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Mulheres da Guiné-Bissau conhecem seu potencial de liderança, diz ministra

Parlamento da Guiné-Bissau adotou uma quota de 36% de mulheres nas listas de candidaturas para cargos eletivos
Alexandre Soares
Parlamento da Guiné-Bissau adotou uma quota de 36% de mulheres nas listas de candidaturas para cargos eletivos

Mulheres da Guiné-Bissau conhecem seu potencial de liderança, diz ministra

Mulheres

Titular da pasta da Mulher, Família e Solidariedade Social disse à ONU News que ações de sensibilização elevaram a consciência feminina sobre importância de exercer postos de liderança; representante do país na CSW68 aponta a política como uma das áreas com mais discriminação e desigualdade.

A ministra da Mulher, Família e Solidariedade Social da Guiné-Bissau ressaltou que a consciência das guineenses do seu potencial de atingir os órgãos de decisão é uma grande vantagem.

Em Nova Iorque, Maria Inácia Mendes enfatizou a necessidade de cooperação internacional para impulsionar a liderança feminina em diversos setores. Seu apelo ocorreu durante a 68ª Sessão da Comissão sobre o Estatuto da Mulher, CSW68.

Sociedade “mais machista”

“Digo a todas as mulheres do mundo que nós devemos andar de mãos dadas, porque unidas somos mais fortes, para podermos reconquistar ou então conquistar. O mundo de início era um matriarcado. Portanto, a um determinado momento as mulheres perderam as suas posições. Os homens passaram a assumir a linha de frente. A sociedade tornou-se mais machista. Mulheres do mundo, de mãos dadas, vamos poder reconquistar ou conquistar a nossa posição como era no início da humanidade.”

Nas declarações feitas à ONU News, a representante guineense afirmou que um dos aspectos mais desafiadores em seu país é a resistência masculina em ceder espaço às mulheres para exercer posições de poder. 

“O que há de bom na Guiné-Bissau em relação à promoção dos direitos das mulheres é que após ações de sensibilização, de formação e de capacitação, as próprias mulheres já têm a consciência de que elas são capazes.  Já têm a consciência que elas devem lutar para conquistar as suas posições. Esta é uma mais-valia que existe na mentalidade feminina na Guiné-Bissau. Só que há resistência, porque também não é fácil. Quando uma pessoa ocupa um determinado lugar, para tirá-la desse lugar para colocar em outra posição, mostra-se resistência dos homens em relação às mulheres para estas poderem atingir os órgãos de decisão.”

A titular da pasta da promoção os direitos das mulheres disse que o grupo deve ter um lugar à mesa em todos os aspetos da vida política, econômica e social. 

Estereótipos ligados à posição social

Maria Inácia Mendes aponta como uma das prioridades na função mudar a mentalidade em relação aos estereótipos ligados à posição social das mulheres. No cenário político, uma guineense lidera um dos 20 partidos políticos. 

“A política é o setor onde mais se pode verificar este aspecto de discriminação e desigualdade em relação à mulher. Esse é um aspecto que vem de longe, desde a era colonial até após a independência. Nós podemos dizer que durante a luta de libertação nacional as mulheres lutaram lado a lado com os homens para a libertação nacional de Guiné-Bissau. Participaram na linha de frente do combate, transportaram munições e fizeram tudo durante a luta de libertação. Após a independência começou a surgir de novo o que havia na era colonial: começou a surgir novo aquele aspecto discriminatório quando chegou já no momento das oportunidades.  Chegou-se ao momento de oportunidades e há certas funções que se acham que as mulheres não podem ocupar. As mulheres foram relegadas para a posição subalterna.”

Em 2018, o Parlamento da Guiné-Bissau adotou uma quota de 36% de mulheres nas listas de candidaturas para cargos eletivos. O grupo representa 51,4% do total de 893.618 potenciais eleitores registrados no ano passado.