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Brasil integra colaboração sul-sul para produção de vacinas de mRNA

Mulheres da equipe técnica trabalham no centro de transferência de tecnologia de vacina mRNA na África do Sul
MPP/OMS/Rodger Bosch
Mulheres da equipe técnica trabalham no centro de transferência de tecnologia de vacina mRNA na África do Sul

Brasil integra colaboração sul-sul para produção de vacinas de mRNA

Saúde

Encontro realizado na África do Sul reforça rede de produtores que compartilham tecnologias entre si para superar desigualdades globais; representante do Brasil no evento comenta a contribuição do país com vacina inovadora.

Mais de 200 participantes internacionais estão reunidos na Cidade do Cabo na África do Sul, até esta sexta-feira. Este é o primeiro encontro presencial do Programa de Transferência de Tecnologia mRNA, conhecido como hub de mRNA.

O diretor-geral da Organização Mundial da Saúde, OMS, Tedros Ghebreyesus participa do evento. O objetivo é analisar o progresso da iniciativa de colaboração entre países em desenvolvimento, lançada em junho de 2021.

Vice-diretor da Biomanguinhos/Fiocruz fala sobre compartilhamento de tecnologia para vacinas

Superando a dependência

O vice-diretor de Desenvolvimento Tecnológico da Biomanguinhos/Fiocruz, Sotiris Missailidis, falou à ONU News da Cidade do Cabo. Ele avalia que foram feitos avanços importantes para o desenvolvimento de novas vacinas de mRNA, tecnologia considerada promissora.

“Primeiro, a identificação dos alvos de interesse das doenças infecciosas e não infecciosas que poderiam aproveitar essa vacina de mRNA. Além disso, parcerias para o co-desenvolvimento, para trazer esse tipo de vacina para questões de saúde pública importantes para a América Latina, para a África e para a Ásia. Isso seria muito importante para a sustentabilidade do hub e para sair um pouco da dependência só das grandes farmacêuticas que dominam esse mercado.”

Missailidis mencionou que o Brasil tem um projeto avançado de desenvolvimento de uma vacina própria de mRNA em Biomanguinhos/Fiocruz. Ele afirma que os resultados pré-clínico são promissores.

O vice-diretor disse que o desenvolvimento da tecnologia tinha como alvo inicial o tratamento de câncer, mas o projeto foi adaptado para responder à Covid-19.

 O diretor da OMS, Tedros Ghebreyesus, à direita, e o ministro belga do Desenvolvimento, Meryame Kitir, visitam o Biovac, um centro de vacinas da OMS na Cidade do Cabo, África do Sul
OMS/MPP/Rodger Bosch
O diretor da OMS, Tedros Ghebreyesus, à direita, e o ministro belga do Desenvolvimento, Meryame Kitir, visitam o Biovac, um centro de vacinas da OMS na Cidade do Cabo, África do Sul

Contornando a barreira das patentes

Ele comentou que a equipe do laboratório brasileiro usou abordagens e insumos diferenciados para que a vacina possa ser utilizada sem ser restringida “pelas patentes atuais.”

“Nosso interesse era participar, colaborar e transferir nossa tecnologia para outros países dessa rede de colaboração dentro dos hubs. A gente espera contribuir muito com essa vacina, porque é uma vacina diferentes e seus resultados de estudo clínico são promissores, são positivos. Possivelmente, vai ser uma vacina que poderá ser usada até mesmo em países onde há maior restrições de patentes da Moderna ou da Pfizer.”

A pandemia de Covid-19 destacou que existe uma grande desigualdade no acesso a produtos de saúde, especialmente vacinas.

Em março de 2023, mais de três anos após a OMS declarar a Covid-19 uma Emergência de Saúde Pública de Interesse Internacional, 69,7% da população global havia recebido pelo menos uma dose de uma vacina. Essa proporção ainda permanece abaixo de 30% em países de baixa renda (LICs).

Durante o evento, a empresa sul-africana Afrigen inaugurou sua unidade produtiva de vacina de mRNA. Os participantes da reunião incluem produtores de 15 países.