Na ONU, indígenas do Brasil defendem proteção de direitos
Organização acolhe centenas de representantes na 18ª sessão do Fórum Permanente sobre Assuntos Indígenas, em Nova Iorque; dois brasileiros disseram à ONU News que defesa de direitos conquistados e educação são prioridades.
Dois representantes brasileiros participam do Fórum Permanente sobre Assuntos Indígenas e destacam a defesa de direitos e a educação como prioridades de sua participação no evento.
A 18ª sessão do fórum começou na segunda-feira na sede das Nações Unidas, em Nova Iorque, e durante duas semanas reúne centenas de participantes de todo o mundo.
Mensagem
Em entrevista à ONU News, a integrante da comunidade indígena Yawanawa, Sara Yawanawa, disse que trazia uma “mensagem de força” para o encontro.
A representante da associação socio-cultural Yawanawa-Ascy disse que “esse momento não está sendo fácil” e que o apoio das Nações Unidas na defesa e promoção dos direitos destes povos é essencial.
“É de grande importância esse papel da ONU nas nossas comunidades. A gente precisa muito desse apoio e a gente está aqui reivindicando, pedindo ajuda. A gente não pode perder mais o nosso espaço. A gente tem de ganhar mais espaço e não perder aquilo que a gente já conquistou.”
Desafios
Já Lucas Manchineri é morador da Terra Índigena Mamoadate, também no estado do Acre. O representante explicou quais são os maiores desafios desses povos.
“O problema é o retrocesso que está tendo no Brasil sobre a violação dos direitos dos povos indígenas. Inclusive vários líderes no Brasil estão no acampamento Terra Livre, em Brasília, para fazer a reinvindicação dos nossos direitos. Hoje tem um retrocesso muito grande na questão da demarcação das terras indígenas, a entrada de mineração, madeireiro, dentro das terras indígenas, a questão das fronteiras.”
Em todo o mundo, existem 770 milhões de indígenas em 90 países, constituindo 6% dos habitantes. Eles representam cerca de 15% dos mais pobres da população, segundo as Nações Unidas.
Conhecimentos
O tema do encontro do Fórum desse ano é “Conhecimento tradicional dos povos indígenas: geração, transmissão e proteção”.
Maxineru disse que a transmissão de conhecimentos entre as gerações é um desafio e explicou algumas das medidas que devem ser tomadas.
“Hoje, a sociedade envolvente está cada vez mais entrando nas comunidades. Acho que, primeiro, na questão dos conhecimentos tradicionais, é valorizar o que existe e recuperar o que perdemos. Fortalecer os professores indígenas, fazer formação e continuar fazendo a pesquisa e colocar tudo isso em livro, para as crianças, sempre lendo e entendendo a lógica dos nossos conhecimentos.”
O representante diz que uma parte desse trabalho já está sendo feita e devia receber mais reconhecimento do Estado brasileiro e de organizações internacionais, como a ONU.
Defesa das línguas
As Nações Unidas marcam em 2019 o Ano Internacional das Línguas Indígenas para chamar a atenção sobre a extinção desses idiomas.
Sara Yawanawa diz que esse também é um problema na sua comunidade, sendo importante apoiar projetos que ajudem a proteger este patrimônio.
“Uma das minhas preocupações é a questão da educação dentro das nossas comunidades. A educação é muito importante para a gente. A língua é a nossa identidade, a gente não pode perder. As crianças têm de ter essa oportunidade de resgatar aquilo que a gente estava perdendo, a língua. A gente tem de ganhar mais ainda. Trazer a língua de volta, criar projetos para fortalecer isso dentro das aldeias. Vejo isso com grande preocupação. Como mulher, tenho a obrigação de ensinar para o meu filho o que é que o meu pai passou para mim, a minha língua, os meus conhecimentos tradicionais, o meu povo.”
A celebração do Ano Internacional das Línguas Indígenas pretende alertar para a necessidade de preservar as 7 mil línguas indígenas faladas em todo o mundo. Nesse momento, cerca de 2.680 idiomas nativos correm o risco de desaparecer.