Ao conversar com albinos, Ero pôde sentir o medo que existe entre eles, em especial nas províncias onde ocorrem os ataques. Segundo a perita, acredita-se que os autores dos crimes “operam numa rede secreta transfronteiriça e poderosa, parecida com as redes ligadas ao narcotráfico”.

Essas operações ainda não foram identificadas e nenhum autor de crime contra albino foi preso até o momento. Por outro lado, a relatora destaca que não existem provas suficientes de que os responsáveis seriam de fora de Moçambique.

Discriminação

Durante a visita ao país, Ero testemunhou um julgamento sobre a tentativa de venda de uma parte do corpo de uma pessoa com albinismo. A relatora elogiou a resposta do governo aos casos, uma vez que a legislação não pune apenas o tráfico de pessoas e de órgãos, mas também o tráfico de partes do corpo.

A especialista lembrou de comportamentos discriminatórios, como a atitude de cuspir no chão depois de ver uma pessoa com albinismo ou de se recusar a apertar a mão ou tocar pessoas albinas devido ao tabu de se “evitar o contágio”.

Bruxaria

Ikponwosa Ero também mencionou a confusão que se dá entre práticas da medicina tradicional, de bruxaria e de outras que podem causar danos às pessoas com albinismo.

Ao mesmo tempo, a perita ficou surpresa ao saber que muitas pessoas não foram informadas sobre seus direitos, como a quota obrigatória de 5% do emprego no sector público para pessoas com deficiência ou o plano de proteção das pessoas com albinismo.

Após a visita a Moçambique, a especialista irá produzir um relatório completo com suas observações, que será apresentado ao Conselho de Direitos Humanos da ONU em março.

Photo Credit
Foto: Acnur/H. Caux (arquivo)