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Bloqueio de ajuda em Gaza completa dois meses com pior cenário já visto BR

Os habitantes de Gaza fazem fila para obter comida em janeiro de 2025
UNRWA
Os habitantes de Gaza fazem fila para obter comida em janeiro de 2025

Bloqueio de ajuda em Gaza completa dois meses com pior cenário já visto

Ajuda humanitária

Alimentos estão praticamente esgotados e acesso à água é impossível; crianças e idosos reviram lixo em busca de alimentos e materiais para cozinhar; hospitais não têm estoques de sangue para tratar feridos.

O bloqueio da entrada de ajuda humanitária em Gaza completou dois meses, com todos os pontos de passagem fechados pelas autoridades israelenses.

A decisão após o fim do cessar-fogo desencadeou o “pior cenário”, segundo o Escritório da ONU para Coordenação de Assuntos Humanitários, Ocha.

Sem reservas de sangue

Falando da Cidade de Gaza, a porta-voz da agência, Olga Cherevko, disse a jornalistas que os estoques de alimentos estão praticamente esgotados e o acesso à água se tornou impossível. Além disso, os hospitais estão ficando sem reservas de sangue.

Ela contou que vê todos os dias “crianças e idosos revirando pilhas de lixo” em busca de comida e de materiais para queimar, pois não há combustível para cozinhar.

Olga Cherevko relatou que uma amiga dela viu pessoas em chamas por conta de explosões e não havia água para salvá-las.

Tentativas de acabar com bloqueio

O Patient Friends Hospital, um hospital pediátrico na Cidade de Gaza, foi atacado várias vezes durante a guerra. Gaza está cada vez mais perto de ficar sem nenhuma energia.

Segundo a porta-voz, os agentes humanitários da ONU estão "em contato constante" com as autoridades israelenses e defendem a reabertura das travessias de fronteira.

Olga Cherevko ressaltou que as Nações Unidas têm mecanismos que mitigam o desvio de itens e garantem que a ajuda chegue às pessoas que precisam.

Em um apelo às autoridades israelenses, na quinta-feira, o subsecretário-geral da ONU de Ajuda Humanitária, Tom Fletcher, pediu o fim deste “bloqueio brutal” para que os profissionais humanitários salvem vidas.

Os casos de desnutrição entre crianças em Gaza estão a aumentar devido à falta de alimentos
UNRWA
Os casos de desnutrição entre crianças em Gaza estão a aumentar devido à falta de alimentos

Fugindo somente com a roupa do corpo

Fletcher reafirmou a necessidade urgente da libertação dos reféns feitos pelo Hamas em 7 de outubro de 2023, que “nunca deveriam ter sido tirados de suas famílias” e enfatizou que “a ajuda, e as vidas civis que ela salva, nunca deveriam ser uma moeda de troca”.

Olga Cherevko disse que, no último mês e meio, 420 mil pessoas foram, mais uma vez, forçadas a fugir e “muitas delas apenas com a roupa do corpo, alvejadas ao longo do caminho, chegando em abrigos superlotados, enquanto tendas e outras instalações estão sendo bombardeadas”.

Morte de jornalistas palestinos em ritmo “alarmante”

O Escritório de Direitos Humanos da ONU nos Territórios Palestinos marca o Dia Mundial da Liberdade de Imprensa, neste sábado, lembrando a realidade “sombria” de jornalistas mortos ou feridos em um “ritmo alarmante, com impunidade”.

O órgão verificou de forma independente o assassinato de 211 jornalistas em Gaza, desde 7 de outubro de 2023, incluindo 28 mulheres. De acordo com a Organização das Nações Unidas para Educação, Ciência e Cultura, Unesco, pelo menos 47 jornalistas perderam a vida em serviço.

A nota do Escritório de Direitos Humanos ressalta que os militares israelenses se recusam a permitir a entrada de jornalistas estrangeiros em Gaza, desde 7 de outubro de 2023, exceto para visitas limitadas controladas pelo Exército.

O comunicado adiciona que detenções, ameaças, maus-tratos e violência sexual contra jornalistas palestinos se enquadram em um padrão mais amplo de intimidação e difamação.