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Celebração de direitos humanos premia “visionários da mudança”

O 75º aniversário da Declaração Universal dos Direitos Humanos
ONU/Eskinder Debebe
O 75º aniversário da Declaração Universal dos Direitos Humanos

Celebração de direitos humanos premia “visionários da mudança”

Direitos humanos

Vencedores do Prêmio das Nações Unidas para os Direitos Humanos de 2023 são homenageados na Assembleia-Geral; presidente do órgão, Denis Francis, secretário-geral da ONU, António Guterres, e alto comissário de direitos humanos, Volker Turk discursaram na celebração realizada nesta sexta-feira. 

Durante 75 anos, a Declaração Universal dos Direitos Humanos tem servido para preencher as sociedades com equidade, liberdades fundamentais e justiça. 

Nesta sexta-feira, foi realizada na Assembleia Geral da ONU a cerimônia de entrega do prêmio para os Direitos Humanos de 2023, reconhecendo o trabalho de cinco ativistas, organizações e coalizões da sociedade civil que atuam como “emissários” da Declaração Universal. 

O secretário-geral da ONU, António Guterres, discursa na reunião informal por ocasião do 75º aniversário da Declaração Universal dos Direitos Humanos
ONU/Eskinder Debebe
O secretário-geral da ONU, António Guterres, discursa na reunião informal por ocasião do 75º aniversário da Declaração Universal dos Direitos Humanos

Novas ameaças e ódios antigos

Na abertura do evento, o secretário-geral da ONU, António Guterres, disse que a Declaração Universal dos Direitos Humanos é um apelo a agir de acordo com uma verdade fundamental: “que cada um de nós é um membro igual de uma única família humana”.

Segundo ele, o mundo precisa recordar essa sabedoria, pois atualmente “os direitos humanos estão sob ataque em todo o mundo”. 

Além da intensificação dos conflitos, com consequências terríveis para os civis., Guterres destacou que novas ameaças estão surgindo, desde desastres climáticos catastróficos até à inteligência artificial, que carrega um potencial imenso de possibilidades, mas também “imenso perigo”.

O secretário-geral afirmou também que “ódios antigos estão ressurgindo com força total, desde o racismo à xenofobia e à intolerância religiosa”.

Ele sublinhou que em todo o mundo, os defensores dos direitos humanos “são luzes na escuridão” e estão mudando vidas “para tornar os direitos humanos uma realidade viva e vibrante”.

Aumento de mortes e desaparecimentos

Guterres lembrou que este é um trabalho “profundamente perigoso”, ressaltando que no ano passado, quase 450 defensores dos direitos humanos, jornalistas e sindicalistas foram mortos, um aumento de 40% em relação ao ano anterior. 

Além disso, 33 desapareceram sem deixar vestígios, um aumento impressionante de 300% em relação a 2021.

O chefe das Nações Unidas enfatizou que este prêmio reconhece as conquistas dos defensores dos direitos humanos desde 1968 e já homenageou figuras como Nelson Mandela, Malala Yusafzai e o Comitê Internacional da Cruz Vermelha.

Guterres prestou homenagem a cada um dos ganhadores do prêmio pelo “trabalho extraordinário, humanidade e coragem”.

Os vencedores deste ano foram o Centro de Direitos Humanos “Viasna”, sediado na Belarus, Julienne Lusenge da República Democrática do Congo, o Centro de Estudos de Direitos Humanos de Amã da Jordânia, Julio Pereyra do Uruguai e a Coalizão Global de organizações da sociedade civil, povos indígenas, movimentos sociais e comunidades locais que pautaram o direito a um “meio ambiente limpo, saudável e sustentável”. 

Força formidável

O presidente da Assembleia Geral, Denis Francis, disse que a edição de 2023 do prêmio reconhece o papel fundamental das organizações da sociedade civil e dos defensores dos direitos humanos.

Ele lembrou que a Declaração Universal dos Direitos Humanos nasceu “das cinzas dos capítulos mais sombrios da humanidade, o Holocausto, as sombras de duas guerras mundiais e as vidas roubadas que ficaram no seu rastro”.

Francis afirmou que o texto “permanece como uma pedra angular duradoura, com a sua relevância e universalidade reverberando pelos corredores do tempo”.

O líder do órgão deliberativo da ONU destacou a força “formidável” que os direitos humanos carregam, enfatizando a sua inalienabilidade, indivisibilidade, inseparabilidade e interligação.

Sobre os desafios atuais, ele alertou para as crises e conflitos interligados que prejudicam a concretização dos direitos humanos e perturbam a própria essência do sistema multilateral.

Francis lamentou que 75 anos após a adoção da Declaração, milhões de pessoas em todo o mundo continuam a suportar a negação dos seus direitos humanos mais básicos, mas afirmou que os princípios presentes nela devem continuar a ser a “estrela norteadora”.

Proteção para os “visionários da mudança”

Também presente na cerimônia, o alto comissário da ONU para os Direitos Humanos, Volker Turk, disse que o prêmio é uma oportunidade de celebrar os defensores de direitos humanos e “o enorme valor que trazem para a sociedade”.

Segundo Turk, esses defensores são emissários da Declaração Universal e “visionários da mudança, que enxergam um futuro melhor para todos e sabem como torná-lo realidade.”

No entanto, ele ressaltou múltiplos riscos enfrentados por esses ativistas, que incluem difamação, assédio, restrições legais, prisão, desaparecimento forçado, tortura e até morte.

“Para as mulheres, os riscos são ainda maiores, pois se tornam alvo por causa do seu trabalho e do seu gênero”, adicionou. 

O alto comissário pediu aos Estados-membros e a toda a comunidade internacional que nesse aniversário de 75 anos reforcem o compromisso com a proteção desses defensores para que possam trabalhar com segurança, livres de ameaças e agressões.