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Embaixador do Brasil na ONU afirma que país busca “protagonismo concreto” na atuação climática

Embaixador do Brasil na ONU afirma que país busca “protagonismo concreto” na atuação climática

Temos tudo para voltarmos a ter um protagonismo, mas um protagonismo muito objetivo. E não é apenas por vaidade ou por desejo. 

UN Photo/Eskinder Debebe
Embaixador do Brasil na ONU afirma que país busca “protagonismo concreto” na atuação climática

Embaixador do Brasil na ONU afirma que país busca “protagonismo concreto” na atuação climática

Paz e segurança

Sérgio França Danese compartilha com o Podcast ONU News a abordagem brasileira no Conselho de Segurança e a recente resolução elaborada sobre Israel e Palestina; diplomata destaca planos para a atuação do Brasil na ONU e seu papel na agenda climática global.

O Podcast ONU News conversou com o embaixador do Brasil na ONU, Sérgio França Danese. Ele está na posição desde julho deste ano e possui uma vasta carreira na diplomacia brasileira, além de já ter sido secretário-geral das Relações Exteriores, um dos cargos mais importantes do ministério. 

Poucos meses depois de começar na atual posição, o diplomata se sentou na presidência do Conselho de Segurança com o desafio de buscar consenso para a crise entre Israel e Palestina, agravada em 7 de outubro.

Ele contou a ONU News como o Brasil atuou na elaboração da resolução que mais recebeu votos a favor, embora tenha sido vetada pelos Estados Unidos. Danese também fala sobre como o país busca atuar dentro da ONU nos próximos meses e a busca por protagonismo na pauta climática.

Acompanhe a entrevista com Mayra Lopes e Felipe de Carvalho.

Liderança do Brasil no Conselho de Segurança durante crise Israel-Palestina teve “saldo positivo”

ONU News: No discurso que marcou o início da presidência brasileira no Conselho de Segurança em outubro, o senhor mencionou a capacidade do Brasil de construir pontes e buscar o consenso. Poucos dias depois, eclodiu uma onda sem precedentes de violência num dos conflitos mais complexos do mundo. E o Brasil teve que liderar o Conselho de Segurança durante essa crise. Na sua avaliação, em que medida o senhor considera que esse foi um teste da capacidade diplomática do Brasil? E qual o saldo?

Embaixador Sérgio Danese: Olha, eu acho que o saldo foi positivo, embora, obviamente, de forma lamentável, tenha sido por causa de um conflito que continua de uma extrema gravidade. Mas eu acho que foi bom para nós mostrarmos de maneira muito concreta, prática, o que era aquela ideia de que o Brasil estava de volta, que foi um pouco um bordão da nossa diplomacia durante esse ano.

E ali nós pudemos mostrar essa capacidade que o Brasil tem de articular, de fazer pontes e de intermediar negociações e de trazer um peso e uma autoridade que é muito respeitada. Eu acho que isso foi o que nos ajudou muito no exercício dessa presidência, porque nós conseguimos de fato avançar bastante em vários temas, mas sobretudo nessa discussão sobre o conflito entre Israel e o Hamas, nós praticamente quase chegamos lá de conseguir uma resolução que era muito importante, era muito esperada.

Infelizmente, ela foi vetada, mas nós mostramos a capacidade de fazer um trabalho de construção e de ter a autoridade de apresentar a resolução, apesar de que, havia no momento, uma suspeita ou uma possibilidade elevada de que ela fosse vetada por um dos membros permanentes. Isso não nos impediu de seguir adiante. Eu acho que essa é uma prova do peso que o Brasil tem, da capacidade que o Brasil tem de articular e de atuar de maneira consistente com os seus princípios, com as suas, com os seus interesses.

Ministro de Relações Exteriores  do Brasil, Mauro Vieira, aborda a reunião do Conselho de Segurança da ONU sobre a situação no Oriente Médio, incluindo a Questão Palestina.
UN Photo/Eskinder Debebe
Ministro de Relações Exteriores do Brasil, Mauro Vieira, aborda a reunião do Conselho de Segurança da ONU sobre a situação no Oriente Médio, incluindo a Questão Palestina.

ONU News: E o senhor se lembra, como um diplomata experiente, mas chegado há pouco tempo nas Nações Unidas e assumindo o Conselho de Segurança, num momento em que algo tão grave como esse conflito surgiu, o senhor lembra o momento em que ficou sabendo do que aconteceu no dia 7 de outubro e qual foi a sua reação, o seu primeiro pensamento?

Sérgio Danese: Nós assumimos a presidência em outubro, que é um mês particularmente tenso no Conselho de Segurança, porque coincide no mês de outubro vários compromissos. Há vários relatórios que são apresentados nesse momento, há vários, as várias resoluções que têm que ser, os mandatos que têm que ser renovados etc. Há também um evento muito importante, que é relativo a mulheres, paz e segurança, que recai no mês de outubro.

Então, quem quer que esteja executando, exercendo a presidência naquele momento, tem que ser responsável por apresentar, por fazer, dar vida a esse evento que é tão importante. Nós já estávamos com uma atividade muito intensa, programada para o mês inteiro, inclusive tínhamos começado. 

Começamos o mês com a resolução sobre o Haiti e a sua negociação se estendeu um pouco e ela acabou sendo votada no primeiro dia útil da nossa presidência, que foi o dia 2 de outubro, na segunda feira.

Nós tínhamos nessa mesma semana uma reunião que foi retomada, que é tradicional entre o Conselho de Segurança das Nações Unidas e o Conselho de Paz e Segurança da União Africana. É muito importante essa reunião, porque muitos dos temas que estão sob o exame ou estão sob a responsabilidade do Conselho de Segurança são temas africanos, são os conflitos que existem na África. Essa interação entre o Conselho e a União Africana é muito importante.

Nós estávamos justamente, os membros do Conselho, participando dessa reunião. Sábado, dia 7, a reunião tinha terminado e nós estávamos embarcando de volta para Nova Iorque, todos os 15 representantes dos países-membros do Conselho de Segurança. Os eventos começaram nesse momento que nós estávamos embarcando e eu convoquei a reunião de emergência que ocorreria no dia seguinte, no dia 8, no saguão do aeroporto, na sala de autoridades do aeroporto. Eu tive que bater na mesa e pedir às pessoas que dessem atenção e dizer que eu estava convocando uma reunião de emergência para o dia seguinte.

Nós voamos a noite inteira e chegamos no dia seguinte no dia 8, para fazer a reunião de tarde, já com uma enorme mobilização em torno em torno do tema. E aí começou todo o processo dentro do Conselho de tentar negociar uma posição do que infelizmente, até hoje. Nós já terminamos a nossa presidência, já estamos a um terço da presidência chinesa e nós ainda não conseguimos que o Conselho pudesse se pronunciar.

O tema passou para a Assembleia Geral. Isso torna as coisas bastante mais complexas, porque você agora tem uma resolução importante da Assembleia Geral, com uma série de manifestações, com uma série de posicionamentos. Isso, obviamente, coloca também uma pressão adicional sobre o Conselho.

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ONU News: Eu queria voltar um pouquinho na questão do veto e sobretudo essa a questão do Brasil querer estar mais atuante. Como que foi a reação do Brasil após receber o veto pela resolução? E eu queria também conseguir entender um pouco melhor como que o Brasil conseguiu se dividir nesse último mês entre a capacidade nacional de articular enquanto Brasil e a capacidade de presidência? 

Sérgio Danese: Bom, a nossa reação, obviamente, no momento do veto, foi de frustração, mas não de surpresa, porque havia uma grande chance de que aquilo ocorresse. Nós tentamos por todas as formas convencer todos os países de que, na pior das hipóteses, eles deveriam apenas se abster e deixar que a resolução passasse, porque nós sabíamos que a resolução tinha um grande apoio.

Nós tivemos o apoio integral dos membros do chamado E-10, que são os 10 membros eleitos, e tivemos o apoio de dois membros permanentes. Dois se abstiveram e um vetou, mas nós sabíamos que havia um forte risco de que isso acontecesse. Isso não nos intimidou. Eu acho que isso é que é importante que a gente ressalte o Brasil, como presidência do Conselho e como posição nacional, que era importante tentar obter um resultado.

Se não obtivesse esse resultado, aquele que é responsável pela não obtenção do resultado devia assumir a responsabilidade e não nós deixarmos de fazer alguma coisa por temor a que aquilo fosse vetado ou que não tivéssemos o número de votos suficientes. Nós nunca duvidamos de que teríamos número de votos, porque isso foi negociado, foi conversado. A gente também prepara tudo isso. A dúvida era se no último momento não haveria possibilidade de não haver um veto e sim uma simples abstenção. 

Acho que os desenvolvimentos provaram que nós tínhamos razão, porque hoje em dia, eu acho que há um grande arrependimento de muitos pelo fato de que nós não aprovamos aquela resolução naquele momento, a situação piorou sensivelmente depois daquilo e o conselho continua imobilizado e é difícil aquela resolução já perdeu o momento, porque ela teria que ser atualizada. E as condições mudaram. A questão da Assembleia Geral mudou a presidência etc. 

Ao exercer a presidência, você tem que ter uma visão um pouco distanciada da sua capacidade nacional. Obviamente, quando você trata dos temas estritamente com a sua capacidade nacional, você presta muita atenção – pelo menos na minha visão – você tem que prestar muita atenção como que aquilo que você está tentando fazer pode também afetar as suas relações com os diferentes países que estão envolvidos na questão.

Quando você está exercendo a presidência, você tem um mandato de presidente. Por que que nós apresentamos aquela resolução? Porque nos foi pedido, como presidência, que nós fizéssemos um trabalho de tentar construir uma resolução e que nós a apresentássemos. Então, não necessariamente aquela resolução que nós apresentamos coincidia inteiramente com o que nós desejaríamos, como o país ter visto numa resolução, mas é parte do que você tem que fazer tem que negociar, você tem que fazer concessões, você tem que fazer, tentar achar ali uma decisão que seja o mais equilibrada possível para que ela possa ser aprovada, porque se não, ela não é aprovada. No caso, não acabou não sendo aprovado. Mas o exercício foi feito.

Brasil assume a presidência do Conselho de Segurança das Nações Unidas, em meio a diversas crises e situações de instabilidade em nível global
ONU/Eskinder Debebe
Brasil assume a presidência do Conselho de Segurança das Nações Unidas, em meio a diversas crises e situações de instabilidade em nível global

ONU News: Embaixador, agora uma curiosidade, outubro foi um mês de intensa atividade no Conselho de Segurança. A agenda já era uma agenda intensa e ficou mais intensa ainda por conta dessa crise no Oriente Médio. E os olhos do mundo inteiro estavam focados no que estava acontecendo ali no Conselho de Segurança. Mas muitas movimentações acontecem nos bastidores ou em reuniões fechadas. Como é que é a dinâmica das negociações nesses momentos e como é que o Brasil atuou?

Sérgio Danese: Enfim, de fato, foi algo muito intenso. Foi tão intenso que o nosso ministro de Relações Exteriores estava previsto que ele viesse, porque ele presidiria o nosso evento – o signature event, o nosso debate aberto, porque além do debate sobre mulheres, paz e segurança que recaía sobre a nossa presidência, os países, sempre na sua presidência, propõem um debate aberto com um tema livre que o país escolhe.

Nós já tínhamos esse tema escolhido. Era uma reflexão sobre mecanismos ou iniciativas regionais, sub-regionais e bilaterais que promoveram a paz e segurança. E nós tínhamos bons exemplos para mostrar como é possível que, com boa diplomacia, com vontade política, você consegue resolver conflitos. O ministro já estava previsto para vir aqui presidir quatro sessões dessas, os dois eventos e mais as duas sessões que havia, uma sobre o Haiti e outra que acabou virando uma sessão de alto nível sobre o Oriente Médio. Já estava previsto que fosse alguma coisa muito intensa. Nós tivemos o benefício de que o ministro vinha, mas ele veio mais vezes por conta da crise. Isso nos ajudou muito, porque para nós isso nos deu muita agilidade para podermos reagir dentro dos processos negociadores que se sucederam.

É muito fácil você pedir instrução, porque o ministro ali do lado você perguntou, ele mesmo está ali participando. As negociações são intensas e a palavra intensa aqui talvez até seja suave para designar, porque há negociações que vão noite adentro, não houve fim de semana. A minha equipe trabalhou incansavelmente nesse processo. 

Aliás, eu queria fazer dar um testemunho e fazer um agradecer muito pela qualidade do trabalho da equipe que eu tenho, gente muito experiente, embora haja diplomatas muito jovens, mas é uma equipe de excelente qualidade, com uma disposição de trabalho absolutamente invejável e é realmente muito digno de elogio, porque viraram noites e fins de semana. 

Nós estivemos mobilizados todo o tempo, com muitas consultas, elas procuram ser discretas, embora muita coisa vaze. O vazamento às vezes é uma forma também de você testar as águas, testar um pouco as reações. É um processo de fato muito intenso, muito interessante, de uma enorme experiência, com enorme cansaço também. As pessoas chegaram no final do da presidência bastante exaustas. 

E você se sente realmente um peso grande da responsabilidade de estar conduzindo isso porque todo mundo olha para você, sobretudo para um país como o Brasil. Porque o Brasil, pelo peso que tem, é uma grande vantagem aqui, que é o fato de outros países terão também, mas não são muitos. 

O Brasil fala com todo mundo, fala abertamente com todo mundo, tem uma grande capacidade de articulação por conta de ser um país que não tem conflito com ninguém, não tem litígio, não tem diferença, não tem disputa, não tem, não compete, não cria caso. Isso facilita muito a nossa atuação aqui.

Activistas organizam protestos massivos na COP27 em Sharm El-Sheikh, exigindo que os líderes abordem questões vitais relacionadas com a agricultura, a adaptação e a resiliência climática
ONU/Laura Quinones
Activistas organizam protestos massivos na COP27 em Sharm El-Sheikh, exigindo que os líderes abordem questões vitais relacionadas com a agricultura, a adaptação e a resiliência climática

ONU News: Vocês ainda têm mais dois meses no Conselho de Segurança, no assento rotativo. O que vão acontecer nesses dois meses, especialmente na questão Palestina, e no que mais o Brasil tem vontade de atuar?

Sérgio Danese: Vamos continuar trabalhando intensamente. Com os temas que estão no Conselho de Segurança, você olha o mundo inteiro e eu acho que essa questão do conflito vai continuar com muita intensidade. A intensidade, inclusive, aumentou desde o início do conflito. Isso, sem dúvida, vai nos ocupar por um bom tempo, porque ainda que o conflito se resolvesse em uma semana, duas ou três, você vai ter o pós-conflito. O Conselho deveria ter algo a contribuir para isso. Se ele não puder fazer isso, é lamentável, haverá as suas razões, mas nós vamos tentar que o Conselho desempenhe esse papel. 

Há outros temas. Há um tema que é interessante de seguir, não é uma atribuição do Conselho, é a questão do Haiti. O Conselho se pronunciou autorizando o envio de uma força multinacional policial que está em preparação. Nós vamos ter que fazer o seguimento disso, porque é muito importante. Nós não vamos participar diretamente disso, mas estamos pensando de que forma de cooperar, de ajudar, pela experiência que o Brasil teve no Haiti por tantos anos. 

Há vários temas relativos a África, a missões de paz que estão em curso. Há missões de paz que vão ser desmobilizadas. Isso é importante para nós. Nós temos a missão de paz na República Democrática do Congo, por exemplo, cujo comandante da força é brasileiro. E a desmobilização dessas forças de paz que está ocorrendo está ocorrendo agora no Mali, vai ocorrer na República Democrática do Congo. 

São todos temas que nos que nos preocupam muito, porque não tem sido algo simples. Essa desmobilização no Mali não tem sido simples e nós temos preocupação de que com o Congo não ocorra a mesma coisa, que ela possa ser uma desmobilização, uma retirada que é progressiva, que ela possa ser mais harmoniosa do que aquilo que tem ocorrido no Mali.

Há uma série de outros temas e o Conselho tem essa característica, os temas aparecem sem ser planejados. Existe um cronograma de trabalho, mas as coisas que mais nos agitam são imprevistos, como foram os ataques de 7 de outubro.

ONU News: Mesmo após o Brasil deixar a sua vaga no Conselho de Segurança, como é que o país pretende continuar atuando como um mediador de conflitos, como o senhor falou o Brasil? Em outra oportunidade, também o senhor mencionou que acredita que o Brasil pode ter um papel relevante no Haiti, Colômbia, Ucrânia. Qual é a avaliação sobre a capacidade do Brasil de ser mediador?

Sérgio Danese:  Nós vamos continuar atuando como sempre, como sempre fizemos dentro da tradição da nossa diplomacia, que é de ser um país que tem essa capacidade de mediar, construir pontes, promover o diálogo de promover a concertação. 

Nós vamos tomar concretamente uma medida que já foi acertado. Nós sugerimos que o Brasil pudesse assumir a presidência da Comissão de Construção da Paz que é um órgão vinculado à Assembleia Geral ao qual nós pertencemos.

A próxima presidência caberá a um país latino-americano e nós nos voluntariamos para presidir essa comissão. Nós vamos estar nessa presidência no ano que vem. Isso, inclusive, é uma forma assim, digamos, suave, de voltar para a planície, porque depois você está no Conselho [de Segurança], de repente pode até sentir uma sensação de sensação de vazio. 

Então nós, com isso, pretendemos continuar dando uma contribuição. A Comissão se debruça sobre vários países. Temos ali dentro há muito tempo, a presidência, que ali é conhecido como uma configuração de construção de paz, que é a Guiné-Bissau há muitos anos e nós vamos, portanto, colocar também a serviço dessa presidência da Comissão a experiência que temos tido com Guiné-Bissau, que está passando por um momento importante. 

A Guiné-Bissau tem um bom processo de normalização da sua vida institucional, de retomada plena da sua vida institucional e nós achamos que é muito importante que a Comissão como um órgão multilateral e o Brasil como um parceiro bilateral de Guiné-Bissau, possam ajudar a consolidar esse processo em que o país deu realmente um passo adiante e firme nessa da normalização da sua vida institucional, da retomada do seu desenvolvimento sustentável.

É um país importante para nós, de língua portuguesa. É um país irmão com o qual nós temos relações muito estreitas. E eventualmente tendo êxito, achando que esse processo pode ser considerado exitoso, de tentar ver como é que nós podemos aplicar a experiência de configuração da Guiné-Bissau a outros casos de países que preciso de uma ajuda internacional.

Eles não são objeto do Conselho de Segurança. Não estão sendo tratados como um tema do Conselho de Segurança, mas precisam de uma ajuda internacional multilateral, sob a égide da ONU, para se estabilizarem, voltarem a ter uma vida institucional normal e a se desenvolver.

Pessoas caminham pelo distrito de Turgeau, um dos bairros da capital do Haiti, Porto Príncipe, mais afetado pela violência das gangues
© Unicef/U.S. CDC/Roger LeMoyne
Pessoas caminham pelo distrito de Turgeau, um dos bairros da capital do Haiti, Porto Príncipe, mais afetado pela violência das gangues

ONU News: Vamos falar sobre o clima. O senhor já chegou a mencionar que “não era razoável o Brasil não exercer liderança nesses temas de meio ambiente”. O que o Brasil está organizando para atuação agora na COP28. Existe alguma negociação já acontecendo para o final desse mês?

Sérgio Danese: Essas negociações têm sido feitas em outros âmbitos, não diretamente aqui pela missão em Nova Iorque, mas o que eu entendo que nós já tivemos uma espécie de regresso do Brasil a esse protagonismo importante e respeitado. Na própria COP27, embora não tivesse começado ainda o governo do presidente Lula, ele esteve lá e fez um discurso muito importante.

Aquele discurso marca realmente esse desejo do Brasil de voltar a ter um papel de protagonismo nessas negociações e, sobretudo, de amparar isso com medidas internas muito concretas de retomada de políticas que tinham sido deixadas de lado, tinha diminuído de intensidade. Eu acho que ali está traçado um pouco o mapa do caminho daquilo que nós vamos fazer com o objetivo de chegar em 2025, a COP 30 que nós vamos sediar no Brasil. 

Acho que nós trabalhado intensamente nessas negociações. E o Brasil voltou a se engajar de forma plena nessas negociações. Mas eu desconheço detalhes do que está sendo negociado especificamente. Mas eu acho que o importante aqui é essa combinação de um desejo de voltar a ter esse protagonismo, mas não é um protagonismo gratuito ou apenas de uma vontade mostrar desempenho. É porque tem muito a ver com o que nós estamos fazendo dentro do país. 

O Brasil tem um enorme patrimônio ambiental, tem uma enorme contribuição a dar em tudo o que tem a ver com clima e meio ambiente. E é um país que tem uma matriz energética muito limpa, que tem muitos exemplos de boas práticas em todas essas áreas e que voltou a dar atenção a isso, colocar isso como uma das suas, uma das suas prioridades.

É uma das grandes marcas que o Brasil pode levar para sua atuação internacional, na qual nós temos autoridade, temos peso específico num país com uma quantidade enorme de ecossistemas que tem uma tradição, como eu disse, de uma matriz energética muito limpa, relativamente, renovável. E que tem um patrimônio, como disse, enorme, que que precisa preservar também.

Então eu acho que nós temos tudo para voltarmos a ter um protagonismo, mas um protagonismo muito objetivo. E não é apenas por vaidade ou por desejo. É um instrumento de afirmação tanto internamente no país quanto internacionalmente.

ONU News: Embaixador, muito obrigado por participar e por compartilhar essa experiência tão intensa no mês de outubro no Conselho de Segurança e as visões da diplomacia brasileira.

Sérgio Danese: Eu só queria corrigir uma coisa que vocês disseram no começo. Na verdade, na conferência do Rio 92, eu participei como secretário-geral da delegação brasileira. O título é mais pomposo do que as funções que eu tinha. Minhas funções eram meramente logísticas, de dar apoio a uma enorme delegação que o Brasil teve naquela como aquela conferência.

Foi realmente um marco na nossa política externa, e nós participamos porque presidimos, fizemos a conferência, presidimos vários mecanismos que havia dentro da conferência, várias das comissões e a delegação era gigantesca e necessitava um enorme apoio logístico.

E eu era o responsável por esse apoio logístico. Era um jovem secretário na época. Eu não podia ter todo esse papel que você, para vaidade minha, mencionou. Eu queria corrigir isso, porque não é verdade.

Foi um foi um grande momento, um grande acerto do presidente Sarney de ter oferecido o Brasil para sediar a conferência. Não foi no seu mandato, foi no mandato do presidente Collor. 

Mas nós, naquele momento, fizemos um grande trabalho. Foi uma extraordinária conferência que mostrou o Brasil que tem, o que mostrar, que tem como liderar nessa área. Em algumas outras, obviamente. Mas nessa área muito especialmente.

ONU News: Muito obrigado, embaixador. Até uma próxima oportunidade.