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ONU Mulheres pede “alerta máximo” no Sudão para impedir crimes sexuais

Uma viúva sul-sudanesa, cujo marido foi morto um dia depois de ela dar à luz seu filho mais novo, é agora o único provedor de sua família
PMA/Gabriella Vivacqua
Uma viúva sul-sudanesa, cujo marido foi morto um dia depois de ela dar à luz seu filho mais novo, é agora o único provedor de sua família

ONU Mulheres pede “alerta máximo” no Sudão para impedir crimes sexuais

Mulheres

Desde que conflito eclodiu em 15 de abril, 334 mil pessoas se tornaram deslocadas internas e 100 mil fugiram do país; sudanesas estão expostas a riscos de violência sexual e de gênero; redes criadas por mulheres ajudam na oferta de serviços e bens essenciais.

No Sudão, os combates continuam causando grande impacto na população. A Organização Mundial da Saúde, OMS, alerta que muitos morrerão por falta de serviços essenciais e por potenciais surtos de doenças.

Já a Organização Internacional para Migrações, OIM, estima que mais de 334 mil pessoas foram deslocadas dentro do país desde que o conflito eclodiu há mais de duas semanas. Por sua vez, a Agência da ONU para Refugiados, Acnur, calcula que, até agora, mais de 100 mil pessoas fugiram para os países vizinhos.

Pessoas deslocadas pelo conflito no Sudão fazem fila para receber ajuda na chegada ao Chade
Acnur/Colin Delfosse
Pessoas deslocadas pelo conflito no Sudão fazem fila para receber ajuda na chegada ao Chade

Risco de violência sexual

Em entrevista à ONU News, de Dacar, no Senegal, a coordenadora da ONU Mulheres no Sudão, Adjaratou Fatou Ndiaye, comentou as ações para aliviar o sofrimento da população feminina. Segundo ela, as mulheres estão expostas a altos riscos para cuidar de suas famílias.

“Todos sabemos que em período de guerra há maior risco de violência de gênero e sexual. E todos lembramos a incidência de violações graves dos direitos das mulheres e da enorme quantidade de violência sexual que ocorreu durante a primeira guerra de Darfur”.

De acordo com ela, a comunidade internacional precisa estar em “alerta máximo” durante este conflito para impedir violações contra mulheres. A coordenadora lembra que a população feminina tem um papel importante em serviços de cuidado e na resposta humanitária.

Fatou Ndiaye comentou que a ONU Mulheres apoia uma rede de colaboração, criada pelas sudanesas, chamada Sudão Pacífico. A iniciativa ajuda na distribuição de comida e assistência médica. A troca de informações facilita ainda a denúncia de casos de violência de gênero.

Uma mãe e seu filho sentam-se em uma cama com mosquiteiros tratados com inseticida de longa duração (LLINs) distribuídos pelo Unicef e parceiros no estado de Kassala, Sudão
Unicef/Mojtba Moawi Mahmoud
Uma mãe e seu filho sentam-se em uma cama com mosquiteiros tratados com inseticida de longa duração (LLINs) distribuídos pelo Unicef e parceiros no estado de Kassala, Sudão

Redes de colaboração

As jovens do país também contam com apoio da agência para criar aplicativos que podem ajudar com informações sobre focos de violência e rotas seguras de migração.

Para a coordenadora, num contexto de interrupção dos serviços, as mulheres estão fornecendo dados importantes para garantia de cuidados essenciais. Ela reforçou o apelo pela pacificação do país.

“Não há desenvolvimento sem paz e o povo do Sudão já sofreu por tempo demais.”

O Escritório de Assuntos Humanitários da ONU, Ocha, informou que apenas 14% do apelo para o Sudão foi entregue. O montante de 1,75 bilhão está longe de ser alcançado, deixando o Plano de Resposta Humanitária subfinanciado.

Escassez de fundos

A resposta humanitária no país já estava em curso antes da escalada da violência, que começou em 15 de abril. Mesmo com a escassez de fundos, as operações continuam principalmente com serviços de saúde e nutrição nas áreas onde a segurança ainda permite a entrega de auxílio.

O coordenador de Assistência Humanitária da ONU, Martin Griffiths, foi enviado à África para discutir o apoio aos sudaneses. Nesta segunda-feira, ele se reuniu com o presidente do Quênia, William Ruto, e com a ministra das Relações Exteriores, Mélanie Joly, em Nairóbi.

O coordenador humanitário das Nações Unidas destacou que ambas as partes do conflito devem proteger a população e a infraestrutura civil. Ele apelou pela garantia da passagem segura para civis que fogem de áreas de violência e pelo respeito aos trabalhadores humanitários.