Perspectiva Global Reportagens Humanas

Visita de altos funcionários da ONU ressalta crise tripla em Moçambique BR

Crianças em uma estrada na cidade de Pemba, Moçambique, que foi devastada pelo ciclone Chido em dezembro de 2024
© Unicef/Guy Talor
Crianças em uma estrada na cidade de Pemba, Moçambique, que foi devastada pelo ciclone Chido em dezembro de 2024

Visita de altos funcionários da ONU ressalta crise tripla em Moçambique

Ajuda humanitária

País africano de língua portuguesa sofre com violência armada, impactos de ciclones e secas e dificuldades econômicas; milhões de pessoas precisam de assistência alimentar de emergência; comunidades clamam por paz duradoura, soluções habitacionais de longo prazo e educação para as crianças.

Moçambique enfrenta um desafio triplo, composto por conflitos, choques climáticos e deterioração econômica. Essa foi a conclusão de uma visita encerrada na semana passada ao país africano, realizada por altos funcionários humanitários das Nações Unidas.

Durante a visita, a secretária-geral adjunta para Assuntos Humanitários, Joyce Msuya, o diretor executivo adjunto do Programa Mundial de Alimentos, WFP, Carl Skau, fizeram reuniões com autoridades nacionais e locais.

Violência e ciclones afetaram mais de 1 milhão de moçambicanos

Eles também se encontraram com parceiros humanitários, funcionários da ONU, doadores e instituições financeiras internacionais, para discutir as necessidades urgentes do país.

A avaliação indica que os desafios complexos deixaram milhões de pessoas precisando de assistência alimentar de emergência.

Além disso, os combates contínuos, os impactos devastadores dos recentes ciclones tropicais e uma seca induzida pelo fenômeno El Niño exacerbaram a situação humanitária, com mulheres e meninas sendo desproporcionalmente afetadas.

Dados do Escritório da ONU para Coordenação de Assuntos Humanitários, Ocha, apontam que a escalada da violência no norte de Moçambique deslocou 715 mil pessoas, enquanto os ciclones Chido e Dikeledi afetaram 680 mil.

A vice-chefe da Ajuda de Emergência da ONU, Joyce Msuya
COP28/Mahmoud Khaled
A vice-chefe da Ajuda de Emergência da ONU, Joyce Msuya

Encontros com comunidades afetadas

Os altos funcionários das Nações Unidas viajaram para a província de Cabo Delgado, no norte do país, reunindo-se com a população nos distritos de Macomia, Pemba e Mecufi.

Nesses locais, os conflitos e choques climáticos devastaram serviços essenciais, infraestrutura básica e meios de subsistência.

Joyce Msuya relatou que os encontros com as comunidades deixaram claro que as principais prioridades são uma paz duradoura, soluções habitacionais de longo prazo e educação para as crianças.

Em Mecufi, os representantes da ONU visitaram um local de distribuição de alimentos apoiado pelo WFP, que é administrado por parceiros locais e está ajudando cerca de 5,3 mil pessoas que lutam para se recuperar da destruição causada pelo ciclone tropical Chido, em dezembro de 2024.

Apenas 3% do financiamento obtido

Carl Skau enfatizou que a crise em Moçambique requer mais atenção e que as pessoas precisam de ajuda para reconstruir suas vidas e resistir a “crises recorrentes”.

Ele citou encontros com famílias que foram arrasadas pelo conflito e depois perderam tudo que restava com a chegada do ciclone Chido, afirmando que esforços para fornecer alimentos precisam de mais apoio.

Apesar das crescentes demandas humanitárias, apenas 3% do valor total do financiamento solicitado para 2025, de US$ 619 milhões, foi alcançado.

Desse montante, o WFP precisa urgentemente de US$ 170 milhões para fornecer assistência vital nos próximos seis meses, para evitar uma crise de fome em grande escala.

Msuya observou que o financiamento humanitário global “está sob imensa pressão" e que o mundo não pode abandonar os moçambicanos neste momento crítico.