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ONU reforça proteção de grupos vulneráveis no Rio Grande do Sul

Equipes de resgate navegam pelas enchentes no centro histórico da cidade de Porto Alegre, no estado do Rio Grande do Sul, no sul do Brasil
Acnur/Eduardo Aigner
Equipes de resgate navegam pelas enchentes no centro histórico da cidade de Porto Alegre, no estado do Rio Grande do Sul, no sul do Brasil

ONU reforça proteção de grupos vulneráveis no Rio Grande do Sul

Clima e Meio Ambiente

Muitos refugiados vivem em áreas impactadas e precisam de itens de socorro e apoio para acessar serviços básicos; mulheres e crianças estão mais expostas a violência física e sexual em abrigos e residências isoladas; meteorologistas alertam para novas chuvas de alta intensidade no estado. 

Dados oficiais das autoridades brasileiras apontam que as inundações no Rio Grande do Sul mataram pelo menos 107 pessoas e afetaram mais de 1,7 milhão. Cerca de 134 pessoas ainda estão desaparecidas.

Em coordenação com as autoridades locais, a Agência da ONU para Refugiados, Acnur, está distribuindo itens de socorro, como cobertores e colchões, e avaliando as necessidades da população afetada. 

Relato da linha de frente

Dentre as organizações parceiras do Acnur que atuam diretamente nas áreas afetadas está o Serviço Jesuíta para Migrantes e Refugiados, Sjmr. O coordenador da organização em São Leopoldo e Florianópolis, Elias Gertrudes, contou para a ONU News sobre as principais necessidades na linha de frente desta emergência climática. 

“A articulação para doações e resgate de pessoas está norteando o nosso trabalho como equipe. Assim toda equipe do Sjmr está envolvida de alguma forma e tenta ajudar com doações, encontrar desaparecidos, identificar possíveis abusos e violências de direitos. Este evento climático que assola o Rio Grande do Sul está sendo considerado pelos órgãos da defesa Civil, segurança pública e entidades ambientais como a pior tragédia presenciada na região sul do Brasil”.  

Segundo ele, a cidade de São Leopoldo está “isolada e sofre com falta de abastecimento de serviços básicos como supermercados e postos de combustível”. Mais da metade da cidade está submersa “com bairros inteiros destruídos e pessoas desoladas e sem abrigo”. Em Porto Alegre, o Sjmr ajudou a tirar 130 famílias de zonas de risco e levá-las para abrigos. 

Cheias no centro histórico de Porto Alegre, Rio Grande do Sul, Brasil
Acnur/Eduardo Aigner
Cheias no centro histórico de Porto Alegre, Rio Grande do Sul, Brasil

Refugiados em áreas afetadas

Entre os impactados estão cerca de 41 mil refugiados e outros que precisam de proteção internacional, incluindo muitos venezuelanos e haitianos que vivem nas áreas afetadas, algumas das quais só podem ser alcançadas de barco.

Segundo dados do governo, o Rio Grande do Sul abriga mais de 21 mil venezuelanos que foram realocados de Roraima, na fronteira norte do país com a Venezuela, desde abril de 2018.

O Acnur também está fornecendo apoio técnico para facilitar a comunicação com as comunidades impactadas para que refugiados e migrantes tenham acesso em seu próprio idioma a informações oficiais sobre recomendações de proteção e riscos nos lugares onde vivem.

Nos próximos dias, a agência apoiará a emissão de documentação, caso tenha sido perdida ou danificada, para garantir que refugiados e requerentes de asilo continuem a ter acesso a benefícios sociais e serviços públicos. 

Risco de violência para mulheres e crianças

Outros itens de socorro, como abrigos emergenciais, kits de cozinha, cobertores, lâmpadas solares e kits de higiene, estão sendo enviados ao Brasil a partir dos estoques regionais do Acnur e do estoque da agência no norte do país.

Atualmente, há 66 mil pessoas em abrigos no Rio Grande do Sul. Segundo o Fundo das Nações Unidas para a Infância, Unicef, é preciso saber quantas delas são crianças e adolescentes e quais são suas idades e necessidades. 

A representante adjunta da agência no Brasil, Denise Stuckenbruck, explica que “em emergências, crianças, adolescentes e mulheres ficam em situação de alta vulnerabilidade e em risco de sofrer diferentes tipos de violência”.

Segundo ela, essas populações ficam ainda mais expostas à violência física e sexual, pois em situação de abrigamento nem sempre há garantia de privacidade para cuidados pessoais, nem locais separados e seguros para famílias e crianças. 

Um homem atravessa enchentes em Porto Alegre, Rio Grande do Sul, Brasil
Acnur/Eduardo Aigner
Um homem atravessa enchentes em Porto Alegre, Rio Grande do Sul, Brasil

Proteção de crianças é “responsabilidade de todos”

Ao mesmo tempo, o isolamento em casa, o fechamento de escolas e a fragilização dos serviços de proteção e assistência social, também deixam crianças e adolescentes mais expostos à violência doméstica e sexual.

Denise afirmou que “proteger crianças e adolescentes das violências, em especial a violência sexual, é responsabilidade de todos envolvidos na resposta ao desastre no Rio Grande do Sul”. Ela ressaltou que o “principal canal para denúncias é o Disque 100”.

O Unicef informa que neste momento, em Porto Alegre, a orientação do Ministério Público do Rio Grande do Sul é que meninas e meninos desacompanhados sejam encaminhados diretamente ao Ginásio Geraldo Santana, na rua Luis de Camões 337, Bairro Santo Antônio. Nesse local, profissionais capacitados tomarão as medidas necessárias para identificação, encaminhamento e reunificação familiar.

A agência lembra que não se deve compartilhar fotos, vídeos e dados de crianças e adolescentes desacompanhados em redes sociais. Isso expõe os menores a uma série de riscos. Somente autoridades competentes podem atuar na reunificação das crianças com suas famílias ou no direcionamento delas a serviços de acolhimento.

Novas chuvas de alta intensidade

Eventos climáticos extremos no Brasil têm sido frequentes e mais devastadores nos últimos anos, incluindo secas na região amazônica e chuvas severas nos estados da Bahia e Acre, aos quais as agências da ONU tem respondido.

Os meteorologistas estão alertando para novas chuvas de alta intensidade e ventos fortes em todo o estado do Rio Grande do Sul até este fim de semana.

Mais de 85% do território gaúcho foi atingido pelas enchentes, com cerca de 327 mil forçadas a deixar suas casas.