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Portugal “busca pontes” em fase crucial da negociação do Pacto para o Futuro

Rui Vinhas, embaixador de Portugal na ONU, conversou com Eleutério Guevane da ONU News
Missão de Portugal na ONU
Rui Vinhas, embaixador de Portugal na ONU, conversou com Eleutério Guevane da ONU News

Portugal “busca pontes” em fase crucial da negociação do Pacto para o Futuro

Assuntos da ONU

Embaixador português na ONU tem expectativa de que Pacto para o Futuro, ainda em discussão, venha a ser aprovado por líderes globais; para Rui Vinhas, eventual sucesso significará retomada de uma linha de multilateralismo com resultados.

Portugal diz estar “muito ativo” na fase final das negociações em andamento para a Cúpula do Futuro agendada para 22 de setembro na sede das Nações Unidas.

O evento em Nova Iorque deverá culminar com um acordo entre chefes de Estado e de governo em favor de reformas em vários fundamentos da cooperação global.

Busca de consensos

Para o embaixador português junto às Nações Unidas, Rui Vinhas, o momento atual é marcado pela busca de consensos para gerar um documento que venha a fazer a diferença na realidade contemporânea e das gerações futuras.

“E uma tentativa de que os Estados-membros possam consensualizar um documento que dê algumas respostas, para além da discussão que haverá entre todos os chefes de Estado e governo, que dê respostas aos grandes desafios do mundo, às lacunas que existem na governação global e isso será traduzido num Pacto sobre o futuro”.

Para Vinhas, a opção de Portugal nas discussões em curso é por um posicionamento construtivo sobre o principal texto da Cúpula do Futuro. O embaixador diz reconhecer a dificuldade da atual etapa para se gerar o Pacto para o Futuro, um dos três acordos esperados no evento. Os líderes globais também deverão adotar o Pacto Digital Global e a Declaração sobre Gerações Futuras.

“Este é quase que um duplo pacto, porque não só será um pacto selado entre os 193 Estados-membros das Nações Unidas, como é um pacto de alguma forma intergeracional. Porque é um pacto que nós deixamos para o futuro. Quase um legado, um mandato ou uma orientação para os anos que seguem. É evidente que estamos neste momento, como é conhecido, na fase mais difícil da negociação das Nações Unidas. São os 193 Estados-membros e é difícil chegar se a um consenso em textos que são politicamente muito relevantes. Mas, apesar de estarmos agora nos dias de grande dificuldade, nós da parte de Portugal, mantemos uma postura construtiva e temos esperança de que até ao início da cimeira se consiga chegar a um consenso e ter um documento. O tal documento será, ao ser conseguido, um momento alto desta abertura da 79ª Assembleia Geral.”

Experiência da influência e cooperação

Para as Nações Unidas, a convocação deste evento global busca enfrentar os problemas diretamente ligados às próprias instituições criadas para solucioná-los.

O diplomata ressaltou a experiência da intervenção e cooperação portuguesa em realidade marcada por conflitos, divisões geopolíticas, desigualdade e questões como pobreza e fome com as quais lida em entidades internacionais.

Pacto para o Futuro

“Há momentos e fases das negociações em que mais do que os países no plano nacional são os grupos. Portanto, o G77 e a União Europeia que também negoceia em nome de Portugal e dos 27 Estados-membros esses aspetos. Portugal tem estado não só na preparação da posição europeia, mas também nacionalmente muito ativo em muitas áreas, desde a paz e segurança, a questão do desenvolvimento sustentável e dos direitos humanos. Portugal tem estado aí bastante ativo e procurando também, como é o seu perfil tradicional, fazer pontes e dialogar com os países dos outros grupos, e com nações do Sul Global, na tentativa de se encontrar um chão comum que permita termos um documento de grande relevância política.”

Na expectativa de que o Pacto para o Futuro venha a ser aprovado, Rui Vinhas disse que o texto será um dos maiores acordos dos últimos anos, depois de terem sido adotados a agenda global e o Tratado do Alto-Mar, BBnj.

“O ano de 2015 foi dourado para o multilateralismo em que se aprovou a Agenda 2030, o plano de ação de Addis Abeba e o Pacto de Paris sobre o clima. Desde aí não tivemos, com a exceção Bbnj para a proteção dos oceanos, um momento tão importante como 2015. Achamos que se este ano tivermos o Pacto do Futuro podemos voltar a retomar uma linha de multilateralismo com resultados que correspondem aos anseios dos Estados-membros e dos cidadãos desses Estados”.

A Cúpula do Futuro pretende responder a novas ameaças globais que incluem a crise climática, a degradação ambiental e o uso de tecnologias como a Inteligência Artificial.

Vinhas defendeu ainda a abordagem transversal portuguesa em temas como paz e segurança, destacando a participação em operações das Nações Unidas que poderá ser ampliada.