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Modelo de mundo dominado por homens não deu certo, afirma escritora brasileira BR

Angelica Kalil, autora do livro “Bertha Lutz e a Carta da ONU” afirma que sem inclusão das mulheres em espaço de poder, haverá mais fracassos na história
Renato Parada
Angelica Kalil, autora do livro “Bertha Lutz e a Carta da ONU” afirma que sem inclusão das mulheres em espaço de poder, haverá mais fracassos na história

Modelo de mundo dominado por homens não deu certo, afirma escritora brasileira

Por Monica Grayley*
Assuntos da ONU

Angelica Kalil, autora do livro “Bertha Lutz e a Carta da ONU” afirma que sem inclusão das mulheres em espaço de poder, haverá mais fracassos na história; jornalista falou à ONU News sobre Dia Internacional das Mulheres na Diplomacia.

Neste 24 de junho, a ONU celebra o Dia Internacional das Mulheres na Diplomacia.

Entre 1992 e 2019, as mulheres representavam apenas 13% dos negociadores, 6% dos mediadores e 6% dos signatários em processos de paz em todo o mundo.

Exclusão prejudica todos

Até o ano passado, 113 países nunca haviam sido liderados por mulheres como chefe de Estado ou governo. Atualmente, apenas 27 nações têm mulheres nessa posição.

A ONU News conversou sobre o tema com a escritora e jornalista, Angelica Kalil.

Autora do livro “Bertha Lutz e a Carta da ONU”, ela afirma que o modelo de mundo, dominado por homens, fracassou. E que seguir excluindo as mulheres dos espaços de decisão, seja diplomacia ou na política, prejudica toda a humanidade.

“A gente não fala de excluir. A gente fala de incluir. Incluir as mulheres nos debates e nas tomadas de decisão. E por que que isso é importante? Porque a gente está vendo que nesse mundo, onde só os homens decidem é um mundo que está em colapso. Não deu certo esse modelo. Para que a gente se encaminhe para um mundo de paz, de igualdade, de respeito entre os povos, as mulheres precisam também estar nos espaços de decisão política e escolher também os rumos da humanidade.”

Autora do livro “Bertha Lutz e a Carta da ONU”, Angelica Kalil afirma que o modelo de mundo, dominado por homens, fracassou.
Jéssica Andrade
Autora do livro “Bertha Lutz e a Carta da ONU”, Angelica Kalil afirma que o modelo de mundo, dominado por homens, fracassou.

Bertha Lutz: uma das 4 redatoras da Carta da ONU

A diplomata e cientista brasileira Bertha Lutz foi uma das quatro mulheres que firmaram a Carta da ONU, em 26 de junho de 1945, na cidade de São Francisco, nos Estados Unidos.

Ao lado de mais três mulheres: Minerva Bernardino, da República Dominicana; Virginia Gildersleeve, dos Estados Unidos e da chinesa Wu Yi-Fang, ela foi responsável pela redação e inclusão de direitos de mulheres e homens no documento.

Oito décadas depois, a ONU Mulheres alerta que somente 21% dos representantes permanentes ou embaixadores nas Nações Unidas são mulheres. Pelo menos 73 países-membros nunca tiveram uma representante feminina junto à ONU.

Ao ser perguntada sobre o que Bertha Lutz diria hoje a respeito dessa falta de avanço das mulheres no poder, a escritora Angelica Kalil diz que a diplomata brasileira estaria engajada com direitos da mulher e defesa do planeta.

A diplomata e cientista brasileira Bertha Lutz na conferência de São Francisco, nos Estados Unidos.
ONU Photo/Rosenberg
A diplomata e cientista brasileira Bertha Lutz na conferência de São Francisco, nos Estados Unidos.

Estereótipos e violência política

“Eu acho que a Bertha estaria caminhando hoje para a defesa, para a união desse conceito de direitos das mulheres e de participação das mulheres na sociedade aliado à defesa do meio ambiente.”

O Dia Internacional das Mulheres na Diplomacia foi criado pela 76ª. Sessão da Assembleia Geral com o objetivo de eliminar as barreiras à liderança feminina na diplomacia.

O Conselho de Direitos Humanos e a ONU Mulheres destacam barreiras sistêmicas, incluindo discriminação, estereótipos de gênero e violência política, que continuam a excluir as mulheres da tomada de decisões de alto nível. As normas de gênero frequentemente confinam as mulheres a pastas "flexíveis", enquanto ministérios críticos permanecem dominados por homens e o número de gabinetes com equilíbrio de gênero e ministérios focados na igualdade está diminuindo.

ONU nunca teve mulher como secretária-geral

As mulheres representam 22,9% dos ministros em todo o mundo, com sub-representação em áreas-chave como relações exteriores e defesa.

As Nações Unidas nunca tiveram uma mulher como secretária-geral da organização. Em 80 anos de história, apenas cinco mulheres foram eleitas para a Presidência da Assembleia Geral.

*Monica Grayley é editora-chefe da ONU News Português