Perspectiva Global Reportagens Humanas

Ao receber Prêmio Carlos V, Guterres diz que mundo precisa curar divisões

O secretário-geral António Guterres recebe o Prêmio Europeu Carlos V das mãos do Rei Felipe VI pela sua extensa e longa carreira dedicada ao compromisso social
Juan Carlos Rojas
O secretário-geral António Guterres recebe o Prêmio Europeu Carlos V das mãos do Rei Felipe VI pela sua extensa e longa carreira dedicada ao compromisso social

Ao receber Prêmio Carlos V, Guterres diz que mundo precisa curar divisões

Assuntos da ONU

Cerimônia presidida pelo Rei da Espanha reconhece dedicação de líder da ONU no enfrentamento de crises globais; em discurso, António Guterres pede cura das divisões, paz com a natureza e foco no senso comum de humanidade.

O secretário-geral das Nações Unidas, António Guterres, recebeu o Prêmio Europeu Carlos V, atribuído pela Academia Europeia e Ibero-Americana da Fundação Yuste.

A cerimônia foi realizada nesta terça-feira na Espanha, presidida pelo Rei Felipe VI. O evento contou ainda com a presença do presidente de Portugal Marcelo Rebelo de Sousa e do primeiro-ministro António Costa.

O secretário-geral António Guterres recebe o Prêmio Europeu Carlos V das mãos do Rei Felipe VI pela sua extensa e longa carreira dedicada ao compromisso social
Juan Carlos Rojas
O secretário-geral António Guterres recebe o Prêmio Europeu Carlos V das mãos do Rei Felipe VI pela sua extensa e longa carreira dedicada ao compromisso social

“Paz ilusória e frágil”

Em seu discurso de aceitação, Guterres disse que receber o prêmio em nome de todo o trabalho das Nações Unidas é um “motivo de orgulho ainda maior”.  Ele lembrou que tanto a ONU como a União Europeia foram criadas em nome da paz, “após o horror de duas grandes guerras”.

O chefe das Nações Unidas afirma que a paz é “ilusória e frágil”, e que a violência está crescendo em várias regiões do mundo. Ele mencionou que regiões inteiras como o Oriente Médio e o Sahel estão sendo arrasadas por conflitos prolongados que parecem “não ter fim à vista”.

Na sua 16ª edição, o júri decidiu atribuir a honraria ao líder na ONU pelo seu “comprovado, extenso e duradouro percurso de vida” dedicado ao compromisso social, ao processo de integração europeia, à promoção do multilateralismo e à dignidade humana, abordando desafios e crises globais.

Ao mencionar o conflito no Sudão, o chefe da ONU que a situação está se deteriorando “dramaticamente” da noite para o dia.

Uma escola na cidade de Al-Geneina, no estado de Darfur Ocidental, que servia como abrigo para deslocados, foi totalmente queimada em meio à crise em andamento no Sudão
Mohamed Khalil
Uma escola na cidade de Al-Geneina, no estado de Darfur Ocidental, que servia como abrigo para deslocados, foi totalmente queimada em meio à crise em andamento no Sudão

“Agir pelo planeta é agir pela paz”.

Para Guterres, num mundo que está se desintegrando, é preciso curar as divisões, evitar a escalada e ouvir as queixas. De acordo com ele, em vez de balas, o mundo precisa de “arsenais diplomáticos”.

Para o líder da ONU, as atuais guerras e crises “são mais complexas e interconectadas, e o seu impacto cresce a cada dia”. Ele também enfatizou que a paz duradoura só será alcançada com ampla participação e liderança de mulheres na tomada de decisões.

Guterres disse que a humanidade precisa entrar em paz com a natureza, caso contrário a sobrevivência de todos estará em risco. Segundo ele, o atual caos climático está desencadeando incêndios, inundações, secas e outros eventos climáticos extremos em todos os continentes.

A consequência é o deslocamento de “milhões de pessoas que muitas vezes precisam buscar refúgio em países e comunidades igualmente vulneráveis”. O líder da ONU disse que a crise climática exacerba tensões e desencadeia conflitos. Portanto, “agir pelo planeta é agir pela paz”.

A poluição do ar causada pelas usinas de energia contribui para o aquecimento global
Unsplash/Marek Piwnicki
A poluição do ar causada pelas usinas de energia contribui para o aquecimento global

Xenofobia, racismo e extremismo

Durante seu discurso, o líder da ONU abordou também a questão dos direitos humanos, no ano em que se comemora o 75º aniversário da Declaração Universal dos Direitos Humanos.

Guterres lembrou que os direitos e liberdades civis, políticas, econômicas e sociais estão sendo “corroídas” e que os princípios democráticos e o estado de direito são “frequentemente atacados e minados.” Ele disse que diante da crescente xenofobia, racismo e extremismo, “devemos defender nossa humanidade comum”.

O Prêmio Europeu Carlos V reconhece a contribuição de pessoas, organizações, projetos ou iniciativas que tenham contribuído para o conhecimento geral e promoção dos valores culturais e históricos da Europa ou para o processo de integração da União Europeia.