ONU revela violações generalizadas em dois anos de conflito no Sudão do Sul
Relatório menciona centenas de casos de violência sexual; desde dezembro de 2013 foram recrutadas até 15 mil crianças-soldado; alto comissário para os Direitos Humanos fala de esperanças com negociações em curso.
Eleutério Guevane, da Rádio ONU em Nova Iorque.
Um relatório lançado esta quinta-feira pelas Nações Unidas revela "violações e abusos generalizados dos direitos humanos" no Sudão do Sul. Os atos foram cometidos pelas partes do conflito desde o seu início em dezembro de 2013.
A pesquisa documenta pelo menos 280 casos de violência sexual relacionada com conflitos incluindo casos de violação em grupo, escravidão sexual e aborto forçado.
Crianças-Soldado
O estudo destaca um "aumento acentuado do recrutamento de menores" com um número entre 13 mil e 15 mil crianças-soldado. Estas foram recrutadas "principalmente, mas não exclusivamente por forças da oposição" até dezembro de 2015.
O documento revela ter havido centenas de casos de execuções extrajudiciais, desaparecimentos forçados, violência sexual, recrutamento forçado e ataques indiscriminados contra civis.
O relatório foi preparado pela Missão da ONU no Sudão do Sul, Unmiss, e pelo Escritório do Alto Comissariado para os Direitos Humanos.
Bases da ONU
De acordo com o estudo, "muito poucos lugares das áreas de conflito são seguras devido aos ataques intencionais das partes a lugares tradicionais de refúgios, tais como locais de culto, hospitais e, em certos períodos, bases das Nações Unidas".
O documento destaca que tais atos revelam um chocante desrespeito à vida dos civis além de indicar que um número crescente de grupos e de comunidades armadas estão envolvidos na violência.
A análise revela ainda um "novo padrão" surgido em municípios do centro e sul do estado de Unidade. Na área foram queimadas vilas inteiras, destruídas culturas alimentares e saqueado gado desde os meados do ano passado.
O documento aponta que essa seria uma estratégia deliberada do governo ou do Exército Popular de Libertação do Sudão, Spla, para privar os civis de qualquer fonte de subsistência com o objetivo de forçar a sua deslocação.
Apesar da gravidade de violações de direitos humanos e do direito internacional humanitário, pelos dois lados, não há mecanismos de responsabilização tangíveis para além da retórica dos principais beligerantes, destaca a pesquisa.
Impunidade
A representante especial do secretário-geral para o Sudão do Sul, Ellen Loej, disse que é momento de acabar com o ciclo de impunidade que permitiu que as violações ocorressem, para se embarcar num futuro de paz sustentável no país.
O alto comissário da ONU para os Direitos Humanos pediu o fim do que chamou de "práticas abomináveis", ao mencionar ataques constantes sobre as mulheres, o estupro, escravidão e morte de inocentes.
Zeid Al Hussein citou ainda o recrutamento dos milhares de crianças-soldado e o deslocamento deliberado de um grande número de pessoas num país assolado pela pobreza.
Negociações
Para o representante, a responsabilidade e a justiça soam como palavras vazias numa paisagem tão sombria, mas essenciais para que o Sudão do Sul saia do que chamou de “período terrível”.
Zeid encerra a nota afirmando que os atuais esforços de paz dão alguma esperança de que o ciclo perpétuo de derramamento de sangue e de miséria chegue ao fim e exortou a todos os lados a negociar de boa-fé.