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Relatores dizem que obrigação do uso do véu no Irã é “perseguição de gênero”

Garota vestindo hijab no Irã passa correndo por um mural que diz, em persa, “Deus ama as crianças que dizem suas ‘namaz’ [orações]”. (Arquivo)
Unicef/Aslan Arfa
Garota vestindo hijab no Irã passa correndo por um mural que diz, em persa, “Deus ama as crianças que dizem suas ‘namaz’ [orações]”. (Arquivo)

Relatores dizem que obrigação do uso do véu no Irã é “perseguição de gênero”

Direitos humanos

Em comunicado, grupo relembrou caso da jovem Mahsa Amini, de 22 anos, morta em setembro, sob custódia policial, após ser presa por não usar o hijab “corretamente”.

Leis repressoras de obrigação do uso do véu por mulheres no Irã são “medidas draconianas” e uma expressão de “perseguição baseada em gênero”. Esta é a opinião de um grupo de cinco relatores* de direitos humanos.

Meninas e mulheres que não cumprem as leis “compulsórios do país” na utilização do hijab estão sujeitas a medidas punitivas e restritivas.

Mahsa Amini

Em comunicado, os especialistas alertaram que as leis levarão a níveis inaceitáveis de violações dos direitos das mulheres no Irã.

Três mulheres foram nomeadas para integrar a Comissão de Apuração dos Fatos sobre o Irã, formada pelo Conselho de Direitos Humanos.
Unsplash/Neil Webb
Três mulheres foram nomeadas para integrar a Comissão de Apuração dos Fatos sobre o Irã, formada pelo Conselho de Direitos Humanos.

Os relatores afirmaram que é “profundamente preocupante que depois de meses e de protestos de rua em todo o país”, que surgiram com a morte da jovem Mahsa Amini, em setembro, sob custódia policial, as iranianas continuem enfrentando medidas duras e coercitivas pelas autoridades do Estado.

Uma das críticas é o fato de as leis sobre o véu fazerem parte do Código Penal iraniano, o que dá a forças de segurança o direito de sujeitar as mulheres a prisões arbitrárias. A elas é negado o acesso a instituições públicas incluindo hospitais, escolas, repartições públicas e aeroportos quando não cobrem o cabelo.

“Decência pública”

A recusa de usar o véu é criminalizada e considerada uma violação do direito à liberdade de expressão de mulheres e meninas. A medida também dá margens a outras violações de direitos civis, culturais, políticos e econômicos.

Os relatores lembram que sob a versão atual do Código Penal do Irã, qualquer ato considerado “ofensivo à decência pública” é punido com 10 dias a 2 meses de prisão ou 74 chibatadas.

Mulheres vistas em público sem o véu podem receber sentenças de 10 dias a dois meses na prisão ou uma multa. A lei se aplica a meninas a partir de nove anos, a idade penal mínima.

Na prática, qualquer menina a partir de sete anos, a idade em que começa a estudar, tem de usar o véu.

Para os relatores da ONU, as medidas discriminam as mulheres e são degradantes. Elas também permitem ao Judiciário do país a deter meninas e mulheres que não cumprem as regras do véu. Se pegas na infração, elas têm de assinar um termo prometendo jamais “repetir a ofensa”.

Uma mulher de hijab caminha pelas ruas de Teerã, a capital iraniana.
Unsplash/Amir Hosseini
Uma mulher de hijab caminha pelas ruas de Teerã, a capital iraniana.

“Véu e castidade”

Quem se recusa a assinar, é colocado sob vigilância e observação por seis meses e pode esperar castigos e punições, que vão desde a não poder sair do país até a ser excluído de postos no governo ou setor público por um ano.

E o Ministério da Educação Iraniano já anunciou que a estudante que não obedecer as regras do véu e da castidade não poderá mais estudar.

Os relatores da ONU conclamaram as autoridades do Irã para mudar a Constituição e a repelir as leis discriminatórias abolindo todas as regras que ditam como as mulheres devem se vestir ou se comportar em casa e na rua e que são monitoradas e controladas pelas autoridades iranianas.

*Os relatores de direitos humanos são independentes das Nações Unidas e não recebem salário