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Guterres pede mais ações sobre proteção e participação de mulheres em processo de paz e segurança BR

Lina Ekomo, uma ativista de gênero na República Centro-Africana
Minusca/Hervé Serefio
Lina Ekomo, uma ativista de gênero na República Centro-Africana

Guterres pede mais ações sobre proteção e participação de mulheres em processo de paz e segurança

Mulheres

Resolução que promove presença feminina nesta área completa 25 anos; líder da ONU aponta falhas no cumprimento de compromissos internacionais; já diretora executiva da ONU Mulheres diz que crescimento e normalização da misoginia não podem ser encarados como inevitáveis. 

Em reunião no Conselho de Segurança para celebrar 25 anos da histórica resolução 1325, sobre Mulheres, Paz e Segurança, o secretário-geral da ONU ressaltou que 676 milhões de mulheres vivem a menos de 50 km de conflitos fatais, o maior número em décadas.

António Guterres pediu franqueza para reconhecer que muitos compromissos adotados internacionalmente falham em garantir proteção para mulheres e meninas, a participação delas em negociações de paz e a punição para atos de violência sexual.

“Subfinanciadas, ameaçadas e pouco reconhecidas”

No ano passado, houve um aumento de 35% no número de meninas que sofreram agressões sexuais em zonas de conflito.

Guterres afirmou que mulheres que se dedicam à paz “são subfinanciadas, ameaçadas e pouco reconhecidas e todos perdem com isso, inclusive homens e meninos”.

Uma pesquisa realizada pela ONU Mulheres este ano revelou que 90% dos grupos locais liderados por mulheres em áreas de conflito relataram dificuldades financeiras. Quase metade declarou que poderia fechar as portas em seis meses.

O líder da ONU também destacou que, cada vez mais, aquelas que atuam como políticas, jornalistas ou defensoras dos direitos humanos “são alvo de violência e assédio”.

Compromisso lançado pela ONU

Guterres lembrou que a ONU lançou no ano passado um compromisso comum para a participação plena, igualitária e significativa das mulheres nos processos de paz. A meta inicial é de que pelo menos um terço dos participantes de negociações lideradas pela ONU sejam mulheres.

O objetivo final é alcançar a paridade de gênero em todos os processos de paz e segurança.

Ele revelou que 39 entidades, incluindo Estados-membros, organizações internacionais e regionais, entre outras, adotaram a proposta. O chefe da ONU pediu que os compromissos se traduzam em ações concretas.

A subsecretária-geral e diretora executiva da ONU Mulheres, Sima Bahous
ONU/Manuel Elias
A subsecretária-geral e diretora executiva da ONU Mulheres, Sima Bahous

Ascensão e a normalização da misoginia

A diretora executiva da ONU Mulheres, Sima Bahous, disse que a Resolução 1325 é “um marco nascido da convicção do sistema multilateral de que a paz é mais sólida e a segurança mais duradoura quando as mulheres estão envolvidas”.

Ela declarou que esse aniversário deve ser usado para “garantir que os próximos 25 anos proporcionem muito mais avanços do que os últimos 25”.

Sima Bahous destaca ainda que “o crescimento e a normalização da misoginia, que atualmente envenena a política e alimenta conflitos”, não devem ser encarados como  “inevitáveis”.

A chefe da ONU Mulheres também criticou cortes de financiamento que “corroem a chance de paz” em diversos contextos. 

Ela ressaltou que o que está em jogo são as oportunidades de educação para meninas afegãs; o atendimento médico para sobreviventes de estupro no Sudão e o acesso a alimentos para mães e crianças desnutridas em locais como Gaza, Mali e Somália, dentre outros exemplos.