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Haitianos se unem para enfrentar a crise de cólera

Uma mulher com cólera é tratada em um hospital em Porto Príncipe, Haiti
© Unicef/Odelyn Joseph
Uma mulher com cólera é tratada em um hospital em Porto Príncipe, Haiti

Haitianos se unem para enfrentar a crise de cólera

Ajuda humanitária

Chefe do Sistema da ONU no país escreveu um relato sobre a situação; Ulrika Richardson disse ter ficado impressionada e comovida com o empenho e dedicação dos profissionais de saúde desde o primeiro dia do surto; atuação humanitária acontece junto a parceiros nacionais e internacionais em apoio ao Ministério da Saúde.

A chefe do sistema da ONU e coordenadora humanitária no Haiti disse que haitianos estão se unindo para combater o recente surto de cólera. Ulrika Richardson acompanhou relatos de profissionais de saúde que tratam pacientes com a doença.

A mais alta autoridade das Nações Unidas no país visitou vários centros de tratamento na capital, Porto Príncipe, onde conheceu funcionários, médicos e pacientes.

Ulrika Richardson, coordenadora humanitária e residente da ONU no Haiti visita um centro de tratamento de cólera em Porto Príncipe
Unocha/Christian Cricboom
Ulrika Richardson, coordenadora humanitária e residente da ONU no Haiti visita um centro de tratamento de cólera em Porto Príncipe

Crianças doentes e desnutridas

Ela contou que na visita aos vários centros de tratamento de cólera nos bairros mais afetados de Porto Príncipe viu “cenas de partir o coração”, como “crianças que estavam tão desnutridas que era difícil inserir um soro em seus braços ou pernas e adultos que estavam claramente muito doentes”.

Ulrika destacou o cheiro intenso do desinfetante à base de cloro, usado para esterilizar o ambiente. Para ela, um claro sinal de que o local é bem administrado por profissionais de saúde que sabem como prevenir e tratar a doença.

A coordenadora disse ter ficado impressionada e comovida com o empenho e dedicação dos profissionais de saúde. E que conheceu “muitas pessoas inspiradoras” que encarnaram profissionalismo, demonstraram humanidade e enorme empatia com os pacientes em tratamento.

Funcionários da Opas treinam agentes comunitários de saúde na identificação e prevenção do cólera
© Opas
Funcionários da Opas treinam agentes comunitários de saúde na identificação e prevenção do cólera

Aumento acentuado de casos

Segundo a representante da ONU, até poucos dias atrás, o aumento dos casos de cólera era gradual, mas agora há um aumento preocupante. Ela descreve a situação como mais desafiadora.

Ela lembra que, embora a cólera possa ser mortal, é evitável e tratável, e que a velocidade de ação é essencial para conter um surto e salvar vidas. Ulrika Richardson acredita que a resposta de saúde pública das autoridades haitianas, ONGs locais e internacionais com o apoio da ONU foi imediata e decisiva, apesar da escassez de água potável e combustível necessários para fornecer energia às unidades de saúde e permitir que os funcionários trabalhem.

A chefe da ONU no Haiti informou que centros de tratamento de cólera foram rapidamente estabelecidos para cuidar dos doentes. Ela lembra que o povo haitiano já viveu um surto de cólera antes, então há conhecimento e experiência que são extremamente valiosos atualmente para evitar que a situação saia do controle.

Ulrika disse também que as mensagens de saúde pública do Ministério da Saúde no rádio e por meio de mensagens de texto, apoiadas pelas Nações Unidas, ressaltaram a importância de medidas preventivas como lavar e desinfetar as mãos.

Capital do Haiti, Porto Príncipe
UNDP Haiti/Borja Lopetegui Gonzalez
Capital do Haiti, Porto Príncipe

Crise de insegurança

Outra questão abordada pela representante foi sobre a incapacidade das pessoas de circularem livremente, especialmente na capital Porto Príncipe, devido à situação de segurança prevalecente e à falta de combustível. Para ela, isso também pode ter contribuído para conter a propagação, embora essa insegurança também tenha complicado a resposta ao cólera.

Desde o início do surto, a ONU no Haiti, com seus parceiros nacionais e internacionais, trabalha ao lado do Ministério da Saúde.

A Organização Pan-Americana da Saúde, Opas, apoiou parceiros das Nações Unidas para abrir 13 centros de tratamento de cólera. Pontos de reidratação oral também estão sendo estabelecidos, principalmente em comunidades de difícil acesso para tratar casos mais leves e encaminhar outras pessoas para instalações de internação.

Além disso, foi prestada assistência para treinar 300 agentes comunitários de saúde. A coordenadora afirma que esses trabalhadores são cruciais, pois há muitas comunidades isoladas devido à violência de gangues armadas.

Metade da população haitiana enfrenta insegurança alimentar
Unicef/Roger LeMoyne
Metade da população haitiana enfrenta insegurança alimentar

O trabalho das agências da ONU

O Fundo das Nações Unidas para Infância, Unicef, e a Organização Internacional para as Migrações, OIM, estão apoiando as autoridades haitianas e organizações parceiras com cloro, pastilhas purificadoras de água, kits de higiene e suprimentos médicos, como sais de reidratação oral.

O Unicef por meio de seus parceiros, também está implantando clínicas móveis de saúde em Cité Soleil, o bairro mais afetado da capital.

A coordenadora afirma que a situação humanitária no Haiti é “desesperadora para muitos e o cólera é apenas um desafio urgente”. O aumento da fome enfrentado por muitos haitianos é outra grande preocupação que precisa ser abordada. O Programa Mundial de Alimentos, PMA, retomou a distribuição de alimentos dentro de Cité Soleil, atingindo mais de 5,5 mil pessoas vulneráveis ​​desde meados de outubro.

Ulrika Richardson diz que como coordenadora residente humanitária da ONU no Haiti, seu papel é facilitar a resposta da organização
© Ocha/Christian Cricboom
Ulrika Richardson diz que como coordenadora residente humanitária da ONU no Haiti, seu papel é facilitar a resposta da organização

Coordenadora e solucionadora de problemas

Em seu relato, Ulrika Richardson diz que como coordenadora residente humanitária da ONU no Haiti, seu papel é facilitar a resposta da organização de forma a maximizar o impacto e garantir que todo o conhecimento e experiência apoiem efetivamente a estratégia de prevenção e tratamento da cólera do Ministério da Saúde.

Ela explica que isso significa fazer articulações, seja no Haiti com entidades nacionais ou com diferentes áreas da ONU, para que o esforço conjunto seja maior que a soma de suas partes.

Ulrika termina o texto dizendo que desde a sua criação, as Nações Unidas e o Haiti têm compartilhado um forte vínculo. E que agora “é mais uma vez a hora de a ONU e os haitianos se unirem para enfrentar esta crise, para que o Haiti e seu povo emerjam mais fortes e mais unificados à medida que o país continua no caminho da estabilidade, igualdade e prosperidade”.