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ONU verificou mais de 3,6 mil casos de violência sexual durante guerras em 2023

Relatório documenta como a violência sexual restringiu o acesso das mulheres aos meios de subsistência
© Unfpa Zambia/Jadwiga Figula
Relatório documenta como a violência sexual restringiu o acesso das mulheres aos meios de subsistência

ONU verificou mais de 3,6 mil casos de violência sexual durante guerras em 2023

Mulheres

Em relatório apresentado ao Conselho de Segurança, representante especial do secretário-geral para a Violência Sexual em Conflitos trouxe dados de Israel e Gaza, Sudão, Ucrânia, Haiti, Mianmar e a República Democrática do Congo; ela destacou que o crime é “cronicamente subnotificado e historicamente oculto”.  

As Nações Unidas alertam para um “aumento dramático” de 50% de casos de violência sexual em conflitos em 2023 em relação ao ano anterior. Os dados foram apresentados nesta terça-feira no Conselho de Segurança pela representante especial do Secretário-Geral para a Violência Sexual em Conflitos.

Pramila Patten destacou que as armas continuam fluindo para as mãos dos autores desses delitos e que a maioria das vítimas segue sem acesso a medidas reparação. 

32% das vítimas são crianças

Ao apresentar seu relatório anual ela afirmou que “a tarefa essencial e existencial que o mundo enfrenta é silenciar as armas e amplificar as vozes das mulheres como um grupo crítico para a paz”.

O relatório abrange ocorrências, padrões e tendências em 21 zonas de guerra, incluindo Israel e Gaza, Sudão, Ucrânia, Haiti, Mianmar e a República Democrática do Congo, RD Congo. 

Pramila Patten, a violência sexual perpetrada com impunidade continua a ser lucrativa na economia política da guerra
ONU/Manuel Elias

 

Pramila Patten disse que o aumento dos casos registados é particularmente alarmante em um contexto global onde o acesso humanitário permanece severamente restrito e limitado. 

Cerca de 95% dos casos envolveram mulheres e meninas. Em 32% das situações as vítimas foram crianças. Também foram identificados 21 casos tiveram como alvo lésbicas, gays, bissexuais, transexuais, queer e intersexuais. 

Crime subnotificado e oculto

Embora o relatório transmita a gravidade e a brutalidade destas ocorrências, ela sublinhou que não reflete a escala global ou a prevalência daquilo que é um crime “cronicamente subnotificado e historicamente oculto”. 

A representante especial explicou que por cada sobrevivente que se apresenta, “muitos outros são silenciados pelas pressões sociais, pelo estigma, pela insegurança, pela escassez de serviços e pelas perspectivas limitadas de justiça”. 

Situação em Israel e nos Territórios Palestinos Ocupados 

Pela primeira vez, o relatório contém uma seção dedicada a Israel e aos Territórios Palestinos Ocupados. 

Clima de insegurança física e alimentar interligadas levou muitas mulheres e meninas deslocadas à prostituição
© Unfpa Zambia/Jadwiga Figula

Na sequência dos ataques de 7 de outubro liderados pelo Hamas contra Israel, o governo convidou a relatora para visitar o país. 

Ela e sua equipe confirmaram que existem motivos razoáveis ​​para acreditar que a violência sexual relacionada com o conflito ocorreu em pelo menos três locais e foi cometida contra indivíduos mantidos como reféns. A avaliação ressaltou que os atos podem estar ainda ocorrendo.  

Pramila Patten também foi na Cisjordânia ocupada, para visitar as prisões israelenses onde estão mulheres e homens palestinos. De acordo com informações verificadas pela ONU, na sequência dos ataques de outubro houve casos frequentes de maus-tratos, incluindo formas de violência sexual. Alegações semelhantes surgiram em Gaza, acrescentou ela. 

Desespero econômico

O relatório documenta como a violência sexual restringiu o acesso das mulheres aos meios de subsistência e o acesso das meninas à educação em um contexto global de níveis recorde de deslocamento

A representante especial citou o leste da RD Congo, onde o clima de insegurança física e alimentar interligadas levou muitas mulheres e meninas deslocadas à prostituição “por puro desespero econômico”.

Entretanto, ela afirmou que “a violência sexual perpetrada com impunidade continua a ser lucrativa na economia política da guerra”. Por exemplo, os grupos armados no Haiti continuam a gerar receitas e a utilizar a ameaça de violência sexual para extorquir resgates ainda mais elevados.