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Escalada de ataques deixa crianças ucranianas sem água e aquecimento no inverno

Uma família recebe kits de roupas de inverno para crianças e outros suprimentos do Unicef na comunidade da linha de frente de Marhanets, no leste da Ucrânia
Unicef/Aleksey Filippov
Uma família recebe kits de roupas de inverno para crianças e outros suprimentos do Unicef na comunidade da linha de frente de Marhanets, no leste da Ucrânia

Escalada de ataques deixa crianças ucranianas sem água e aquecimento no inverno

Paz e segurança

Fundo das Nações Unidas para a Infância destaca crescente número de mísseis balísticos e ataques em massa de drones, incluindo investidas generalizadas contra a infraestrutura da capital Kyiv; com temperaturas próximas a -20°C, a ausência de energia ameaça a vida de milhões de crianças.

Os ataques contra infraestruturas em toda Ucrânia estão aumentando, com bombardeios “particularmente implacáveis” ​​no leste e no sul do país, segundo declaração da diretora regional do Fundo das Nações Unidas para Infância, Unicef, para a Europa e Ásia Central, divulgada nesta segunda-feira.

Regina De Dominicis afirmou que esses ataques deixaram “milhões de crianças sem acesso contínuo a eletricidade, aquecimento e água, expondo-as a danos adicionais graves” à medida que o inverno toma conta do país.

900 ataques aéreos em uma semana

De acordo com ela, no último mês, houve um aumento nos ataques aéreos em toda a Ucrânia, com mais de 900 registrados no espaço de uma semana. 

Os acontecimentos da semana passada apontam para uma tendência de aumento de mísseis balísticos e ataques em massa de drones, incluindo bombardeios generalizados direcionados à infraestrutura civil da capital Kyiv. Na última quinta-feira, foram registrados cinco alertas aéreos em todo o país ao longo do dia.

Regina De Dominicis disse que “estes ataques causaram ferimentos entre crianças, e enviaram uma onda intensificada de medo e pavor em comunidades já profundamente angustiadas”.

Sobre a falta de eletricidade, aquecimento e água, ela ressaltou que crianças e as famílias em maior risco são aquelas que já “têm menos acesso a recursos básicos e vitais, e que já enfrentaram imensas dificuldades”. 

Uma menina de três anos é forçada a se abrigar do bombardeio em curso com sua família em um porão escuro e úmido em Lyman, Ucrânia
Unicef/Aleksey Filippov
Uma menina de três anos é forçada a se abrigar do bombardeio em curso com sua família em um porão escuro e úmido em Lyman, Ucrânia

Frio impossível de suportar

Durante os meses de inverno, as temperaturas chegam regularmente a -20°C, com ventos fortes fazendo com que pareça ainda mais frio. “As crianças simplesmente não conseguem suportar estas condições sem energia”, disse a representante. 

Além disso, os apagões e os cortes de energia tornam extremamente difícil para as unidades de saúde prestar serviços críticos, o que é ainda mais problemático dado o aumento de casos de pneumonia, gripe sazonal e doenças transmitidas pela água entre crianças em toda a Ucrânia.

A falta de energia prejudica ainda o sistema educacional, já fragilizado, afetando ainda mais a aprendizagem das crianças em idade escolar.

Cerca de 1,8 mil crianças foram mortas ou feridas desde a escalada da guerra na Ucrânia, mas o número verdadeiro é provavelmente maior. Com a continuação dos ataques direcionados a áreas e infraestruturas civis, o número de óbitos tende a subir ainda mais. 

Apoio com geradores e roupas

O Unicef está fornecendo geradores e outros equipamentos para apoiar o governo da Ucrânia na manutenção do funcionamento das instalações de abastecimento de água, aquecimento, saúde e educação. 

Nas zonas mais atingidas, a agência está fornecendo conjuntos de roupas de inverno para as crianças, juntamente com cobertores para as famílias, além de assistência em dinheiro.

Regina De Dominicis destacou que para chegar a todas as crianças necessitadas com assistência humanitária imediata, o Unicef precisa de mais fundos. Atualmente, o apelo da agência em preparação para o inverno tem um déficit de financiamento de mais de US$ 34 milhões.

Ela disse que, “a menos que os ataques parem e as regras da guerra sejam respeitadas, a crescente catástrofe humanitária continuará se desenrolando, causando um sofrimento inimaginável entre as crianças e as famílias”.

O Unicef defende que as crianças e a infraestrutura civil de que dependem devem ser protegidas e que os trabalhadores humanitários devem ter acesso rápido e desimpedido àqueles que necessitam de assistência.