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EUA investe em eventos educativos sobre diplomacia e multilateralismo BR

Christopher Johnson, porta-voz do Departamento de Estado americano durante entrevista na sede da ONU
ONU News
Christopher Johnson, porta-voz do Departamento de Estado americano durante entrevista na sede da ONU

EUA investe em eventos educativos sobre diplomacia e multilateralismo

Assuntos da ONU

Porta-voz do Departamento de Estado americano, Christopher Johnson, falou à ONU News sobre prioridades de seu país para a nova sessão da Assembleia Geral e disse que governo Biden aposta em palestras e redes sociais para promover, entre os jovens, o papel do país na ONU e no mundo.

Johnson também citou a urgência de acabar com a guerra na Ucrânia, as ações de Washington para combater a fome no Chifre de África e as promessas de US$ 2,8 bilhões para enfrentar doenças como HIV, malária, tuberculose e outras enfermidades.

Ele conversou com Monica Villela Grayley, da ONU News, sobre o destaque do governo americano na Assembleia Geral.

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ONU News: Qual a mensagem que os Estados Unidos trazem para essa 77ª sessão da Assembleia Geral das Nações Unidas?

Christopher Johnson: O tema mais importante é o assunto da insegurança alimentar. Lamentavelmente, estamos enfrentando uma crise alimentar muito grave, principalmente no continente da África. Os Estados Unidos são um dos maiores doadores neste contexto. Temos facilitado as entregas de grãos no norte da África. Temos doado US$ 200 milhões para enfrentar a crise, que está acontecendo na Somália, e vamos continuar trabalhando com os líderes da África para assegurar que todos, que estão sofrendo com essa crise. possam ter a ajuda de que precisam.

Também, como número dois, tem a crise sanitária. Lamentavelmente, nos últimos anos, a Covid-19 tem sido muito grave e mudado toda a nossa forma de vida. Mas também temos que enfrentar as outras enfermidades que temos.

O presidente Biden fez parte dessa reunião para o Fundo Global de Combate ao HIV, Malária e Tuberculose. Vamos doar US$ 2,8 bilhões a esse esforço e identificar quais são os outros elementos para assegurar que podemos enfrentar outras pandemias no futuro.

E por último: reforçar a Carta da ONU. Lamentavelmente, a Rússia tem feito uma grande flagrante violação de direitos internacionais com a invasão na Ucrânia. Queremos assegurar que essa instituição tão importante no mundo possa garantir a paz no futuro.

EUA investe em eventos educativos sobre diplomacia e multilateralismo

 

ON: São US$ 2,8 bilhões com a promessa de doação. Todo esse trabalho de apoio e distribuição de alimentos no Chifre da África e outras regiões que estão sofrendo com conflitos, desastres climáticos, e outros agravantes que só pioram a situação de uma pandemia da qual que ainda não se recuperou totalmente. Como porta-voz do Departamento de Estado, por que, na sua opinião, esses feitos ainda não são conhecidos: esse lado humanitário que os Estados Unidos vêm fazendo, há décadas, e de forma muito consistente?

CJ: Então, é muito importante saber disso. Eu acho que também na ONU, os Estados Unidos estão fazendo campanha para que nossos públicos entendam o que estamos enfrentando hoje em dia. Eu acho que com as redes sociais, isso vai mudando pouco a pouco. É um dos objetivos muito importantes no Departamento de Estado e também na Agência de Desenvolvimento Internacional, Usaid, que é liderada pela embaixadora Samantha Power, que era representante aqui na ONU também.

Então, para nós é sempre importante falar deste assunto. Também a nossa representante atual, Linda Thomas-Greenfield, tem falado muito sobre com devemos assegurar as cadeias de fornecimento de alimentos continuem. Tem três motivos pelos quais estamos vendo isto: o conflito. Não somente o que está acontecendo na Ucrânia, mas também os conflitos regionais, locais, que também pioram as condições para fornecer esses alimentos. E como a senhora falou, a mudança climática. Temos que ver como fazer a transição para energias mais limpas para que a agricultura continue como antes. São dois dos desafios que temos que enfrentar juntos como comunidade internacional.

O presidente Biden, dos Estados Unidos, discursa no debate geral da septuagésima sétima sessão da Assembleia Geral
ONU/Manuel Elias
O presidente Biden, dos Estados Unidos, discursa no debate geral da septuagésima sétima sessão da Assembleia Geral

ONU News: Porta-voz Johnson, a sociedade, a opinião pública talvez estejam ainda muito polarizadas com relação às últimas eleições... E não só aqui, nos Estados Unidos, mas em outras partes do mundo. A rede social que o senhor citou, talvez ajude, e uma das bandeiras da ONU é acabar com esse discurso nas redes sociais e fora dela. Eu gostaria de saber qual é a importância dessa cooperação das Nações Unidas com os Estados Unidos. E como levar essa mensagem para o público americano de que a ONU é importante e de que os Estados Unidos dentro da ONU fazem a diferença?

Eu sendo afrodescendente, é um assunto muito importante: reconhecer essas divisões que acontecem na minha sociedade, aqui nos Estados Unidos, mas também no mundo.

CJ: Eu sendo afrodescendente, é um assunto muito importante: reconhecer essas divisões que acontecem na minha sociedade, aqui nos Estados Unidos, mas também no mundo. Os problemas das minorias. Temos que respeitar esses princípios de direitos humanos. Então, da parte do Departamento dos Estados Unidos, recentemente altos funcionários têm viajado por todo o país, para ensinar qual é a  importância da diplomacia.

A nossa vice-secretária de Relações Públicas, Liz Allen, está viajando para Califórnia, para Nevada, justamente para falar do nosso trabalho. Para os que pagam imposto aqui nos Estados Unidos entendam o nosso papel e o que estamos fazendo não somente para ajudar o povo norte-americano, mas também os mais necessitados do mundo.

A embaixadora dos EUA, Linda Thomas-Greenfield, falando na sessão do Conselho de Segurança sobre a Ucrânia
ONU/Manuel Elias
A embaixadora dos EUA, Linda Thomas-Greenfield, falando na sessão do Conselho de Segurança sobre a Ucrânia

ON: E esse trabalho é nas escolas, com jovens? Como é esse diálogo?

JC: Sim.  Nas universidades, também com as mídias. E uma campanha nas redes sociais. Vamos continuar fazendo isso para que o público entenda. Não só o que fazemos com a Ucrânia, mas também para combater a mudança climática. Tem sido uma campanha de longo prazo.  Desde que entrei como diplomata, temos um programa de que todos quando estamos de volta nos Estados Unidos, podemos fazer apresentações nas escolas, para falar em geral do que fazemos. Para que entendam.

ON: E falar da importância do multilateralismo?

CJ: Também. Felizmente, nos Estados Unidos, somos um país onde temos representantes de todas as partes do mundo. Então, dependendo da região dos Estados Unidos, você já vê uma espécie de ONU. Essa mistura de culturas. Importante que todos entendamos que isso é um dos pontos mais fortes do nosso país.

ON: Minha última pergunta é sobre Ucrânia. O seu presidente ontem aqui esteve dizendo que ninguém ganha numa guerra nuclear, não existem vencedores. Qual é a estratégia a curto e médio prazo, que o país tem, em cooperação com os demais países, principalmente no Conselho de Segurança, para ajudar a solucionar esse conflito?

Os Estados Unidos exigem que todos os países pressionem o Putin para terminar com esse conflito, essa guerra ilegal e irresponsável

JC: Evidentemente, é uma das prioridades mais importantes para os Estados Unidos. Foi muito bom o primeiro passo de que 141 países assinaram a declaração condenando a guerra na Ucrânia. Estamos trabalhando com parceiros para implementar sanções que aumentam o custo para o (Vladimir) Putin, mas que não provocam danos a outros países. Então, é assegurar que as cadeias de alimentos continuem, que o petróleo russo também chegue aos países que necessitam a um preço mais baixo. Estamos implementando um limite no preço do petróleo russo. E também as negociações, diplomacia, esse é o trabalho que nós fazemos e que vai ser a resolução para chegar ao fim desse conflito. Então, por isso, os Estados Unidos exigem que todos os países pressionem o Putin para terminar com esse conflito, essa guerra ilegal e irresponsável.

 

ON: E por último, como o senhor aprendeu português e como essa língua o ajuda no seu trabalho como profissional (diplomata)?

JC: Sim, sempre tem brasileiros em todas as partes do mundo onde eu já morei. E eu passei os últimos dois anos no Haiti. Claro que o francês foi muito importante para mim. Mas eu também falava português com vários colegas das Embaixadas ali. E contar com essa rede de profissionais tem sido um grande orgulho para mim, e um privilégio, na verdade. Como aprendi: minha mãe é da Nicarágua então eu cresci falando espanhol. Então, claro, as línguas são muito parecidas, mas aprendi português dois anos antes de ir para o meu primeiro posto em São Paulo, no Brasil, e ali aprendi muito mais.