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Conselho de Direitos Humanos aprova resolução contra ódio religioso

Alto comissário da ONU para os Direitos Humanos, Volker Türk, à direita, discursa na abertura da 53ª Sessão do Conselho de Direitos Humanos
ONU/Petre Oprea
Alto comissário da ONU para os Direitos Humanos, Volker Türk, à direita, discursa na abertura da 53ª Sessão do Conselho de Direitos Humanos

Conselho de Direitos Humanos aprova resolução contra ódio religioso

Direitos humanos

Tema foi pauta de debate urgente após episódios de depredação de símbolos da fé islâmica; ONU manifesta preocupação com aumento de atos premeditados e públicos que incitam à discriminação, hostilidade ou violência; chefe de direitos humanos das Nações Unidas, Volker Turk, destaca preocupação com polarização.

O Conselho de Direitos Humanos das Nações Unidas adotou, nesta quarta-feira, uma resolução que condena e rejeita a intolerância religiosa. O texto, intitulado "combate ao ódio religioso que constitui incitamento à discriminação, hostilidade ou violência" foi aprovado por 28 votos a favor, 12 contra e 7 abstenções. 

A votação ocorreu logo após um debate urgente que teve como tema “o aumento alarmante de atos premeditados e públicos de ódio religioso, manifestados pela profanação recorrente do Corão Sagrado em alguns países europeus e outros”.

Responsabilização sob leis internacionais

O texto da resolução enfatiza a necessidade de que os autores de atos como a queima do Corão “sejam responsabilizados e prestem contas ​​de maneira consistente com as obrigações dos Estados sob as leis internacionais de direitos humanos.”

Durante o debate, na terça-feira, o alto comissário de Direitos Humanos da ONU, Volker Turk, disse que o abuso ou destruição das “crenças mais íntimas” podem resultar em “polarização das sociedades e agravamento de tensões”. 

Para Turk, os episódios de raiva e provocação “transformam diferenças de perspectiva em ódio, e, ocasionalmente, em violência”. Ele lembrou que o Corão é a base da fé para mais de um bilhão de pessoas ao redor do mundo.

A resolução enfatiza também que a Assembleia Geral da ONU decidiu por unanimidade declarar o 15 de março como Dia Internacional de Combate à Islamofobia. A data foi celebrada pela primeira vez este ano. 

O homem lê o livro sagrado islâmico, o Corão
Unsplash/Rachid Oucharia
O homem lê o livro sagrado islâmico, o Corão

Uso político do discurso de ódio

De acordo com o chefe de Direitos Humanos da ONU, muitas sociedades estão se deparando com o “uso conflituoso das diferenças religiosas para fins políticos”. Ele alertou para estratégias baseadas na “enganação e instrumentalização” das diferenças, que resultam em divisão entre as pessoas. 

Turk sublinhou que o discurso de ódio surge do uso de linguagem pejorativa e preconceituosa ligada a qualquer fator inerente à identidade de uma pessoa ou grupo, inclusive a religião.

Para ele, líderes políticos e religiosos têm um papel crucial a desempenhar, se manifestando “de forma clara, firme e imediata contra o desrespeito e a intolerância.”

Aumento de atos públicos de intolerância

A relatora especial da ONU sobre Liberdade de Religião ou Crença, Nazila Ghanea, disse que atos públicos de intolerância estão aumentando ao redor do mundo e “são mais comuns em tempos de tensão política, como eleições”. 

Ela afirmou que as “exibições públicas e planejadas de intolerância” pretendem instrumentalizar a religião para “fomentar o ódio”. Ghanea condenou, em nome do Comitê de Coordenação dos Procedimentos Especiais da ONU, esses atos “onde quer que ocorram e independente de quem seja o instigador.”

O texto da resolução aprovada apela aos Estados para que adotem e implementem leis e políticas nacionais que abordem, previnam e punam atos e incitações ao ódio religioso.