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Homens precisam entender significado do consentimento, diz fundadora do “Me Too”, no Brasil

Menina verifica seu smartphones nas Filipinas
Unicef/UN014974/Estey
Menina verifica seu smartphones nas Filipinas

Homens precisam entender significado do consentimento, diz fundadora do “Me Too”, no Brasil

Mulheres

Marina Ganzarolli participou da 67ª sessão da Comissão sobre o Estatuto da Mulher, CSW, na sede das Nações Unidas em Nova Iorque; movimento global atende vítimas de violência e assédio sexual; brasileira destaca avanços e desafios trazidos pelas novas tecnologias.

A fundadora do Me Too no Brasil, Marina Ganzarolli, esteve na sede das Nações Unidas em Nova Iorque para participar de discussões da 67ª sessão da Comissão sobre o Estatuto da Mulher, CSW.

Um dos debates foi sobre como engajar os homens na luta para combater a violência contra as mulheres. Nesta entrevista à ONU News, ela diz que eles são parte fundamental desse processo.

Homens precisam entender significado do consentimento, diz fundadora do “Me Too”, no Brasil

“Não adianta pregar para convertidos”

“Há um painel muito bacana falando sobre como conseguimos garantir o engajamento dos homens nessa conversa. E a gente está sempre falando sobre isso aí: não adianta a gente ficar pregando para convertidos. A gente fala muito com as meninas, com as mulheres, quais são seus direitos e como buscar ajuda. Mas, por outro lado, a gente precisa falar com os homens sobre o que são limites, sobre o que é consentimento e sobre que masculinidades queremos construir e que paternidade queremos construir. Então, esse foi um painel bastante interessante, trazendo estratégias e perspectivas de convencimento e engajamento deles.”

O Me Too é um movimento global que busca ajudar vítimas de violência sexual a romperem o silêncio. Ao lado de outras entidades, Marina Ganzarolli participou dos eventos do Pacto Global da ONU, que reúne empresas e organizações em busca dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável.

A fundadora explica como o tema da CSW deste ano, focado na participação justa e segura das mulheres e meninas no espaço virtual, se conecta com o trabalho feito pela entidade.

Fundadora do Me Too Brasil, Marina Ganzarolli
Me Too Brasil
Fundadora do Me Too Brasil, Marina Ganzarolli

Covid-19 e violência doméstica no Brasil

“O tema dessa CSW, para nós, é extremamente importante e afinado com a nossa missão, precisamente porque o Me Too Brasil surge em um contexto de pandemia de Covid-19, em que vimos a violência doméstica, intrafamiliar e sexual e escalonar não só no Brasil mas em todo o mundo e ao mesmo tempo com as vítimas isoladas, sem poderem acessar os equipamentos públicos de saúde e segurança.”

O objetivo do movimento Me Too Brasil é amplificar a voz de sobreviventes, dar visibilidade aos relatos de abuso sexual e suporte para meninas e mulheres.

Como Marina Ganzarolli explica, durante os momentos mais críticos da pandemia, a entidade disponibilizou ferramentas online para garantir que as vítimas pudessem buscar apoio.

“O Me Too no Brasil utiliza uma ferramenta que só é possível graças à inovação tecnológica para acessar essa vítima, acessar essa sobrevivente e viabilizar o acolhimento adequado e o encaminhamento aos equipamentos que podem seguir com o processo ou com um tratamento de saúde que seja necessário. Quando a gente traz o tema da inovação tecnológica, da educação na era digital, para o empoderamento de meninas e mulheres e de como a gente consegue usar as ferramentas que a era digital nos traz para o enfrentamento da violência contra a mulher e para o avanço dos direitos humanos é precisamente esse o lado positivo da internet e dos recursos tecnológicos nessa luta, nessa bandeira.”

Violência online tem uma série de repercussões: nove entre 10 mulheres confirmam que prejudica seu senso de bem-estar
Unfpa/Alys Tomlinson
Violência online tem uma série de repercussões: nove entre 10 mulheres confirmam que prejudica seu senso de bem-estar

Violência online

A fundadora do Me Too no Brasil destacou os dois lados dos avanços tecnológicos. Enquanto as plataformas descomplicam a busca por ajuda, elas também criam outros tipos de crimes.

Marina Ganzarolli explica como o surgimento de violência online movimentou no Brasil a necessidade de novas legislações.

“Temos um outro lado: acompanhamos ao longo da última década também o desenvolvimento de outras formas de coação, de constrangimentos e violência que se usam dos recursos digitais para fazê-lo. Assim como no Brasil, tivemos a tipificação, inclusive, de vários novos crimes, como a disseminação não consentida de imagens, a famosa pornografia de revanche ou a extorsão, mas, por outro lado, a tecnologia também permite a disseminação de conhecimento sobre direitos humanos das mulheres e o acolhimento e a ajuda, usando os recursos da Web.”

A fundadora do Me Too no Brasil afirma que o WhatsApp, muito utilizado no país, é uma das principais ferramentas no atendimento de vítimas, que por vezes, ficam isoladas, têm medo ou desconfiança do sistema de justiça.

Ação conjunta

Marina Ganzarolli concluiu afirmando que enxerga a interação entre os diversos setores da sociedade como fundamental para garantir uma resposta eficaz para a violência contra as mulheres.

Além de debates sobre a inclusão digital e econômica das mulheres no combate à violência com uma perspectiva para todo o Sul Global, Marina Ganzarolli conta que a Rede Brasil do Pacto Global também trouxe outras questões sociais que precisam ser consideradas, como raça, orientação sexual, identidade de gênero, e idade.

O Me Too Brasil possui um Conselho Consultivo que conta com nomes como Ana Amélia Teles, vítima de violência durante o período da ditadura no Brasil, e Silvia Pimentel, que presidiu a Comissão da ONU sobre Violência contra Mulheres, Cedaw.